no gerúndio da mudança, que começa em mim, passa pelos outros, termina e recomeça em mim...
segunda-feira, 28 de dezembro de 2009
Capítulo 3: azul.
Estava tudo coloridamente azul... Flora via, escutava e respirava em azul. Uma tranqüilidade que não condizia com o turbilhão de sentimentos que vivenciava. Submerso na tranqüilidade daquele azul, estava um coração (ou dois) exageradamente pulsante, em ritmo de encontro. Um encontro de pés, no azul do toque. Um toque entre pés, sentido nos lábios, como um beijo. E o corpo se fez lábios. E o momento se fez beijo. Em um azul tão bonito quanto inexplicável. Flora sentia-se como há alguns anos atrás. Flora voltava a simplesmente sentir a si. A sensação era de encaixe, tão preciso que chegava a ter algo de assustador. Continente. Plenitude. Sensação só interrompida pelo toque do despertador. Hora de acordar. Flora olha para o lado e se vê na mesma cama, sufocada pelo mesmo calor de um dia de verão, esmagada nas suas possibilidades restritas de ser. Tentou fechar os olhos e voltar a se encontrar com o azul. Não mais conseguiu.
terça-feira, 22 de dezembro de 2009
2009
Nem eu agüento mais me escutar xingando o ano de 2009 e torcer para que ele se encerre logo. Hoje, senti remorso por isso. De fato, não posso dizer que 2009 foi um ano ruim.
Profissionalmente, foi o ano de colocar a mão na massa. Me apropriei melhor dos lugares que já estava e me lancei em novos desafios. Doeu bastante... mas, para mim, que sempre disse que “aprender dói”, essa dor já devia ser esperada. É bom encontrar cotidianamente sentidos no meu trabalho... me reconhecer como um tijolinho na construção de uma sociedade diferente, mais fraterna, menos desigual. Foi uma delícia trabalhar com jovens! Sempre disse que era melhor falar sobre juventude-adolescências do que lidar com eles. Hoje digo que pode até ser mais fácil, mas não melhor, não mais prazeroso. Cutucar, tocar e sentir o quanto isso provoca transformações é realmente entusiasmante! Estar à frente de uma equipe também foi um enorme desafio, que envolveu jogo de cintura, muito estudo e muita reflexão. Como aprendi!
Amorosamente, também vivi um ano desafiador. Fora o acidente, o dedo quebrado... sinto que foi o ano de nos reconhecermos. A descoberta da vida a dois, por dois... foi muito difícil para nós. Nos estranhamos, nos desentendemos feio. Chegamos mesmo a pensar em desistir. Só que tudo que vivemos fez também com que nos deparássemos com a grandiosidade e a dimensão do nosso amor. Um amor que surge do encontro de tantas diferenças; que se consolida no colo que somos sempre um para outro; no assunto que nunca acaba e, por mais distante que seja, nunca é chato. A curiosidade e admiração que temos um pelo outro fica não só como saldo do ano, mas como combustível para continuarmos caminhando juntos.
Senti foi uma falta danada das minhas amigas de sempre. Foi um ano de me sentir longe de Cintia-e-turla e isso doeu bastante. Principalmente porque o desejo de querer estar perto em nenhum momento deixou de existir. Mas, efetivamente, não consegui (ou não conseguimos) administrar o tempo, exageradamente corrido. Também me senti longe, querendo estar perto, de Dudu e Fafa. Deu saudade de tudo que vivemos e daquilo que não conseguimos viver, diante desse meu jeito desajeitado de ser (ou não ser) amiga. Por outro lado, continuei me sentindo perto de Nara. Incrível como nossa cumplicidade está até nisso. Como ela vive a mesma “dificuldade” que eu, criamos uma forma tão sincera de nos aceitar assim que não há tempo ruim e acabamos conseguindo nos fazer presentes nos momentos mais importantes. Descobri Larissa. Pois é! A ex do meu marido deixou de ser ex e passou a ser simplesmente minha amiga. A aproximação foi inevitável, até porque ela era, entre as amigas, a pessoa que eu mais via. E, no decorrer desse ano, esse “ver” se tornou também uma necessidade. Uma sintonia tremenda, que vai desde uma mensagem que envio,quando ela não está bem até um encontro repentino, quando eu estou aos prantos. É massa (e muito bonito!) perceber a relação que conseguimos construir e ter a certeza que ela está para além das obrigações de boa convivência. Tive boas surpresas... algumas alunas/os passaram a ser companheiros/as e amigos/as. E outras pessoas, contingencialmente distantes, fizeram-se presentes em momentos bem importantes. Minha conversa com Gabis, pelo Google Talk que o diga. Encontrei em meus sogros também grandes amigos. Mais do que o carinho entre pessoas da mesma família, encontrei colo, conforto e a certeza de não estar sozinha. Encontrei amizade onde já havia desistido. Como é bom olhar para Mari e, depois de tantos desentendimentos, me ver usufruindo prazerosamente da sua companhia, da nossa parceria no trabalho.
