domingo, 10 de maio de 2009

"E tu tem filho?"

Era perto de 18h, quando recebi uma ligação de uma grande amiga. Daquelas que, mesmo distante fisicamente, faz questão de se fazer presente, nos dias e momentos mais importantes.

Ela disse que estava ligando para me dá parabéns e completou: “porque eu acho que madrasta também é um pouco mãe, né?”. Na hora, me surpreendi e, além de agradecer, disse que ela era a primeira pessoa que me falava isso hoje. Desliguei o telefone bem reflexiva... na verdade, acho mesmo que estou bem mais reflexiva que o normal e isso não é bom.

Na hora, passou um filme na minha cabeça. O quanto essa relação Edna-Gabi já foi dolorosa, para mim, e o quanto também é prazerosa. Pensei em todo investimento afetivo que fiz e também que, certamente, ela precisou fazer. Afinal de contas, precisou aceitar uma “Tia Edna” na vida dela. Pensei nos momentos mais difíceis... e foram tantos. Como foi difícil o encontro da minha história, de tudo que já vivi, com a dela... e tudo que ela ainda poderia viver. Tentei ser cuidadosa... não estar tão perto e nem tão longe. Segui procurando meio-termos e sei que não consegui encontra-los. Entre o “hora demais” e o “hora de menos”, escolhi o demais. E, sem dúvida, isso deve me ter feito atropelar algumas coisas, pessoas... acho mesmo que atropelei a mim.

Quando desliguei o telefone e depois de todo esse filme, que em segundos passou pela minha cabeça, Lucas me pergunta o que Nara queria, ao telefone. E eu apenas disse que ela ligou pra me dar os parabéns. Foi aí que me surpreendi com uma frase que mais do que uma brincadeira, em um português mal falado, foi para mim disparadora de tantas outras reflexões: “E tu tem filho?”.

Claro que a frase de Lucas me fez muito refletir... refletir sobre os lugares que me coloco, sobre as coisas que assumo... mesmo sem ninguém pedir. O mais interessante é isso! Ninguém me pede, ninguém me cobra, mas eu dou... dou porque aprendi a amá-la sim, e de forma muito intensa. Pode parecer estranho... e confesso que, às vezes, também é estranho pra mim.

Não! Realmente não tenho! E, se tem alguma coisa que a Gabi não falta é mãe. Posso até dizer que sobra! Tem a sorte de ter uma mãe que é uma referência de dedicação, abdicação, valores e bom senso (o que é muito difícil nos dias de hoje!). Também não quero ser sua mãe, substituir a sua ou ser mais uma mãe... nunca quis. Só que acho que o lugar de madrasta ou simplesmente “a mulher do pai” não me cabe. Não só.

O fato é que nunca imaginei viver o que vivo hoje. E venho sentindo que não soube e não sei lidar com isso. Por mais que esse hoje já faça mais de dois anos, ainda percebo algumas marcas e algumas feridas, que mesmo eu cuidando bem direitinho, colocando remédio, limpando... ainda não cicatrizaram. São feridas minhas, resultados de esforços meus, coisas que são tão custosas pra mim... coisas que jamais revelarei.

A frase de Lucas me fez, além de revistar essas feridas, me fez também repensar as escolhas... sobretudo, a escolha pelo “demais”. E escrever hoje, a essa hora, com tudo que tenho que fazer amanhã, é uma forma de dizer para mim mesma (com todo pleonasmo, para ser bem convincente!): eu não tenho filhos. E, a partir de amanhã, quero viver a implicação disso!