quinta-feira, 19 de novembro de 2009

Mãe

"Tem batata com atum na geladeira e coca light! Sim tem também uma escova de dente fuleirinha. Beijos e bom trabalho! Mainha"

Ela nem deve imaginar o quanto esse bilhetinho foi importante hoje!

quarta-feira, 18 de novembro de 2009

Vontade

Vontade de morar em Salvador
De não ter raízes e ganhar o mundo
De beber sem ter ressaca
De comer sem pensar nas calorias
De dormir sem culpa
De ler sem a obrigação de ler
De dar aulas só para turmas boas
De viajar
De fazer um diário
De ficar com Cintia e Turla, comendo brigadeiro com pipoca
De ir à praia, ao menos, uma vez por semana
De escutar Lucas tocar só para mim
De ler Clarice sem pressa
De cozinhar
De ir ao cinema sozinha
De voltar a ter o corpo dos meus 18 anos
De voltar a ter a disposição militante da época do movimento estudantil
De sentir alguns abraços
De comer “pagão” feito por vovó Hosana
De jogar handebol e levar esporro de Irene
De viajar com Fafa e fazer planos
De ser chacoteada por Dudu
De ser chamada de Ednalda
De comer tripa no empório
De ver o sol nascer
De trabalhar menos e ganhar mais
De morar com meus irmãos
De ter cachorro em casa, aperriando
De ser bolsista e ganhar dinheiro pra estudar
De ir para Chapada Diamantina, ao menos uma vez por ano
De dançar e dançar e dançar
De cantar alto sem me preocupar com a letra
Tantas vontades... ou saudade?!

terça-feira, 17 de novembro de 2009

Crescer

Crescer é querer fazer as coisas certas. É se preocupar com as consequências do que fazemos. É reconhecer que um pequeno arranhão pode não sarar nunca e que até o que incomoda apenas um pouco, quando é incessante, transforma-se em muito.

Crescer é introjetar a ética e cumprir certas normas, mesmo se não tiver alguém o observando. É a auto-vigilância foucaultiana, sem os efeitos desesperadores do controle, mas com a tranqulidade da garantia de uma suposta essência. Essência? Sim! Essa essência pode até ser efêmera, mas é... se é!

O mais intrigante é que crescer parece ser também aprender a curar os próprios pequenos arranhões, entendendo que quem os provocou, muitas vezes, não tem habilidade para cuidar disso. É limpar o arranhão na medida certa, porque até limpar demais pode machucar. É que tem coisas que não podem ser muito mexidas mesmo.

Crescer é também entender que o outro pode ter um tempo diferente do seu e, assim, tolerar, aprender e crescer com ele. Mas é também saber que tudo tem limite, que você tem o seu limite e que, em certos momentos, não há como ceder.

Dói. Dói demais. Não é à toa que tantos escolhem o não-crescer e outros tantos crescem, mas, uma vez por outra, encontram-se em suas infantilidades. Quase como uma oxigenação, uma re-oxigenação. Parece que é preciso perder a linha, ser inconsequente... contraditório? Sim! Parece mesmo que para crescer é preciso revisitar o não-crescer... e sempre escolher que caminho seguir. Ao menos quando essa escolha é possível.

quinta-feira, 12 de novembro de 2009

Vestido amarelo: um desabafo!

Sexta-feira, 20 de maio de 2004.


Estava participando de uma passagem em sala de aula, fazendo uma breve apresentação e divulgando um seminário do grupo político do qual faço parte na UFPE. Além de mim, estava presente mais uma companheira e um companheiro desse grupo. Combinamos que eu faria a apresentação do grupo e o companheiro o convite ao Seminário.


Iniciamos por uma sala de ciências sociais e, logo em seguida, entramos em uma sala do curso de história. Ao entrar na sala, fui surpreendida por assovios intensos, logicamente direcionados a mim e a outra companheira. De cara, isso nos constrangeu, mas continuamos nos dirigindo à frente da sala, no intuito de concretizar a passagem.


