quarta-feira, 28 de outubro de 2009

Ela jamais tinha visto

Ela jamais tinha visto. Estava ali o tempo todo. Há mais de um ano. Verde de esperança. Verde no branco, para dar cor, trazer alegria. O jamais deu espaço para o hoje e, depois de algumas noites dormindo muito pouco, o cansaço abriu uma brecha para um sorriso e um inusitado entusiasmo. Quanta coisa ainda não conseguia ver? Quantas coisas estavam do lado dela querendo serem vistas? Ela ainda tinha algumas horas de trabalho e, certamente, algumas noites mal dormidas, mas seguiu sorrindo. Lavou o rosto e se encheu de coragem para ver aquilo que até aquele momento ainda não tinha visto e ...

sexta-feira, 23 de outubro de 2009

Eu, Deus...

Vontade de compartilhar e trazer para cá um pouco de Clarice*, em um texo que me fez conversar com o último post. Sobre mim, sobre nós, sobre Deus... sobre o mundo.

"Talvez eu me ache delicada demais apenas porque não cometi os meus crimes. Só porque contive os meus crimes, eu me acho de amor inocente. Talvez eu não possa olhar o rato enquanto não olhar sem lividez esta minha alma que é apenas contida. Talvez eu tenha que chamar de "mundo" esse meu modo de ser um pouco de tudo. Como posso amar a grandeza do mundo se não posso amar o tamanho de minha natureza? Enquanto eu imaginar que "Deus" é bom só porque eu sou ruim, não estarei amando a nada: será apenas o meu modo de me acusar. Eu, que sem nem ao menos ter me percorrido toda, já escolhi amar o meu contrário, e ao meu contrário quero chamar de Deus. Eu, que jamais me habituarei a mim, estava querendo que o mundo não me escadalizasse. Porque eu, que de mim só consegui foi me submeter a mim mesma, pois sou tão mais inexorável do que eu, eu estava querendo me compensar de mim mesma com uma terra menos violenta que eu. Porque enquanto eu amar a um Deus só porque não me quero, serei um dado marcado, e o jogo de minha vida maior não se fará. Enquanto eu inventar Deus, Ele não existe."

*Do livro Felicidade Clandestina.

segunda-feira, 19 de outubro de 2009

Um pouco de vida real

É! Eu gosto de vida real. Principalmente porque sempre senti de forma muito intensa a realidade. Nunca precisei ler um livro, mesmo gostando muito de fazer isso, para ter uma história engraçada ou triste para contar.

Sempre gostei de roteiros, porque me remetem a caminhos pelos quais posso/devo seguir. Biografias? Nem se fala! Não há nada melhor do que conhecer outras histórias de vida, com seus desdobramentos, para pensar na sua própria vida e descobrir os caminhos mais certeiros. Se bem que parece ser importante pegar caminhos errados, até quando já sabemos que são errados. Certo ou errado? Nesse momento, entendo certo e errado como o que traz ou não sofrimento. Penso que certa dose de sofrimento até pode ter efeito terapêutico, mas falo aqui do excesso. Do porre de sofrer.

Para além dos roteiros, ando muito encantada também com as pessoas que cruzam o meu caminho ou compõem os tantos outros roteiros, que em tantas direções configuram a peça da qual também me vejo como personagem. O que me encanta e, ao mesmo tempo, intriga/instiga são as contradições. Refiro-me às contradições que eu vejo como sendo delas e também àquelas que eu sinto no meu encontro com elas. Porque o meu sentimento também é por vezes contraditório e igualmente intenso, independente dos pólos.

Hoje, encontrei uma velha amiga, da qual não tinha notícias há anos. Ela falou tanto, tanto, tanto... me contou toda a sua vida em 10 minutos e eu fiquei deslumbrada, vendo imagens e verdadeiros filmes que passavam velozmente na minha cabeça, a cada história que ela contava. Foram só 15 minutos (o tempo de uma coca light, entre uma aula e outra), mas foi surpreendentemente intenso. Já no final, ela ousou perguntar como estava a minha vida. Olhei para o relógio e vi que tinha apenas cinco minutos para enquadrar toda a minha prolixidade. Metralhei cinco minutos de histórias que, para ela, eram sem sentido e desencontradas, mas que para mim se encontravam e se encontram em mim. Percebi a expressão das sobrancelhas e todo estranhamento em frases como: só você mesmo, Dinha!

