Eu esperei tanto; acho que anos. Nos últimos meses, depois de uma seleção de seis etapas, a espera se tornou ainda mais torturante. E eis que chegou a hora. Daqui há exatamente uma semana, estarei no Rio, para o meu primeiro dia de aula do doutorado, no Programa que sempre quis, com o orientador que sempre quis.
O entusiasmo é enorme, mas estou é preocupada. Não estava nos planos ir para o Rio no meio deste turbilhão de sentimentos. Não estava previsto deixar Nelma num Hospital, minha irmã meio quase e meu casamento em frangalhos. Não estava previsto que essa ida para o Rio marcaria tantos finais e começos. Nada previsto! Eu só tinha pensado em passar duas semanas estudando, conciliando com algumas ligações de trabalho. Eu só queria investir nisso e estou é morrendo de medo que todas essas coisas que sinto-vivo comprometam este investimento.
no gerúndio da mudança, que começa em mim, passa pelos outros, termina e recomeça em mim...
segunda-feira, 28 de março de 2011
sábado, 26 de março de 2011
Caio Fernando Abreu
"Tudo isso me perturbava porque eu pensara até então que, de certa forma, toda minha evolução conduzira lentamente a uma espécie de não-precisar-de-ninguém. Até então aceitara todas as ausências e dizia muitas vezes para os outros que me sentia um pouco como um álbum de retratos. Carregava centenas de fotografias amarelecidas em páginas que folheava detidamente durante a insônia e dentro dos ônibus olhando pelas janelas e nos elevadores de edifícios altos e em todos os lugares onde de repente ficava sozinho comigo mesmo. Virava as páginas lentamente, há muito tempo antes, e não me surpreendia nem me atemorizava pensar que muito tempo depois estaria da mesma forma de mãos dadas com um outro eu amortecido — da mesma forma — revendo antigas fotografias. Mas o que me doía, agora, era um passado próximo".
Revolta!
Acordei, li umas coisas e me revoltei com o uso que se faz de Clarice Lispector, na internet. A revolta foi tamanha que resolvi tirá-la do blog. Não quero me confudir. Tive o cuidado de ler toda obra dela. Na verdade, esse foi um dos poucos ganhos que um ex-namorado de muito tempo me deixou. Todo mês, ele me dava um livro dela e eu lia com todo o pique de quem já ia ter outro livro para ler, no mês seguinte. Talvez por isso eu leia algumas coisas e tenha a exata certeza de que não foi ela que escreveu. Sem contar que tem um monte de gente que diz que adora clarice, sem nunca ter lido um livro. Pronto! Chega de frases de efeito e leituras superficiais.
sexta-feira, 25 de março de 2011
Feliz!
Escrever no e um blog tem mesmo muitas vantagens. A maior delas é, sem dúvida, saber que as relações pendulares não só entre você e os outros. É também de você com você. O dia de ontem veio sorrindo e apenas um encontro fez com que toda sensação de tristeza desaparecesse.
O encontro foi com Seu Mário (nome fictício, claro!). Ele estava sentando numa kombi, no estacionamento do meu trabalho. Fazia quase um ano que eu não o via e a lembrança que tinha do nosso último encontro não era nada alegre. Seu Mário é o que se nomeia como “alcoolista crônico” – uma forma de dizer que ele sempre bebeu e vai continuar bebendo muito e para sempre. Quando o atendi, tinha 57 anos, embora parecesse estar perto dos 70. No ano passado, acolhemos ele na Casa do Meio do Caminho (Albergue terapêutico, voltado para usuários de álcool e drogas), do qual eu era gerente.
Seu Mário estava na rua, bebendo e dormindo num carro abandonado. Foi para rua depois de chamar a mulher que lhe dava um teto para dormir de “gostosinha”. O melhor dessa história é que, olhando para ele, no estado debilitado que estava, você jamais imagina que ele teria forças pra fazer isso. Mas fez!
Quando chegou no Albergue, ao parar de beber, começaram a aparecer vários problemas clínicos, como é de praxe nestes casos. Tudo para Seu Mário era difícil, porque ele não tinha referência familiar alguma. Lembro do dia que ele teve uma suspeita de AVC. Levei-o para o Hospital Getúlio Vargas e, como não tinha ninguém que o acompanhasse, acabei dormindo lá, sentada ao lado dele. Fiz (e fizemos!) de tudo. Quando sai do Albergue para vim para o IASC ele ainda estava lá – extrapolou todos os prazos de permanência, diante da sua condição clínica.