Foi um ano também de sentir falta da minha família, dos meus irmãos... falta de viver na mesma casa, de brigar só por conviver muito. Tivemos bem menos momentos juntos no ano do que eu gostaria, mas foram todos muito bons. É indescritível a sensação de querer ser como o meu irmão, admirá-lo tanto que chego a me emocionar, diante do homem que ele se tornou. Já minha irmã ainda me preocupa. É muito parecida com minha mãe. Me preocupo com elas e como as coisas são (ou se tornam) difíceis para elas. O amor é tão imenso que fico torcendo para que as coisas se tornem mais fáceis e tentando me fazer presente, mesmo com as distâncias impostas. Já com meu pai, sinto que foi o ano de só olhar para o lado bom. Experimentar um afeto que andava meio adormecido e tentar dividir (apenas um pouco) de vida com ele.
Intenso! 2009 foi mesmo intenso! Talvez por isso me sinta tão pesada. Parece que foram cinco anos em um. E isso realmente não é o que desejo para 2010. Mas que bom também que foi um ano de muito crescimento.
Profissionalmente, foi o ano de colocar a mão na massa. Me apropriei melhor dos lugares que já estava e me lancei em novos desafios. Doeu bastante... mas, para mim, que sempre disse que “aprender dói”, essa dor já devia ser esperada. É bom encontrar cotidianamente sentidos no meu trabalho... me reconhecer como um tijolinho na construção de uma sociedade diferente, mais fraterna, menos desigual. Foi uma delícia trabalhar com jovens! Sempre disse que era melhor falar sobre juventude-adolescências do que lidar com eles. Hoje digo que pode até ser mais fácil, mas não melhor, não mais prazeroso. Cutucar, tocar e sentir o quanto isso provoca transformações é realmente entusiasmante! Estar à frente de uma equipe também foi um enorme desafio, que envolveu jogo de cintura, muito estudo e muita reflexão. Como aprendi!
Amorosamente, também vivi um ano desafiador. Fora o acidente, o dedo quebrado... sinto que foi o ano de nos reconhecermos. A descoberta da vida a dois, por dois... foi muito difícil para nós. Nos estranhamos, nos desentendemos feio. Chegamos mesmo a pensar em desistir. Só que tudo que vivemos fez também com que nos deparássemos com a grandiosidade e a dimensão do nosso amor. Um amor que surge do encontro de tantas diferenças; que se consolida no colo que somos sempre um para outro; no assunto que nunca acaba e, por mais distante que seja, nunca é chato. A curiosidade e admiração que temos um pelo outro fica não só como saldo do ano, mas como combustível para continuarmos caminhando juntos.
Senti foi uma falta danada das minhas amigas de sempre. Foi um ano de me sentir longe de Cintia-e-turla e isso doeu bastante. Principalmente porque o desejo de querer estar perto em nenhum momento deixou de existir. Mas, efetivamente, não consegui (ou não conseguimos) administrar o tempo, exageradamente corrido. Também me senti longe, querendo estar perto, de Dudu e Fafa. Deu saudade de tudo que vivemos e daquilo que não conseguimos viver, diante desse meu jeito desajeitado de ser (ou não ser) amiga. Por outro lado, continuei me sentindo perto de Nara. Incrível como nossa cumplicidade está até nisso. Como ela vive a mesma “dificuldade” que eu, criamos uma forma tão sincera de nos aceitar assim que não há tempo ruim e acabamos conseguindo nos fazer presentes nos momentos mais importantes. Descobri Larissa. Pois é! A ex do meu marido deixou de ser ex e passou a ser simplesmente minha amiga. A aproximação foi inevitável, até porque ela era, entre as amigas, a pessoa que eu mais via. E, no decorrer desse ano, esse “ver” se tornou também uma necessidade. Uma sintonia tremenda, que vai desde uma mensagem que envio,quando ela não está bem até um encontro repentino, quando eu estou aos prantos. É massa (e muito bonito!) perceber a relação que conseguimos construir e ter a certeza que ela está para além das obrigações de boa convivência. Tive boas surpresas... algumas alunas/os passaram a ser companheiros/as e amigos/as. E outras pessoas, contingencialmente distantes, fizeram-se presentes em momentos bem importantes. Minha conversa com Gabis, pelo Google Talk que o diga. Encontrei em meus sogros também grandes amigos. Mais do que o carinho entre pessoas da mesma família, encontrei colo, conforto e a certeza de não estar sozinha. Encontrei amizade onde já havia desistido. Como é bom olhar para Mari e, depois de tantos desentendimentos, me ver usufruindo prazerosamente da sua companhia, da nossa parceria no trabalho.
