sábado, 13 de agosto de 2011

Sobre ela e o coração.

Não havia porque se queixar da vida. Afinal, tinha memória e jamais esqueceria o quanto foi feliz. Ela amou sim, em uma intensidade que nem nos mais bonitos sonhos de infância pôde imaginar. Amou e se sentiu amada. Nunca esquecerá daquela manhã de domingo, do quanto e de como batia o seu coração. Batia tanto que parecia que ia sair correndo e saltitando de tanta alegria. Tudo convergiu e fez daquele dia o dia mais especial que pôde viver. E, por mais que questione o que houve de verdade em tudo, o que ela sentiu foi verdadeiro. Até voltou acreditar em Deus e teve a sensação de ser escolhida. Por ele e por Ele. Escolhida para amar e, simplesmente, ser feliz. É certo que o amor foi proporcional a dor que a acometeu quando “a manhã que nasceu com gosto de pra sempre” se fez noite, quando o “sol amarelin” se fez chuva. Ele trocou de roupa e jogou a roupa antiga na lata do lixo. Ele: o amor. E, diante disso, o coração que pulsava, depois da dor, foi tomado por uma anestesia que nunca neste mundo se viu igual. Coma induzido, daqueles que nada se sente, nada se vê. A moça não desistiu e continuou conversando com ele. Ele: o coração. Dizem que, mesmo quando se está em coma, é possível escutar e sentir as coisas. Foram noites em claro. Tinha dias que parecia que ele a escutava, se mexia um pouco e ameaçava voltar a bater de uma forma mais acelerada. Mas foram só espasmos. Era o início da morte e ela sabia que ele tinha que morrer. Ela: a moça. O coração, finalmente, parou de bater, em uma tarde de quarta-feira, e a moça, já cansada da luta diante do coma e ainda anestesiada, dessa vez, não chorou. Pegou-o carinhosamente e guardou em uma caixa, onde já havia outras coisas bem importantes: uma lágrima da sua mãe, um sorriso de uma amiga, um antigo amor, a dor de um desconhecido e uma aliança com o mundo. Agora, entre as coisas importantes, havia também um coração. Morto, porém, ainda assim, era um coração. E quanto tempo duraria essa morte? A moça não sabia ao certo. Mas, naquele momento, com o coração morto e a cabeça tranquila, deitou-se e, finalmente, conseguiu descansar.

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