Essa frase simples ficou o dia todo na minha cabeça e me fez pensar na singularidade de cada peça que encenamos e, ao mesmo tempo, na multiplicidade de cada um de nós. Lembrei das frases dela, que traziam aquela idéia de “eu sou assim”. Será mesmo que alguém é? Essencialmente se é? Desconfio disso. A cada dia desconfio mais dessa tal de essência. Poderia até fundamentar teoricamente tal desconfiança, com Hall ou Davis e Harré. Mas não falo da teoria. Falo de sentimento. E, realmente, não conheço ninguém que, de tão coerente que é, faça-me reconhecer a existência de uma essência.

Alguns dos meus leitores imaginários podem estar assustados sobre quão negativista são essas afirmações. Enganam-se! Se as possibilidades de estar e não ser causam angústia, por um lado, e desterritorializam, ao questionar as certezas e os nosso lugares no mundo, por outro lado, nos libertam. Afinal de contas, se não há essência que me aprisione, dizendo exatamente o que sou, posso me considerar livre para ser... livre para dar voz a tantas Ednas e, quando achar que elas já não devem falar, livre para calar tantas outras.

Deu vontade de fazer (mais) teatro, tomar cerveja... deu vontade de fazer um brinde à liberdade de ser. Liberdade? É! Talvez precisemos voltar a falar sobre isso...

sexta-feira, 16 de outubro de 2009

A dor do outro

Hoje eu pude sentir. Como um punhal no meu peito, cortando-me ao meio e me mostrando o quanto sou pequena, impotente. Ele chegou me desafiando; falando alto; comendo dois pães, quando só podia um; mentindo e, a todo momento, mostrando com o olhar como era perigoso, como nós devíamos temê-lo.

Em plena tarde de sexta-feira, cheguei. Nem estava nos planos. Havia planejado ir para casa mais cedo, estudar, preparar o dia de amanhã, que promete ser tão especial. Mas algo me levou ao Albergue. Parece que era dia de me ver pequena e repensar não só meu trabalho... repensar a vida.

Ele tava com o olhar furioso. Estava diante de uma assistente social, que vinha lhe trazer um dinheiro. Na verdade, vinha pegar uma assinatura, pois o dinheiro seria entregue a seu pai. Ele não aceitou e, como estava no seu direito, após ter prometido que não iria fazer mau uso desse dinheiro, recebeu.

NOVENTA REAIS. Pouco? Não. Muito. Para ele, uma fortuna.

Ele recebeu o dinheiro, entrou no grupo, que já ia começar e, ao sair, pediu sua alta. Disse que não estava agüentando: precisava fumar crack. Incrível! Ele não brigou com ninguém, não inventou nenhum pretexto. Apenas disse: preciso fumar.

Ele fuma há três anos e jamais tentou deixar de usar. Era a primeira vez que tentava parar, começar um tratamento, mas ele não suportou. Eu vi os seus olhos arredios se encherem de água. Eu ouvi a sua voz tremendo. Pedi que sentasse, peguei uma água e tentei conversar com ele; lhe dizer que era possível resistir àquela fissura. Ofereci várias alternativas. Falei sobre suas conquistas, sobre como era importante ele falar sobre aquela vontade de fumar e como era ainda mais importante resistir a ela. Gastei todo o meu latim. Todo! No final, tentei sensibilizá-lo para retornar, sem nem saber se ele sobreviveria a essa recaída.

Ele chorou muito. Dizia que ”só com uma algema” conseguiria permanecer ali. Tentei lhe mostrar que essa algema não tínhamos, mas ele poderia construir essa algema com a sua vontade de não usar, de reconstruir a sua vida.

Quando não tinha mais jeito, quando ele já estava com a bolsa nas costas, sugeri que ele se alimentasse, que ele se cuidasse. Indiquei um ambiente protegido... não restava tanto a fazer. Desejei boa sorte e pedi que se cuidasse.

O sentimento que fica é que não consegui. Não consegui mostrar para ele o quanto sua vida poderia ser importante, o quanto ele ainda tinha a viver. Não consegui convencê-lo do quanto ele era forte e do quando essa força poderia ser convertida em um “não”.

Que poder tem esse danado de crack que faz com que as pessoas digam “eu não quero, mas vou”? Que poder temos nós de acabar com a nossa própria vida e, assim, acabar com a vida dos que estão ao nosso redor? Que poder tenho eu, coordenando aquele lugar, de ajudar essas pessoas?!

