quarta-feira, 26 de janeiro de 2011

Capítulo 5: da rede para os sonhos.




Da rede, o cochilo. Do cochilo se fez finita a eternidade. Passaram-se dias, meses, anos, no balanço dos filmes que Flora assistiu durante aquele longo sono. Filmes que ela protagonizou ou teve o desejo de assim fazer; filmes que remetiam a um nós dois, estranhamente vivido ou, em alguns momentos, não vividos. Ela se deliciou e, talvez por isso, não quis acordar. Só lhe restavam os filmes nos sonhos deste longo sono.

O mais bonito deles se deu em Brasília, na áspera e “encardidinha” Brasília. Chovia e eles eram apenas pontos de uma imensidão de pessoas, de desejos e também de sonhos. Mas eles se encontraram numa noite, iluminada por uma linda lua, naquele espaço já tão familiar. Nesse dia, tomaram sopa, na Brasília dos bares que fecham cedo. Depois da sopa, cerveja clandestina. E, como num passe de mágica, a cerveja se fez dia. O dia fez dos dois ainda mais “dois”, no caminho de ser um. Se Flora visse o seu sorriso, enquanto sonhava, teria a dimensão de quanto aquele sonho era para ela sinônimo de felicidade.

Mas foi bom não ver. Assim, o sonho continua sendo sonho e ela não tem a dimensão de que eram lembranças. Aí também ela, certamente, conseguirá deixar que as lembranças continuem adormecidas.

Flora já embarcava para outra viagem (ou filme!), quando Lili docemente beijou o seu rosto, antes de sair para encontrar com Heitor, seu novo namorado. Flora acordou sem sustos e sentindo a paz que há em poder ser. Ser e, de alguma forma, controlar o que não tem que ser; ao mesmo tempo, sentiu que suas escolhas tinham levado sim ao caminho do colo, do beijo, do carinho e de nunca mais estar sozinha... seja com Lili, seja com a cadelinha Nina, seja com Heitor (que parece que ia mesmo integrar a família), seja com as lembranças ou sonhos.


*Apenas mais um capítulo daquela novelinha; um capítulo de tantos que ainda estão represados dentro de mim e na minha vida. E não é cena! É capítulo mesmo! Até porque cada linha poderia virar várias cenas, vários retratos de vida.

Nenhum comentário:

Postar um comentário