"escritas ou em branco. para os ditos e não-ditos. são páginas. páginas viradas. uma história contada que precisa sempre ser recontada. então, comecemos..."
Essa era a definição do blog que construímos há quase três anos. Construímos após a viagem à Chapada Diamantina, divisoras de águas na nossa vida. Tratava-se de uma história que seria escrita a oito mãos. Naquele momento, não conseguimos. Fora eu, apenas Cintia escrevu. Osa deu uma modificada na parte gráfica. Liu estava correndo e não conseguiu "se apropriar do espaço". Mas foi muito bom reler hoje e perceber como muito do escrito ainda é atual e forte! E tenho que dizer que deu MUITA vontade de voltar à Chapada e, assim, vivenciar no antes e no depois aqueles (ou outros!) turbilhões de sentimentos.Registro aqui os posts, com receio que se percam no blog antigo, que nem a senha tenho mais.
29.01.07. Vamos construir uma escada para lua?
Pode ser de barro, pintada com as cores do arco-íris.
Pode ser de nuvem, de luz; pode ser de abraços, de braços.
Muitos braços, muitas mãos, mas mãos sem pressa.
Será como fazer um carinho, um cafuné, porque é uma construção
que precisa ser feita beeeem devagarinho.
É preciso ter fé! Fé em Deus, fé nos homens, nas mulheres...
no degrau que virá! Sim, porque sempre haverá um
degrau para construir; haverá mais um pouco para subir.
Subiremos cada degrau; vislumbraremos cada nova paisagem...
na certeza de que um dia vamos chegar.
Mas o caminho já é a chegada! O caminho é feito de instantes.
Instantes, instantes... instantes para serem simplesmente sentidos. Sintamos!
20.01.07. A viagem (por Cintia)
Uma Viagem! Uma viagem não, A VIAGEM! Esse é o lugar certo: a Chapada Diamantina!
O começo para nos permitirmos simplesmente sentir... Sentirmos a vida, a natureza, a amizade, o amor, a simplicidade das pessoas, sentirmos a nós mesmas.
O começo do Quarteto Fantástico! Cada uma de seu jeito, com suas forças e fraquezas, mas com a certeza de uma amor eterno, mesmo que não seja presencialmente.
Com direito até a encontro marcado para daqui a vinte anos: 23/01/2027, em frente ao Acaica, às 17h. O começo de uma ano cheio de boas expectativas; o início de mudanças em nossas vidas.
Enfim, a possibilidade que precisávamos para viver com mais levez o nosso corrido dia-a-dia e sentirmos a nossa existência com mais tranquilidade...
Sem dúvida, a melhor viagem, com as melhores pessoas!!!
15.03.07. O tempo
O tempo de tocar-se,
tocar o novo .
De sentir,
sentir o novo.
Onde o áspero faz-se liso.
Mas o liso também se faz áspero .
O tempo. Ah! O tempo! Um tempo...
que som
transforma em música;
que a inquietude
veste de tranqüilidade.
Passa,
o tempo
passa,
passa,
sempre passa .
O tempo passa;
os gemidos se esvaem nos gozos;
e os suspiros se expressam em palavras.
Em versos,
mesmo que rasteiros... mesmo que reversos!
29.03.2007. Tum... tum...
É algo que pulsa, no ritmo das batidas, das minhas batidas, que se misturam e se transformam em nossas. É uma coisa que toca, toca de leve. E, ao tocar, acaricia, sossega, protege. Tem jeito de abraço, que se dá sem pressa, mas vem no meio de um desejo apressado. É a vontade de fundir-se, de dois fazer um... um "nós". Com um nó, cuidadosamente atado, no enlaço de mãos, de pernas... laços de vozes. Simples, como o preto no branco. Leve... e eu só preciso do silêncio para escutar as batidas... tum...tum...
11.05.08. Falando sério...
Uma matéria na Revista JC, no último domingo, chamou-me muita atenção ao se referir a “madrasta do bem”. Chamou tanta atenção que eu achei importante abrir uma brecha no cotidiano acelerado e procurar dialogar com parte do conteúdo da matéria.