Hoje, o sentimento é a dor e a consciência é de impotência.

terça-feira, 13 de outubro de 2009

Politizando a discussão...

Colocar a culpa no Lula - texto extraído do blog http://classemediawayoflife.blogspot.com/

"Culpa do Lula" é um expediente médio-classista que caracteriza qualquer coisa que possa dar errado no Brasil. É um híbrido de "transferência de responsabilidades" com "senso de posição social", dois conceitos interligados que compõem a filosofia de vida da Classe. Logo, para ingressar neste grupo especial da nossa sociedade, será necessário aprender a vincular o nome do ex-metalúrgico a qualquer evento ou constatação negativa que envolva o Brasil. Afinal, não basta ignorar o presidente. A revista, a tevê, o jornal e tudo aquilo em que você acredita urram para que você o odeie. Obedeça.

Um bom estudo de caso consiste na observação das reações e do posicionamento da Classe Média em relação à disputa para sede das Olimpíadas de 2016.Imagine voltar a alguns dias antes da escolha da cidade sede dos Jogos Olímpicos. Como bom membro da Classe Média, você primeiramente duvidaria, com todas as suas forças, da capacidade do governo brasileiro conseguir uma coisa dessas. Culpa do Lula. Um país tão bagunçado assim nunca será capaz de trazer pra cá um evento tão importante, de gente civilizada, uma coisa tão grandiosa e que nos traria tantos benefícios. Nosso presidente é despreparado e a comunidade internacional não o leva a sério. Culpa do Lula de novo.

Com o passar dos dias, a televisão (sua janela límpida e cristalina para a verdade sobre o mundo) lhe informaria que as chances são reais. E se o Rio vencer, não haverá culpa de nada para imputar no Lula. Isto seria capaz de botar em parafuso a cabeça do cidadão, tal qual um software mal programado com erro de sintaxe - um legítimo fatal error. Felizmente o cérebro humano possui mecanismos que impedem esse tipo de conflito: o médio-classista automaticamente começa a reconsiderar sua opinião sobre os Jogos Olímpicos, uma forma de desfazer esse nó nos neurônios.

O Rio está quase ganhando. A partir desse momento, o cidadão de Classe Média já conjectura se ser sede de Olimpíadas é realmente bom para o Brasil. Afinal, somos um país de terceira, violento, corrupto e pobre. Culpa do Lula. Tomara que o Rio perca. Aí, sai o anúncio: o Rio venceu. Agora, o médio-classista tem certeza de que isso é ruim. Além de ser um desrespeito com o Primeiro Mundo, um evento desse porte tem tudo para ser um fracasso em terras brasileiras. Vão desviar esse dinheiro, que deveria ser investido em educação e saúde (finja que você se importa, não interessa se você é usuário de educação e saúde privadas). E o dinheiro dos seus impostos vai pra mão dos políticos, que vão roubar quase tudo. Culpa do Lula (ignore que ele não será o Presidente em 2016).

Conclusão: para ser da Classe Média, a “Culpa do Lula” precisa ser uma entidade tão sagrada para você, que te faça torcer com ardor e sinceridade para que o Brasil perca essa ou qualquer disputa. Pois só assim você poderá pronunciar "culpa do Lula", em tom de palavras mágicas, sentando em seu sofá quentinho e macio, cercado pelas grades do condomínio, tomando seu café e vestido com seu roupão felpudo. Esta será a sua fórmula para dormir tranquilo depois do Fantástico.

segunda-feira, 12 de outubro de 2009

Nudez é outra coisa...

Um trecho de texto de Frei Beto, que ontem, após um final de semana leve e divertido (como há muito tempo não havia), entre as linhas de um longo e chato relatório, me fez pensar na vida... na vida e em viver!

