terça-feira, 7 de junho de 2011

04 dias

Eu quero que o sentimento de agora tenha sustentabilidade dentro de mim. Que a tranquilidade sentida neste momento não só dure como também garanta um novo olhar e um novo ritmo para a minha vida.

Depois de quatro dias com amigos, reflexões e planejamentos, fui para o aeroporto, para voltar para casa. Fui de táxi, com o vidro aberto. Vento na cara, cabelos assanhados e sorriso no rosto, refletem bem o que senti e ainda sinto. Eu quero e começo a respirar, a ter vontade de viver. Não quero mais o que me faz mal; o que sei que me faz mal e me impede de crescer. Não admito mais minhas próprias idealizações, que fazem com que eu me frustre a cada momento, quando descubro que as pessoas não são o que sempre achei que fossem.

Eu quero simplesmente viver, sem abdicar de pensar. Pensar sim! Exaustivamente, como venho fazendo. E vá para longe de mim quem acha que não pensar é a melhor alternativa. Eu estou encontrando as minhas respostas e isso só é possível porque ousei pensar e, de certa forma, suportei a dor implicada nisso. Suportei a dor e hoje é o dia do gozo na tranquilidade.

Entendo onde estou, o que está acontecendo comigo e sei mais ainda para onde quero ir. Não é para trás. É para frente. Olhar para trás me deixa saudosa e me faz mergulhar em um encantamento que me cega; que me cegou por tantos anos. Digo logo que não me culpo por isso, porque até cegar é uma experiência importante para valorizar o que há de bom em ver, em enxergar.

Estou determinada e extremamente comprometida com o meu projeto de ser. De ser e de viver o que tantas amarras me impediram. Não responsabilizo ninguém por essas amarras. Eu as construí e, hoje, entendo como eu precisei delas. Mas não as quero mais. Não preciso mais delas.

Foram 04 intensos dias, que começaram no frio, com um abraço quente e terminaram no vento, com previsões e com um sorriso no rosto. A vontade agora, como o vento, é me espalhar, correr, gritar e estar perto das pessoas que me fazem bem. Diante de tantas culpas, a sensação agora é de orgulho do que consegui ser e construir, do quanto respeitei meus princípios, do quanto cuidei do que chamo de amor. Diante dos erros, me orgulho de honestamente ter tentado, de ter investido e sinto que cresci. Tenho orgulho de não ter parado, mesmo quando me vi sozinha e com dificuldades de caminhar. Aí lembro da minha família, da minha mãe e do quanto ela me inspira a ser forte e reagir diante da vida. Ela soube estar do meu lado na medida certa, sem me carregar no colo, mas deixando claro que eu não estou sozinha. Essa lembrança me faz, além de ter orgulho do que sou, ter orgulho de onde vim.

É! No final de todo esse sofrimento (porque sinto que ele está acabando), sem nenhuma modéstia, quero dizer que me sinto uma pessoa bem melhor: mais forte, porque conheço melhor as minhas fragilidades; mais segura do que quero para mim, para minha vida; menos só, porque soube ficar perto e valorizar os amigos que sempre soube que tinha e os que descobri deliciosamente que tenho. Sem falar que ainda me vejo mais bonita, porque mais uma vantagem disso tudo foi emagrecer.

Entendi agora o que um dia li sobre o sofrimento. Li que a dor do sofrimento era a dor da transformação. Eu me transformei ou, na pior das hipóteses, estou me transformando. E a evidência maior disso talvez seja começar a me sentir inteira, na vida, no trabalho, nas relações. Eu estou inteira. Sinto como se estivesse na largada, pronta para iniciar a corrida.

Devagar? Devagar não. Não venham me dizer que tenho que ir mais devagar, porque eu já aceitei o meu ritmo mais rápido. E vou até onde não me fizer mal, fazendo pit stop em sombras gostosas e seguras. Eu sigo e sigo rápido, porque assim sou e porque sei que para várias coisas na vida (na minha e na de outras pessoas) essa velocidade é muito importante.

Certamente, terei parceiros na corrida ou, pelo menos, nos descansos. P-A-R-C-E-R-I-A! Só aceito se assim for. Quero dividir o dia, a vida, os sonhos, os planos. Volto a ter sede de gente, de me deslumbrar com as histórias e me permitir descobertas.

É! Quatro dias podem mudar a vida de uma pessoa? A sensação é essa: mudança! Sinto-me deliciosamente estranha e tomada por uma assustadora vontade de viver.

segunda-feira, 6 de junho de 2011

“Viva. Aproveite a sua vida”.

Por favor, ao escutar, não sinta nessa frase nenhum carinho. Principalmente, quando ela é dita por um ex-namorado seu. Parece um comando. A pessoa que lhe diz para viver acha que você não está vivendo. A pessoa que diz aproveite a sua vida acha que você não está aproveitando. E, do alto de um pedestal, diz isso com uma autoridade que nunca será condizente com o lugar dele na sua vida.

Se considerarmos que viver e aproveitar a vida são “conceitos” extremamente subjetivos, talvez isso diminua um pouco a aridez deste comando. De fato, a forma como você está vivendo pode não ser a forma como esse ex entende que é viver e, mais uma vez, aproveitar a vida. Mas quem é ele para dizer a você como fazer isso?