Ontem, quando o vi, sentado naquela Kombi, parei imediatamente e o abordei: “Seu Mário! Lembra de mim?”. Ele olhou com uma cara de “não lembro”. Quando falei, “do Albergue”. Na hora ele disse “Dona Edna”! Claro que enchi meus os d’agua, principalmente, quando ele me contou que estava numa casa de acolhida do IASC e que naquele momento estava indo buscar a sua identidade.
Seu Mário agora tem identidade! Estava limpo, com cara de saudável e, o mais importante, feliz! Dei um abraço apertado nele e falei da felicidade de tê-lo encontrado naquela situação. Tentei estimular e falar do quanto era importante que ele estivesse bem.
Subi o elevador com a certeza de estou no lugar certo e que o que fazemos é, de fato, relevante. Feliz por isso e feliz por saber que o meu lugar no mundo é esse. Muito feliz!
O encontro foi com Seu Mário (nome fictício, claro!). Ele estava sentando numa kombi, no estacionamento do meu trabalho. Fazia quase um ano que eu não o via e a lembrança que tinha do nosso último encontro não era nada alegre. Seu Mário é o que se nomeia como “alcoolista crônico” – uma forma de dizer que ele sempre bebeu e vai continuar bebendo muito e para sempre. Quando o atendi, tinha 57 anos, embora parecesse estar perto dos 70. No ano passado, acolhemos ele na Casa do Meio do Caminho (Albergue terapêutico, voltado para usuários de álcool e drogas), do qual eu era gerente.
Seu Mário estava na rua, bebendo e dormindo num carro abandonado. Foi para rua depois de chamar a mulher que lhe dava um teto para dormir de “gostosinha”. O melhor dessa história é que, olhando para ele, no estado debilitado que estava, você jamais imagina que ele teria forças pra fazer isso. Mas fez!
Quando chegou no Albergue, ao parar de beber, começaram a aparecer vários problemas clínicos, como é de praxe nestes casos. Tudo para Seu Mário era difícil, porque ele não tinha referência familiar alguma. Lembro do dia que ele teve uma suspeita de AVC. Levei-o para o Hospital Getúlio Vargas e, como não tinha ninguém que o acompanhasse, acabei dormindo lá, sentada ao lado dele. Fiz (e fizemos!) de tudo. Quando sai do Albergue para vim para o IASC ele ainda estava lá – extrapolou todos os prazos de permanência, diante da sua condição clínica.
Ontem, quando o vi, sentado naquela Kombi, parei imediatamente e o abordei: “Seu Mário! Lembra de mim?”. Ele olhou com uma cara de “não lembro”. Quando falei, “do Albergue”. Na hora ele disse “Dona Edna”! Claro que enchi meus os d’agua, principalmente, quando ele me contou que estava numa casa de acolhida do IASC e que naquele momento estava indo buscar a sua identidade.
Seu Mário agora tem identidade! Estava limpo, com cara de saudável e, o mais importante, feliz! Dei um abraço apertado nele e falei da felicidade de tê-lo encontrado naquela situação. Tentei estimular e falar do quanto era importante que ele estivesse bem.
Subi o elevador com a certeza de estou no lugar certo e que o que fazemos é, de fato, relevante. Feliz por isso e feliz por saber que o meu lugar no mundo é esse. Muito feliz!
quarta-feira, 23 de março de 2011
Triste?
Triste! É difícil olhar em volta e ser tomada por tanta descrença. É como se o mundo não me surpreendesse mais. As pessoas são marcadas por uma previsibilidade tão grande que chega dá agonia; ou melhor, dá preguiça. Falta disposição para investir e acreditar nas surpresas. A vontade é dormir ou, como já não consigo fazer isso, sumir. Queria que hoje fosse 31 de dezembro: desejo de reveillon e de novos começos. Mas, se não dá, pelo menos espero que esses próximos 15 dias passem logo.
segunda-feira, 21 de março de 2011
O amor é assim...
Mesmo que, no momento, seja evidente que ele precisará trocar de roupa; mesmo que já não haja mais fogo; mesmo que haja dor. É cuidado, é carinho. É compartilhar o peso e construir o norte, ou os nortes. Tem dias que fico encantada com as potencialidades do amor e feliz por já tê-lo vivido em sua plenitude.
sábado, 19 de março de 2011
Um grito de silêncio*
Às vezes, eu queria ser mais ingênua. Sentir menos aquelas coisas que não precisam ser ditas. Mas “Mãe Edná” insiste em se fazer presente. E eu sinto, simplesmente sinto. Nem quero que o não-dito se torne dito. Hoje, só quero e só preciso mesmo olhar a lua, sossegar o meu coração e introjetar a compreensão de que o que vem "pós-tsunami" nem sempre é melhor do que havia antes.