"(...) É isso, não consigo ver o que os outros enxergam, não consigo rir do que os outros acham graça, não consigo deixar de ser eu mesmo, desconfiado, taciturno, porque são muitas as minhas cismas. Por exemplo, coleciono fechaduras e fotos de rinocerontes. Fechaduras, é obvio, servem para fechar, porque o ser humano não suporta a transparência. Precisa sempre se cobrir: de pêlo, máscaras, teto, muro, porque a nudez é uma arte que exige talento. Ainda que um homem e uma mulher estejam sem roupas, trancados num quarto, entregues às infinitas possibilidades do jogo erótico, não significa que estejam nus. Estão despidos. Nudez é outra coisa. É enfiar a faca até o cabo, arrebatar a lua com as mãos, destampar todos os recônditos da alma, os mais obscuros e ínfimos. Se nem suportamos ficar nus diante de nós mesmos, quanto mais diante dos outros! Por isso as fechaduras deveriam estar de língua recolhida, mas quase sempre elas se projetam interditando-nos.Por que fotos de rinocerontes? Faz tempo sonhei que eu era um rinoceronte, daqueles enormes que pesam toneladas. Locomovia-me com muita dificuldade, o que exigia paciência de todos à minha volta. Ao atravessar uma rua, eu me encontrava a meio caminho quando o sinal abria, irritando os motoristas; no cinema, precisava ocupar meia fila de cadeiras; no restaurante, comia metade do bufê.Gosto das esferas elegíacas. Da arte que não exprime lamento, dos primitivistas que ponteiam suas telas com o talento que supera todas as formalidades acadêmicas. Sou por eflorescências. Quase toda semana irrompem em mim vulcânicas primaveras. São flores de fogo. Procuro fixá-las em retábulos e, no exercício de iluminuras, copiá-las em pergaminhos. Porque só flores e borboletas superam as obras-primas da arte universal. Mas não sou dado a caçar borboletas.Não me agradam as idéias ajaezadas. Prefiro-as despojadas, diretas, translúcidas. Há dias em que me recolho à biblioteca do mosteiro em que vivo e passo horas contemplando iluminuras de manuscritos antigos.Eis que me apareceu em sonhos um homem cujos sapatos tinham bicos finos e longos; na cintura, profusão de laços; as mangas eram tufadas como balões e os punhos de renda. Ele estava de pé num salão fechado por cortinas de cores brilhantes, pontilhadas de estrelas de ouro entre espaços vazios cheios de sóis. Em volta, capitéis e um pesado brasonário. E ele sabia que a ataraxia é uma propriedade das mais belas esculturas.Súbito, ele começou a dançar em movimento suaves. Não havia música, apenas uma orquestra invisível de rinocerantes imensos e diminutos, gordos e delgados, altos e baixos, pesados e lépidos. Todos traziam fechaduras em suas patas arredondadas e ao abri-las e fechá-las imprimiam o ritmo que conduzia o dançarino. Acordado do outro lado do sonho, fiquei a me perguntar se tamanha ilogicidade que preside as emanações do inconsciente não seria a verdadeira lógica que a razão tanto teme e repudia (...)"

Do livro "A arte de semar estrelas".

sexta-feira, 9 de outubro de 2009

Inesquecível

Já fui para alguns shows dele, mas nenhum foi como o de ontem. Inesquecível! Teatro lotado. Ele com sua guitarra "de trailer", apresentando-nos 12 músicas novas... que agoniavam todo mundo que ousava ficar sentado. De vez em quando dois ou três levantavam e se rendiam a uma deliciosa mistura de côco, com forró... quase um frevo! Uma beleza!

Em seguida, ele pega o velho e bom violão "vazado" e nos presenteia com aqueles grandes sucessos. Maravilhoso! Aí ninguém mais ficou sentado mesmo. Até o Amarelo dançou um xote comigo (Uhuuuuu)!

Falando no Amarelo... fiquei olhando para ele, com o maior desejo de, naquele momento, conseguir olhar pelos seus olhos, escutar pelos seus ouvidos. Certamente, ele estava vendo e ouvindo um monte de coisas que, com meu pouco conhecimento musical, eu não conseguia escutar. Me deslumbrei com o seu deslumbramento.

Na volta para casa, tentamos escolher o melhor momento, sem conseguir. Entre tantos, teve a hora que ele cantou "Pensar em você"... foi lindo! Tão lindo, que ele pediu para acenderem as luzes, para assim poder ver a platéia, que cantava emocionada. E eu, cá com meus botões, me perguntava o que era mais bonito: o que eu estava ouvindo ou o momento no qual o Amarelo, no Parque da Jaqueira, lá no comecinho... pegou o violão e cantou pra mim. Difícil de escolher! Dois momentos idescritivelmente emocionantes. E o segundo momento se tornou muito mais emocionante porque houve o primeiro... sem dúvida! No Teatro, após a platéia cantar, ele puxa: "Olha aqui, preste atenção, essa é a nossa canção...". Perfeito!!!

Mas vou terminar esse post com a letra de uma outra música, que, com certeza, ele cantou pra mim... ou por mim!!! Hahahaha!!!