O fato é que eu escutei e decidi que N-U-N-C-A direi esta frase para alguém. E tenho, para tomar essa decisão drástica, alguns bons motivos. Primeiro, a única forma de você não viver é morrer e, se a pessoa está de corpo presente para escutar esta frase, é porque ela não morreu. O segundo motivo, extremamente ligado ao primeiro, é que, independente do conceito de viver, uma coisa é certa: uma vez vivo, cada um vive como pode. E, portanto, não cabe nenhum tipo de julgamento sobre se se está vivendo ou não. O terceiro motivo vem do “aproveite a vida”. Não dá para mandar ninguém aproveitar a vida sem falar no que se entende por isso. Trata-se de uma frase vazia, em qualquer circunstância. Por ser vazia, no meu caso, em especial, essa frase se encheu das marcas do que foi vivido e me remeteu a práticas promíscuas, no que ele entende por aproveitar a vida. Práticas que, desde que resolvi crescer, não estão no meu horizonte e no meu conceito de aproveitar a vida. Saindo do meu caso, de toda forma, por ser uma frase vazia, ofende porque denota uma postura autoritária de alguém que quer lhe imprimir uma forma de aproveitar a vida.

Espero que os meus motivos tenham ficado claros o suficiente para você também não falar essa frase para ninguém. Este tipo de corrente (quem ler esse texto não fala essa frase nunca mais na vida) seria muito mais pertinente e traria bem mais benefícios às relações do que àquelas que a gente recebe por e-mail. Para concluir, acrescento: pior do que escutar “Viva. Aproveite a sua vida” só há uma outra frase: “eu quero que você se cuide”. Ou, para lascar tudo de vez, diz-se para os amigos: “por favor, cuidem dela”. Ah! Me poupe!

Em São Paulo

Foi um final de semana de frio. Um frio que começou por dentro e foi se materializando na fria São Paulo. Esquisito o que essa cidade proporciona. Há um quê de deslumbramento, pelas pessoas, pelos hábitos de vida e pela liberdade de ser. Andar pela Avenida Paulista, descendo pela Augusta é realmente libertador. Mas também há um quê de sufocamento. Porque em todos os lugares há muita gente, porque há trânsito às 22 horas de um domingo.

Eu vim bem menos pelo lugar e mais pelas pessoas. Vim atrás das irmãs que escolhi para mim e de outros tantos amigos que por aqui escolheram viver. Saí do Aeroporto já com Mari, cheguei na casa delas e fiquei por horas deitada no colo de Liu. Fiquei me perguntando como não havia feito isso antes.

Ainda vi Ju Terribili, que não via há uns cinco anos. Vi Mari Pires, Asas, Thiago Pêda, Mayra, Slivia, Rô Valente... foi uma delícia. Programinhas leves, regados a bons vinhos. Conversas gostosas, colos seguros. Pude dividir a vida, escutar e dizer coisas importantes. Em alguns momentos, bateu saudade da minha “vidinha feliz”. Em outros momentos, me deu uma vontade de reviver a liberdade de “ganhar o mundo”, que um dia já foi objeto de tanto desejo, e ser feliz assim.

Fiquei pensando como deixar de lado essa dose de drama que há na minha vida, em como me permitir viver, olhando para frente. Caminhei, escorreguei, mas sei que preciso seguir. Acordei, na segunda-feira, com o coração apertado. Talvez o tarô tenha me mostrado que o momento que vivi é muito mais do que um momento de dor. É um momento de transformação. Transformar o que em quê? Ai, ai, ai...

sexta-feira, 3 de junho de 2011

Em casa...

Foi aqui que tudo começou. O sonho de ter uma casa, de construir uma vida compartilhada. Ela deixou de ser menina para ser mulher. Ele a viu crescer demais e fez o que pôde para caminhar com ela. Para ela, era a primeira vez. Saia de casa, assumia responsabilidades, tomava as rédeas da vida. Ter uma casa era muito mais do que ter um marido.Era a consagração de ser mulher, adulta, independente. Mas ter um marido também era algo importante. Ser feliz com ele? Mais ainda.

Desde a adolescência, quando ela viu o casamento dos pais desmoronar, ela traçou um caminho diferente para ela. Teria que dar certo e por que não ser para sempre? Eles se sentiram escolhidos um pelo outro e por alguma energia que fazia da vida mais vida, quando eles estavam juntos.

Ela amou de forma desmedida e depositou um pouquinho de amor em cada canto dessa casa. Fez da casa um lar, no lar construiu uma família. A sua família. Um sonho, dos mais bonitos... igual ao que foi planejado, lá na dita adolescência. Só faltou uma coisa: o para sempre. O para sempre durou quatro anos. A casa foi lar por dois anos. Agora o desafio é que a família continue sendo família.

Hoje, ela olhou com cuidado ao redor. Sentou no sofá e encheu a cabeça de lembranças. Chorou porque, de repente, voltou a se ver como menina. Mas riu. Riu porque a sensação de ter vivido intensamente traz uma dose de alegria, mesmo quando ainda há um aperto no peito.

Organizou a mudança e olhou pra frente. Ao olhar, encontrou novas paisagens e novos começos. Se sentiu muito cansada, mas viu uma mão estendida,sentiu um abraço apertado e resolveu, com uma certa dose de esforço, seguir.