Primeiro, achei importantíssimo se abrir esse espaço, no contexto que estamos vivendo. Eu tenho uma enteada de três anos e venho sentindo olhares diferentes e questionadores até quando, eventualmente, sou eu que vou buscá-la na Escola. Dá para entender o porquê dos olhares, mas, ao mesmo tempo, é preciso desmistificar essa figura da madrasta como do mal. Alguns livros até sugerem a nomeação de “mulher do pai”, com intuito de se despir dos preconceitos associados à figura da “má-drasta” – a que vem substituir a mãe.
Sem descartar a contribuição da matéria e, agora, falando como psicóloga; isto é, como uma profissional que, além de vivenciar essa experiência na pele, também vivencia na prática profissional, acredito que é preciso relativizar algumas coisas. Nesse sentido, o quadro na reportagem intitulado “uma relação delicada”, que traz algumas dicas de especialistas, causou-me incômodo. E, também como especialista, acredito que há outras vozes que poderiam ter visibilidade nesse momento da reportagem.
Primeiro, é preciso relativizar duas coisas: a idade do filho em questão e a configuração do término da relação conjugal, da qual o filho é fruto. Digo isso porque a experiência que vivo hoje, enquanto “mulher do pai”, com uma menina de três anos é muitíssimo diferente daquela que vivi como filha, quando tinha 13 anos e meus pais se separaram. Uma criança de três anos está em um momento do desenvolvimento psíquico, no qual a separação dos pais tende a ser menos dolorosa, uma vez que ela passará a se constituir como pessoa dentro de outro modelo de referência. Uma adolescente de 13 anos, ao ver seus pais se separando, tem o seu modelo de referência familiar quebrado e, consequentemente, essa quebra é somada a diversas crises, típicas desse momento do desenvolvimento de sua personalidade.
Essa diferença, aqui exemplificada pelos processos vivenciados por uma menina de 13 e outra de 03 anos, repercute diretamente na forma como as mesmas poderão se relacionar com “a mulher do pai”. Então, se o foco da reportagem era essas relações, penso que é central, ao lançar o olhar sobre as mesmas, considerar essas particularidades.
E, aí, as dicas trazidas pelo referido quadro, realmente, não consideram essas particularidades e acabam soando como receitas, em um momento de tanta complexidade, onde as recitas prontas são cada vez menos eficientes. Restringir-me-ei a apenas duas dessas dicas, a titulo de exemplo:
“A mulher do pai deve intervir o mínimo possível no dia-a-dia dos enteados. Ordens e regras de comportamento precisam ser dadas com o aval do pai”
“O pai pode estimular o vínculo entre a atual esposa e a mãe, para promover a educação infantil. Mas essa ligação não deve ser intensa e sim necessária apenas para tratar de assuntos envolvidos com a criação”.
No primeiro caso, é preciso ressaltar que, embora esse cuidado com a intervenção seja pertinente, dependendo dos dois fatores que coloquei (idade da criança e configuração do término da relação conjugal) é inevitável. Ao contrário, penso que a intervenção é até recomendável, uma vez que é importante também para a relação conjugal atual (atual esposa-pai) a co-responsabnilização em tudo, sobretudo, em algo tão importante como a educação e o dia-a-dia dos filhos. Nesse sentido, por mais que a relação não deva nunca ser de substituição, é preciso (às vezes, dolorosamente) reconhecer sim que as crianças poderão construir outras referências de pai e mãe em suas vidas. O cuidado é pra que isso não seja forçado.
No segundo caso, soa-me esquisito dizer que a relação não deve ser intensa, uma vez que penso que ela, por si só, já é. É necessário estar atento para o espaço que as duas partes da relação abrem. Se há espaço, acredito que uma relação de proximidade é sim importante e, mais ainda, fundamental para o filho envolvido.
