Por favor, ao escutar, não sinta nessa frase nenhum carinho. Principalmente, quando ela é dita por um ex-namorado seu. Parece um comando. A pessoa que lhe diz para viver acha que você não está vivendo. A pessoa que diz aproveite a sua vida acha que você não está aproveitando. E, do alto de um pedestal, diz isso com uma autoridade que nunca será condizente com o lugar dele na sua vida.
Se considerarmos que viver e aproveitar a vida são “conceitos” extremamente subjetivos, talvez isso diminua um pouco a aridez deste comando. De fato, a forma como você está vivendo pode não ser a forma como esse ex entende que é viver e, mais uma vez, aproveitar a vida. Mas quem é ele para dizer a você como fazer isso?
O fato é que eu escutei e decidi que N-U-N-C-A direi esta frase para alguém. E tenho, para tomar essa decisão drástica, alguns bons motivos. Primeiro, a única forma de você não viver é morrer e, se a pessoa está de corpo presente para escutar esta frase, é porque ela não morreu. O segundo motivo, extremamente ligado ao primeiro, é que, independente do conceito de viver, uma coisa é certa: uma vez vivo, cada um vive como pode. E, portanto, não cabe nenhum tipo de julgamento sobre se se está vivendo ou não. O terceiro motivo vem do “aproveite a vida”. Não dá para mandar ninguém aproveitar a vida sem falar no que se entende por isso. Trata-se de uma frase vazia, em qualquer circunstância. Por ser vazia, no meu caso, em especial, essa frase se encheu das marcas do que foi vivido e me remeteu a práticas promíscuas, no que ele entende por aproveitar a vida. Práticas que, desde que resolvi crescer, não estão no meu horizonte e no meu conceito de aproveitar a vida. Saindo do meu caso, de toda forma, por ser uma frase vazia, ofende porque denota uma postura autoritária de alguém que quer lhe imprimir uma forma de aproveitar a vida.
Espero que os meus motivos tenham ficado claros o suficiente para você também não falar essa frase para ninguém. Este tipo de corrente (quem ler esse texto não fala essa frase nunca mais na vida) seria muito mais pertinente e traria bem mais benefícios às relações do que àquelas que a gente recebe por e-mail. Para concluir, acrescento: pior do que escutar “Viva. Aproveite a sua vida” só há uma outra frase: “eu quero que você se cuide”. Ou, para lascar tudo de vez, diz-se para os amigos: “por favor, cuidem dela”. Ah! Me poupe!
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