sexta-feira, 25 de março de 2011

Feliz!

Escrever no e um blog tem mesmo muitas vantagens. A maior delas é, sem dúvida, saber que as relações pendulares não só entre você e os outros. É também de você com você. O dia de ontem veio sorrindo e apenas um encontro fez com que toda sensação de tristeza desaparecesse.

O encontro foi com Seu Mário (nome fictício, claro!). Ele estava sentando numa kombi, no estacionamento do meu trabalho. Fazia quase um ano que eu não o via e a lembrança que tinha do nosso último encontro não era nada alegre. Seu Mário é o que se nomeia como “alcoolista crônico” – uma forma de dizer que ele sempre bebeu e vai continuar bebendo muito e para sempre. Quando o atendi, tinha 57 anos, embora parecesse estar perto dos 70. No ano passado, acolhemos ele na Casa do Meio do Caminho (Albergue terapêutico, voltado para usuários de álcool e drogas), do qual eu era gerente.

Seu Mário estava na rua, bebendo e dormindo num carro abandonado. Foi para rua depois de chamar a mulher que lhe dava um teto para dormir de “gostosinha”. O melhor dessa história é que, olhando para ele, no estado debilitado que estava, você jamais imagina que ele teria forças pra fazer isso. Mas fez!

Quando chegou no Albergue, ao parar de beber, começaram a aparecer vários problemas clínicos, como é de praxe nestes casos. Tudo para Seu Mário era difícil, porque ele não tinha referência familiar alguma. Lembro do dia que ele teve uma suspeita de AVC. Levei-o para o Hospital Getúlio Vargas e, como não tinha ninguém que o acompanhasse, acabei dormindo lá, sentada ao lado dele. Fiz (e fizemos!) de tudo. Quando sai do Albergue para vim para o IASC ele ainda estava lá – extrapolou todos os prazos de permanência, diante da sua condição clínica.

Ontem, quando o vi, sentado naquela Kombi, parei imediatamente e o abordei: “Seu Mário! Lembra de mim?”. Ele olhou com uma cara de “não lembro”. Quando falei, “do Albergue”. Na hora ele disse “Dona Edna”! Claro que enchi meus os d’agua, principalmente, quando ele me contou que estava numa casa de acolhida do IASC e que naquele momento estava indo buscar a sua identidade.

Seu Mário agora tem identidade! Estava limpo, com cara de saudável e, o mais importante, feliz! Dei um abraço apertado nele e falei da felicidade de tê-lo encontrado naquela situação. Tentei estimular e falar do quanto era importante que ele estivesse bem.

Subi o elevador com a certeza de estou no lugar certo e que o que fazemos é, de fato, relevante. Feliz por isso e feliz por saber que o meu lugar no mundo é esse. Muito feliz!

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