No final de novembro, vivemos o dia internacional de luta pelo fim da violência contra as mulheres. Muitos acham uma bobagem, mas não há como negar que ainda vivemos no estado onde se registra o maior número de violências contra as mulheres. O pior é pensar que esse número, que já e grande, não é verdadeiro, já que é dado com base na quantidade de denúncias. Sabemos que a quantidade de mulheres que sofre violência e não denuncia é enorme e, com certeza, faz com que os números divulgados sejam bem menores do que os reais.
Atualmente, algumas pesquisadoras desenvolvem a tese que o fenômeno da violência urbana, de forma geral, tem origem na violência doméstica, sobretudo, naquela direcionada à mulher. Ao que parece, o fato de conviver com a violência desde a mais tenra infância contribui para que essa seja naturalizada e os atos violentos são assim, muitas vezes, considerados legítimos. Pense bem... se você cresce convivendo com a violência cotidianamente, sem muitas vezes ter acesso a outras referenciais de relação, por que não repitir isso nas relações lá fora?
A violência quando a mulher trai ou quando ela não cumpre tarefas, tais como cuidar bem do lar, parecem ser mais aceitas. As novelas apresentam cotidianamente essa “autorização”. Recentemente, nA Favorita, muita gente vibrou quando Dedina, que traiu o prefeito Elias, foi arrastada e apanhou em praça pública. A cena era bem emblemática, porque mostrava pessoas na praça, assistindo a cena e seriamente balançando a cabeça, com aquele ar de “bem feito”. Mas em que medida a violência é justificável? Penso que em nenhuma.
O que mais me espanta é como essa mesma violência, que já matou 291 mulheres no estado de Pernambuco, só esse ano, ainda veste a roupa de piada. E não é por pessoas sem “esclarecimento” não! Ultimamente, assisti a um vídeo de pessoas bem legais, que se reúnem mensalmente em um bar, para se confraternizar, tocar, beber. A música tocada entusiasmadamente era “ela ficou vesga”, que conta a história de uma mulher que apanhou feio do marido. Aí me lembrei do Quanta Ladeira, um bloco de pessoas super legais, e da música “se a mulher encher, se a mulher encher, chegando em casa dou um pau, se a mulher encher”.
Fico, realmente, assustada com a habilidade de fazer piada com assuntos tão sérios. Não consigo rir e, certamente, sou chamada de chata por muitos. E sou! Sou chata e intolerante, nesse sentido. Talvez, se todos se recusassem a rir, a fazer piadas com esses assuntos tão sérios, a gente conseguiria mudar um monte de coisa, nessa sociedade ainda tão desigual. A violência contra as mulheres não tem graça nenhuma!
O problema é que são essas pessoas que continuam vendo como coisas distintas o seu “eu” e da “sociedade”. São essas mesmas pessoas que enchem a boca para fazer discursos super críticos e duros, do tipo “a sociedade faz isso; ou o governo faz aquilo”, e não se implicam jamais nos problemas sociais que atravessam o cotidiano e, por isso, também são nossos. Tão nossos que a nossa forma de se posicionar ou não nos espaços está diretamente atrelada à superação ou manutenção de tais problemas.
É! Chatice! Trincheira, como diria meu cunhado. Me rotulem do que quiserem... mas seguirei lutando e me posicionando, diante de cada ato de opressão, seja ele qual for. E seguirei perto, cada vez mais perto, das pessoas que assim se colocam no mundo... de forma responsável, crítica e comprometida com a superação de tantas desigualdades.
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