Lá vai... com vocês... Deus me proteja!!!

Deus me proteja de mim e da maldade de gente boa
Da bondade da pessoa ruim
Deus me governe e guarde ilumine e zele assim

Deus me proteja de mim e da maldade de gente boa
Da bondade da pessoa ruim
Deus me governe e guarde ilumine e zele assim

Caminho se conhece andando
Então vez em quando é bom se perder
Perdido fica perguntando
Vai só procurando
E acha sem saber
Perigo é se encontrar perdido
Deixar sem ter sido
Não olhar, não ver
Bom mesmo é ter sexto sentido
Sair distraído espalhar bem-querer

quarta-feira, 7 de outubro de 2009


Penso que está chegando a hora de colocar alguém no mundo, de cuidar de forma mais próxima, tentar ser melhor um pouquinho para ele/ela e, ao mesmo tempo, construir um mundo um pouquinho melhor também com ele/ela. Nunca senti tanta vontade. Nunca me emocionei tanto, ao ver um filhote de cachorrinho.

segunda-feira, 5 de outubro de 2009

Imitação?

Lembro de já ter escrito ou ao menos pensado muito sobre isso. Costumo a ser muito sensitiva... energia ruim? Inveja? Sinto de longe. Tenho calafrio, arrepio... é impressionante!!! É como se houvesse uma força estranha, sugando tudo que há de bom e deixando um monte de coisa ruim. Lembrei de Pai Bob: “São os olhos... muitos olhos”. Aí escuto também a voz de Tiago Gato, dizendo que tenho delírio persecutório. É provável também. Mas, sem dúvida, algumas coisas procedem.

Uma certa vez coloquei uma definição no meu orkut. Era um texto de Clarice. Li no livro e copiei todinho. Do jeito que gosto de escrever: sem letras maiúsculas. De repente, tempos depois, encontro esse mesmo trecho no orkut de uma outra pessoa. O mesmo! E a prova que copiou e colou é que não tinha letra maiúscula nenhuma!!! Quando vi, senti algo estranho. Se tivesse um pouco mais de intimidade, havia questionado, mas não consegui fazer isso. Hoje em dia, tenho até medo de escrever certas coisas no orkut... porque até expressões que nunca vi ninguém usando, bem minhas e de Lucas, por exemplo, hoje, vejo pessoas próximas, que sei que visitam muito o nosso orkut, usando. É... talvez seja o preço de tanta exposição.

Sem contar com a forma de vestir. Gente que conheço se vestindo de uma forma bem característica e que com tempo vai incorporando coisas que eu claramente percebo que não faziam parte dela... faz parte da minha forma de me vestir. Digo isso porque nem sou muito de moda. Tenho o mesmo estilinho há um bom tempo... há uns anos.

Meu cunhado uma vez me disse que essas coisas não deviam me assustar. Disse que eu devia pensar que algumas pessoas acham massa algumas coisas e tentam fazer ou usar igual por isso. Olhando desse lado... realmente, é possível encarar como algo bom.

Eu também tenho minhas referências. Me inspiro e procuro aprender com a seriedade de Cintia, a simpatia de Fafa, a inteligência de Nara, a criticidade do meu irmão, o estilinho de Maricota... poderia falar em um monte de gente. Mas jamais poderia falar que procuro “ser como” essas pessoas. Talvez isso faça muita diferença na polaridade (positivo ou negativo) das energias enviadas. Eu não olho pra elas e digo: poxa, como fulana é assim. Eu digo: que massa que você é assim. E muitas vezes digo também: fulana, me ajuda, vai?!

Sinto que falta a algumas pessoas uma aceitação maior. Uma aceitação do que se é. Aprender a ser e me aceitar sendo talvez tenha sido o maior aprendizado que a leitura de Clarice me trouxe. Não falo da leitura virtual de Clarice... aquelas frase soltas, muitas vezes piegas... e que, muitas vezes também, não são dela (algumas eu posso até apostar que não são!). Falo de se envolver em sua obra e se perder no desafio de se encontrar.

No final de Água Viva ela diz algo do tipo: Fui ao encontro de mim. Calma, alegre, plenitude sem fulminação. Simplesmente eu sou eu. E você é você. É vasto, vai durar. É bem por aí...

Enfim, acho que já escrevi demais sobre isso. Que venham (ou fiquem!) apenas as boas energias!