Acredito que acabei escrevendo demais. Tantas inquietações, fruto da vivência e da própria experiência profissional... talvez a maior inquietação seja a de que vivo algo bem diferente. Tenho uma enteada de três anos, com a qual convivo muito bem, em uma relação de carinho e amor recíprocos. Ao mesmo tempo, tenho uma relação tranqüila com a sua mãe, expressa em algumas parcerias, como compra de matérias escolares, organização de aniversários, divisão de sofrimento e preocupação nos momentos de doença. Os problemas que temos são àqueles comuns a todas as relações humanas.
Teria algumas outras coisas para dizer, como, por exemplo, problematizar por que para o padrasto, ou seja, para o marido da mãe, esses questionamentos não são tão freqüentes... essas “crises” não são tão intensamente vividas? Talvez seja tema para outra matéria: discutir essas diferenças, já como uma questão de gênero, em uma sociedade ainda patriarcal e machista. Mas isso fica para depois!
Edna Granja
Psicóloga, mestre em psicologia pela UFPE e “mulher do pai” de Gabi.
20.09.08. Entre dividir e guardar...
Pois é! É o dilema dos últimos dias... talvez, por a felicidade ser tão intensa, a vontade de compartilhá-la e, de alguma forma, fazer com que ela contagie outros e outras também é igualmente intensa.
É interessante porque mesmo falando de felicidade não falo de algo pleno. Quero dizer que nem acredito em felicidade plena. A felicidade que sinto, que me encanta e me alimenta, é um sentimento composto por tantos outros sentimentos, muitas vezes tão contraditórios! As conquistas se misturam com as pressões, com os aperreios, com as expectativas de futuro, que vem com sonhos e medos... enfim, são tantas coisas. Alguns me perguntam: e como, ainda assim, falar em felicidade?
Penso que felicidade é olhar para trás, olhar para o hoje e se ver diferente, se ver melhor. É ver que o que antes era apenas planos ou sonhos hoje é realidade; é vivenciado. Não há nada melhor do que isso.
Um dia sonhei em encontrar um amor. Alguém com quem eu pudesse ser quem sou e que junto comigo alimentasse o sonho do "apaixonamento e re-apaixonamento cotidiano"... isso porque cresci escutando que um dia a paixão acaba e as relações esfriam, "mantendo-se pelo respeito". Encontrei um homem que há um ano e meio divide isso tudo comigo. Um homem lindo... o pai que eu sonhei para os meus filhos. Um homem que faz eu me apaixonar e re-apaixonar todos os dias; que me surpreende sempre! Alguns dizem: "é porque é o começo". E eu respondo: que esse começo dure para sempre! E, nas palavras de Cintia, que esse para sempre dure muito!
Um dia sonhei em conseguir um emprego que, além de me dar prazer, me desse condições de viver de forma digna. Sonhei em fazer mestrado, dutorado, em dar aulas. Eu fechava os olhos e já me via em sala de aula. E hoje, fora o doutorado que já está entre os planos próximos, faço todas essas coisas e acordo muitíssimo feliz por isso, todos os dias! Ainda como mestranda, sonhei em trabalhar no Instituto PAPAI - um lugar no qual sentia que podia me encontrar profissionalmente e politicamente... um lugar que, para mim, ao longo da minha formação, se fez referência. E, hoje, também posso por isso comemorar: eu sou a mais nova assistente de projetos do Instituto PAPAI. Noooossa!
Poderia continuar uma longa lista de conquistas, de passos bem dados... passos meus e de pessoas muito próximas, que eu vejo crescendo, crescendo e conquistando tudo que sonharam. São pessoas que conquistam, perdem... e são felizes, mesmo assim... assim como eu. Aí me pergunto: não seria melhor guardar tudo isso, com o intuito de não gerar energias negativas? Ou é melhor dividir com as pessoas queridas, que gostam de mim e que, certamente, ficarão um pouco mais feliz ao me ver feliz?
