Às vezes você sente tanta admiração por uma pessoa que pensar nela emociona. Outras vezes, dói. Porque, quando o amor é intenso, chega a doer mesmo. Dá uma vontade de se fundir, de tornar um. Ao se fundir, você ficaria só com a parte mais dolorosa dessa pessoa e daria tudo que você tem de bom. E tem porque aprendeu com ela.
Ela saiu do sertão. Tenho vontade de levar todo mundo lá, para que todos conheçam o lugar de onde ela saiu e, por conseqüência, eu sai também. Foi numa casa muito simples, no meio de um sítio, que ela veio ao mundo. Filha de uma mãe que teve 10 filhos. De um pai que não consegui conhecer, ou que só conheço pelas histórias.
Infância difícil. Faltava muitas coisas, mas, como uma florzinha no meio da aridez do sertão, ela cresceu e brotou. Veio para cidade grande estudar. Estudou e venceu. Terminou a Faculdade, fez uma especialização , trabalhou, foi professora da UFPE, deu aula para batalhões (literalmente!) e conseguiu, mesmo com isso tudo, ser uma mãe presente.
Uma mãe dura, que jamais me viu chorar sem falar que era preciso seguir em frente; que jamais me viu triste sem mostrar tudo que deveria me deixar alegre. Muitas vezes, não era nem isso que queria escutar, porque de vez em quando é até importante curtir a tristeza, mas esse era o jeito dela de me fazer forte.
Uma guerreira. Lembro de voltar do colégio com ela para casa, de ônibus, depois de um dia de trabalho. Lembro do seu rosto cansado, chegando em casa e ainda dando conta de cuidar da gente e, mais uma vez, nos (e aqui sei que já não falo mais só em meu nome) ensinando a ser forte. Porque não há melhor forma de ensinar do que com o próprio exemplo.
É preciso dizer que ela sofreu muito também. Sofreu, sofremos juntos e, mais uma vez, saímos nos sentindo mais fortes.
É claro que algumas coisas também me incomodavam e ainda incomodam. Ela não sabe pedir desculpas e gosta muito de dizer “eu não disse”. Mas até assim ela nos ensina a ser fortes. A gente olha para essas coisas e tenta fazer diferente. Tenta fazer e ser mais.
Sabe quando você olha pra uma pessoa e vê onde ela está com a certeza de que esse lugar é extremamente merecido, porque foi efetivamente conquistado, suado? É ela.
De vez em quando, principalmente, quando me sinto cansada, desanimada, gosto de lembrar dessa história. E lembrar me encoraja e, mais uma vez, me fortalece.
Hoje, ela é avó (pela segunda vez), trabalha menos, vive num apartamento seu, tem seu carro, tem sua vida. Dá até trabalho, de vez em quando. Acho mesmo que depois de oferecer tanta vida pra gente é difícil se ver morando apenas com Luana (a cachorrinha). Isso pode trazer mesmo a sensação de não estar sendo mais “necessária”. É como se não precisássemos mais dela e isso acaba vindo como uma certa dose de tristeza.
Talvez, não precisemos mesmo dela para nos bancar. Até porque, graças ao esforço dela, conseguimos fazer isso sozinhos. Mas não sabe ela como a sua presença é importante. Uma presença que nem sempre é física, mas é uma presença que mostra quem somos, de onde viemos e a que ponto cada um quer chegar.
Hoje, só sinto orgulho dela, dos meus irmãos e do que conseguimos ser, a partir do que ela nos ensinou.
*Fui ao cinema, assisti “Dona Lindu” e lembrei de onde vim. Senti muito orgulho e escrevi esse texto.
Nenhum comentário:
Postar um comentário