Ao cumprimentar o professor que ministrava a aula (um professor MUITO conhecido na UFPE), fui mais uma vez surpreendida por uma frase do próprio professor, que dizia:

“você está deslumbrante com esse vestido amarelo”.


Um elogio à beleza feminina?

Não consigo expressar com palavras o que senti naquele momento. Era como se em uma fração de segundos eu tivesse passado de uma estudante para um corpo engarrafado em um vestido amarelo. A sala toda deu gargalhada. Na hora, o constrangimento se misturou a um sentimento de indignação, revolta.

Estava confusa! Não sabia se fazia mais sentido falar o que tinha planejado (a apresentação do grupo) ou iniciar uma discussão de gênero, falar sobre a posição da mulher na sociedade em que vivemos. Estou certa que a última alternativa era a mais oportuna, contudo confesso que não tive forças para fazer essa reflexão. Me senti pequena, senti que se eu falasse todos iriam rir da minha cara, me senti oprimida!

Quando já havia saído da sala escutei mais uma gargalhada coletiva. Certamente, o professor havia soltado mais uma piadinha. A revolta aumentou ainda mais, principalmente porque acabei sem conseguir, no momento, externar essa revolta e canalizá-la, no sentido de potencializar uma discussão mais profunda.

Veio uma série de coisas a minha cabeça: as propagandas de cerveja; a distribuição de revista pornô no CONED; meu pai me dizendo: você não pode ir ao estádio de futebol; a menina que falava no carro de som no CONUNE, enquanto as pessoas tapavam os ouvidos com as mãos, porque achavam sua voz “estridente”; minha mãe dizendo: arrume a casa e seu irmão vai pagar as contas e resolver os problemas mais sérios; as boates nas quais as mulheres entram de graça e servem de isca para atrair mais público... e minha angústia foi aumentando.

A opressão das mulheres é tão constante que já a naturalizamos; está tão próxima de nós que nem a percebemos mais. Eram mais de 40 alunos e todos riram, riram muito.

Sabemos que, historicamente a mulher foi “formada” para atuar no espaço privado, enquanto ao homem coube o espaço público. Todavia, não devemos saber também que o ser humano é contingente e hoje é impossível negar a conquista de espaço da mulher na nossa sociedade. E é importante pontuar que esse espaço não foi concedido! Foi conquistado através da organização e da luta das próprias mulheres.

O comentário do professor, relatado anteriormente, vem a evidenciar, além de uma sociedade, uma universidade extremamente conservadora, machista e completamente despreparada até para atender a demanda social ampla, que atualmente nos defrontamos. Entendo que a universidade deve ser sim um instrumento de transformação, tendo um papel tático na construção de uma sociedade mais solidária. Mas como romper com essa estrutura arcaica e cristalizada?

É preciso sim conquistar corações e mentes; é preciso sensibilizar. Precisamos unir nossas forças, juntar as nossas mãos, nos olharmos e nos reconhecermos como seres humanos e, assim, num mesmo ritmo, numa mesma dança, construiremos uma nova sociedade, uma nova concepção cidadania, onde qualquer forma de opressão não será admitida.

Edna
Estudante de Psicologia da UFPE

* Dois anos depois, entro no mestrado para discutir saúde e gênero. Mais dois anos depois, entro no Instituto PAPAI, uma ONG feminista. Trabalho com homens, masculinidades, tocando em questões delicadas como cuidado à saúde e violência. Tanta coisa construímos, mas... ainda hoje me surpreendo com esse texto, que, mesmo escrito há cinco anos atrás, ainda é tão atual. O caso da UNIBAN é só mais uma evidência disso.

quarta-feira, 11 de novembro de 2009

Minha música!

Não fui eu que fiz, mas é minha. Ele me deu. Meu amarelinho! E não poderia haver melhor presente.