Difícil escolha! Desde que Pai Bob me disse, ainda em 2007, em Salvador, que são "muitos olhos" em cima de mim, sinto que desenvolvi, nas palavras de Tiago, umas "idéias persecutórias", como se sempre tivesse alguém ocupado em me destruir. Coisa louca essa, né? Um sentimento desagradável! Mas o pior é que é um sentimento que é corroborado por algumas tentativas de me passar a perna e ainda por pessoas que resolvem dar "piti", quando percebem essa felicidade... como uma tentativa de, ao menos, borrrá-la. Como se eu, ou as pessoas que estão ao meu lado, não tivesse o direito de ser feliz.
Pois quero dizer que tenho direito e vou desfrutar disso tudo sim.... e quem quiser que venha comigo, que beba um pouco disso, que usufrua um pouco dessas boas energias. E, mesmo com essa preocupação, que vem com o questionamento de "dividir ou guardar?", quero dizer que, ao menos hoje, não vou calar o grito de felicidade, não vou reprimir o desejo de abraçar as pessoas mais queridas e fazê-las um pouco mais felizes... não vou!
Talvez o que eu vivo hoje seja a felicidade da libertação. É com nem um pouco de orgulho que aqui confesso que, durante algum tempo, vivi a "felicidade da comparação". Na verdade, acho que dessa forma não é nem possível falar em felicidade, porque você acaba saindo se comparando com um monte de gente... pega o melhor de cada pessoa e se compara com aquilo (eu queria ser divertida como fulana, inteligente como sicrana, desenrolada como beltrana...). O resultado é insatisfação, frustração.
É! Pelo menos para mim, o sentir-me feliz veio junto com a libertação de certas "referências" e aceitação do meu lugar no mundo. A aceitação de que falo, vale ressaltar, nunca é passiva, já que as referências também podem nos motivar a crescer e a buscar o que queremos. Vamos dizer que a aceitação tem um caráter menos dramático e doloroso, à medida em que você reconhece, com tranquilidade, tanto o seu lugar, quanto as suas possibilidades diante desse lugar.
Para ser feliz, penso que é preciso também escolher com cautela qual vai ser o seu alimento. Isto é, quem são as pessoas que quero por perto, em que páginas de orkut devo entrar e não entrar. Digo isso porque percebo que, de forma muito interessante, tendemos a buscar o que nos faz mal, o que coloca pulgas atrás de nossas orelhas e até o que nos faz sentir menores.
Falando dessa história de orkut... até pensei em sair! Pensei porque era só entrar na página do orkut que a minha mão era tomada por uma força que me levava por caminhos já estabelecidos.... me levava a endereços que propiciavam encontros com sensações que mais na frente vi que não constróem nada! Talvez porque intensifiquem as ditas comparações, frustrações... enfim, que coisa louca é esse orkut! Acredito que, se eu soubesse que saindo não teria mais como entrar e manter esse movimento, eu até tomava uma atitude drástica e cometeria um "orkutcídio". Mas tenho certeza que, se eu sair, vou continuar vendo pelo de Lucas ou pelo de Cintia. Acaba dando no mesmo!
Para mim, hoje, é mais interessante ensaiar formas mais saudáveis de convivência com esse tal de orkut. Formas com as quais eu cultive mais e envie mais enrgias boas do que ruins. Vamos ver... na verdade, essa tentativa está só começando. É muito provável que essa tentativa de me relacionar melhor com o orkut faça parte da retomada de um movimento de "descarrego" e busca de novas e boas energias, por mim intensamente vivenciado no final de 2006/ início de 2007.
Naqueles tempos... me juntei com Turla, Cintia e Liu, a partir da idéia de levar a vida de uma forma diferente. Talvez, a grande sacada tenha sido começarmos a ser mais rigorosas na identificação do que realmente é essencial e do que é secundário nas nossas vidas, E aí acabamos seguindo em busca do essencial... seguimos juntas!
Está aí! Conseguir diferenciar o essencial do secundário! Será esse o caminho da felcidade? Se pensarmos na quantidade de tempo e de energias que gastamos com coisas bobas, talvez seja sim...
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