*tem dias que escrever é a única forma de não explodir.
*tem dias que escrever é a única forma de não explodir.
Arrependimento
Há quem diga que não se arrepende de nada, porque o se arrepender é entendido como se chicotear e sofrer muito por algo que já fez. Eu me arrependo sim!
Estou arrependida por ter corrido demais e, ao correr, por não ter escutado quem me dizia para eu ir devagar. Assim também me arrependo por ter sido tão autoritária, achando que estava sempre certa e, mais uma vez, por não conseguir escutar. Eu me arrependo por toda rigidez, que resultou do meu medo exagerado de me arrepender.
Hoje, me arrependo mesmo! Agora me arrependo sem necessariamente me chicotear. Eu me arrependo, olhando para frente e construindo cada novo passo. E digo mais: caminho sem o terror de não poder me arrepender.
Estou arrependida por ter corrido demais e, ao correr, por não ter escutado quem me dizia para eu ir devagar. Assim também me arrependo por ter sido tão autoritária, achando que estava sempre certa e, mais uma vez, por não conseguir escutar. Eu me arrependo por toda rigidez, que resultou do meu medo exagerado de me arrepender.
Hoje, me arrependo mesmo! Agora me arrependo sem necessariamente me chicotear. Eu me arrependo, olhando para frente e construindo cada novo passo. E digo mais: caminho sem o terror de não poder me arrepender.
sexta-feira, 18 de março de 2011
Tsunami no Japão, em mim e em você.
Coisa esquisita essa história de tsunami! Chega e sai levando tudo. As imagens mostram carros e casas, que parecem brinquedos pequenos, perdidos em uma imensidão. Que ironia! A cada minuto, a TV nos mostra o quanto somos pequenos e o quanto não sabemos, ao certo, a dimensão das coisas, antes delas estarem diante dos nossos olhos, tocando a nossa pele. E os olhos puxados? Tá provado que eles podem ficar ainda mais puxados e, para completar, inchados. Quase como um favor, que obstaculiza o movimento de ver e, por conseguinte, sentir tanta dor. Da geografia das pessoas para a psicologia das coisas, na intensidade dos quereres/fazeres, que, quando se toca, são sempre mais intensos do que se espera.
quarta-feira, 9 de março de 2011
Carnaval
Receber gente em casa tem disso. Foi um carnaval daqueles. Quase como os que vive, quando tinha uns 10 anos a menos. Quatro dias de Olinda, numa alegria só. Amigos, cerveja, boas risadas, boa música... e ainda três noites de folia, duas no Recife Antigo e uma, descentralizando, no Pólo Várzea. Tinha hora que eu simplesmente fechava os olhos e tentava receber as boas energias, vindas de tanta gente que compartilhava as alegrias daqueles momentos. Parecia que eu estava me preparando mesmo para os dias que virão, que já está certo que não serão fáceis.
quarta-feira, 2 de março de 2011
O meu lugar no mundo
Está cada dia mais claro para mim qual é o meu lugar no mundo. Se eu respirar e apenas procurar perceber os movimentos, o que vem até mim, constato facilmente. O meu lugar é do lado das pessoas que sofrem, muitas vezes, sofrendo para que elas sofram menos. E o sofrimento deve ser aqui entendido em suas distintas dimensões e complexidades. É o sofrimento de quem perdeu alguém querido ou de quem está se sentindo perdido na vida; é o sofrimento de quem deixou de acreditar nas pessoas ou de quem insiste em ser pessoa, mesmo diante de tantas adversidades. É o sofrimento daqueles que tiveram seus direitos violados, de tantas formas. É o sofrimento de quem tenta voltar para o eixo, para o seu próprio eixo. Constatei que o meu lugar era esse após a análise de alguns anos e dos últimos eventos da minha vida. E acho que tem e não tem a ver com ser psicóloga. Talvez ser psicóloga seja uma decorrência; escolher trabalhar com psicologia social, seja outra! Tenha uma amiga que diz que é porque eu sei cuidar. Duvido que exista esse “saber cuidar”. Mas é certo que venho dando um pouco de mim para essas pessoas. E, quando você se dá, parece mesmo que se multiplica, se fortalece. Quando as pessoas são próximas demais, tudo se torna mais difícil. Teve uma pessoa que, além de reconhecer esse meu lugar, me disse que eu tinha que me preparar emocionalmente para ele. Mas como fazer isso? Ainda não sei. Mas sei que é necessário. Porque tem hora que os pesos dos outros se juntam aos seus e a sensação é a mesma que está de pé, afundando.
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