"eu pensei que eu era
solto e sem destino
numa estrada escura
que não tinha fim
e nessa aventura
eu seguia em frente
entre tanta gente
sem saber de mim
feito um cão sem dono
vagando perdido
que até seu latido
o havia deixado
andou tantas léguas
mas desviou o seu caminho
encontrou na frente
criação de gado
e pensou num instante
agora tô garantido
pra tocar a vida em frente
ele então virou mugido

mas aí de repente
você veio até mim
segurou minha mão
aquecendo meu peito
e foi quando na estrada
percebi que era dia
e que minha agonia
de procurar teve fim
me levou pro céu
com esse sorriso largo
e agora eu não largo
de você nem um pouco
grito até ficar rouco
no nosso amor mais louco
e depois arrepio
cansado no fim
e ainda com o suor pingando
quase sussurrando
me diz eu te amo
e mesmo me beijando
vai me convindando
pra fazer denovo

vem morena
faz amor comigo
que no meu cinema
só teu filme é exibido
vem morena
tira meu juízo
que tu é pequena
mas é tudo que eu preciso"

sábado, 7 de novembro de 2009

Onde está a sensibilidade?

Daquele pai que vê a filha chegando, toda contente, dizendo que tirou10 naquela prova de matemática, e só diz: era pra ser 12!

Daquela pessoa amada que, após escutar tudo que você falou, com todo cuidado e dificuldade do mundo (porque tem assuntos que são difíceis mesmo) e, simplesmente, responde com o seu silêncio.

Daquela velha amiga que percebe, durante uma reunião, que a sua voz está embargada, que você não está legal, e diz: vai chorar é?

Daquela pessoa que, ao ver que você seguiu por um caminho diferente do que ela tinha indicado e se deu muito mal, bate as mãozinhas na mesa e diz: eu não disse?!

Daquela amiga que a vê nervosa, procurando algo que você não podia ter esquecido, e diz duas vezes seguidas (como se fosse resolver o problema): era de sua responsabilidade! Era de sua responsabilidade!

Daquele professor que você tanto admira e tanto se esforça para dar o seu melhor e ele não se dá o trabalho de tecer um elogio sequer, mesmo quando nitidamente aquele trabalho que você finalmente conseguiu fazer é digno de elogio.

Daquelas pessoas que insistem em trazer um velho assunto, que todo mundo sabe o quanto te faz mal.

Daquele que nunca pergunta como você está, mas, aceleradamente, conta-lhe o quanto sua vida está uma beleza.

Daquela que jamais consegue pedir desculpas e, por conseguinte, nem imagina o bem que essa palavra simples poderia fazer.

Daquela que se julga tão melhor que todo mundo, que jamais reconhece que o erro também pode ser seu.

Daqueles que não conseguem perceber que um distanciamento muitas vezes não é descaso. É também dificuldade.

Daquele que vê você se lascando todinha de trabalhar e, simplesmente, dorme.

Daquele que não entende que pode ser importante para você e despreza essa importância, convencendo-a também que você, definitivamente, não é importante.

Daqueles a-lunos que, ao invés de contribuir para a aula ser legal, continuam nas suas bolhas, falando mal do mundo, sem se sentirem parte dele.


Paro por aqui, mesmo com a certeza que poderia escrever mais tantas linhas e com a promessa de que um dia vou aprender a conviver com tanta falta de sensibilidade.

sexta-feira, 6 de novembro de 2009

Pontos fracos.

Aquelas coisas que você tenta esconder, mas não consegue. Aqueles assuntos que você faz de tudo para não tocar. Aquelas imagens que você faz de tudo para não rever, até porque, no fundo, aquele é um filme que você não queria que tivesse acontecido. Mas, mesmo com todas as tentativas, tudo isso vem, volta... e, quase sempre, de forma avassaladora. Dói. Porque têm feridas que não tem jeito... não saram nunca.