Foi um ano também de sentir falta da minha família, dos meus irmãos... falta de viver na mesma casa, de brigar só por conviver muito. Tivemos bem menos momentos juntos no ano do que eu gostaria, mas foram todos muito bons. É indescritível a sensação de querer ser como o meu irmão, admirá-lo tanto que chego a me emocionar, diante do homem que ele se tornou. Já minha irmã ainda me preocupa. É muito parecida com minha mãe. Me preocupo com elas e como as coisas são (ou se tornam) difíceis para elas. O amor é tão imenso que fico torcendo para que as coisas se tornem mais fáceis e tentando me fazer presente, mesmo com as distâncias impostas. Já com meu pai, sinto que foi o ano de só olhar para o lado bom. Experimentar um afeto que andava meio adormecido e tentar dividir (apenas um pouco) de vida com ele.
Intenso! 2009 foi mesmo intenso! Talvez por isso me sinta tão pesada. Parece que foram cinco anos em um. E isso realmente não é o que desejo para 2010. Mas que bom também que foi um ano de muito crescimento.
quarta-feira, 9 de dezembro de 2009
Capítulo 2: do ponto (.) aos dois pontos (:)
Ela enviou a carta, pelo correio, como antigamente. Porque precisava ir com a letra dela, com o cheiro dela, com parte dela... afinal, ela queria mesmo era poder (e conseguir!) dizer isso olhando para ele. É bem verdade que ela já havia tentado, mas, quando seus olhos se encontraram com os dele, não teve jeito. Ele riu, disse que ela era ainda mais linda por dizer isso, mas ela sentiu que, definitivamente, ele não acreditou em uma palavra.
Acho até que ele entendeu que era isso que ela queria sentir. Entendeu também o quanto ela estava se esforçando para dizer aquilo para ele e também para ela. Porque dizer para ele era sim uma forma de convencer a si.
A carta foi e tornou a noite seguinte ainda mais nostálgica. Flora já era uma menina nostálgica. Gostava de viver das lembranças vividas e até das não vividas. Tinha coisa que, mesmo com muita conexão com o vivido, ela simplesmente criava. E o exercício de ir além, de chegar até onde o não vivido estava, era realmente o que lhe deliciava.
Menina sonhadora. Da pele clara e olhos negros. Cabelos crespos. Flora era o Brasil... nas suas misturas, na sua dimensão, em seus sonhos... e, nessa noite, em seu coração. Era o Brasil em pleno carnaval, pulsante, contagiante, feliz. Porque enviar essa carta significava bastante.
Havia um quê de libertação nisso. Flora acreditava assim ter se libertado de um sentimento que lhe aprisionava em uma posição de cega desejante. Ao sentir-se simbolicamente cega e, com isso, reduzir suas censuras e interdições, poderia até falar em liberdade. O problema era que o desejo era tamanho, que ela se sentia aprisionada a essa intensidade.
É bem verdade que ela já quis desejá-lo menos. Mas foi essa tentativa, durante muito tempo, que lhe desgastou e fez com que ela descobrisse que não era possível. Ela quis não desejá-lo. Acreditou que não havia como viver meio termos e resolveu ir de encontro a esse desejo. Deixou de ver, de falar em seu nome, de enviar cartas, de olhar as fotos. Mas, diante da possibilidade de encontro, ela nunca resistia e, mais uma vez, não conseguia conter tamanho desejo.
Foi só aí que ela resolveu que o caminho era abdicar. Abdicar feito os pais abdicam das coisas em nome dos filhos; as pessoas abdicam das tentações mundanas em nome de Deus. Ela resolveu abdicar de tanto desejo. Agora sim parece que ela havia encontrado o melhor caminho. Afinal, também como o Brasil ou grande parte dos brasileiros, Flora sempre foi forte, determinada. Certamente, ela iria conseguir. E ela estava em festa por isso.
Os dias se passaram... um, dois, três, quatro dias... até que ela recebe uma mensagem em seu celular. A 17ª do dia. Ela já nem tinha mais paciência de ler. Imaginou que fosse de Lili, sua filha, já que 10 das 17 anteriores foram. Mas não foi.
A mensagem dizia: “Não sabia que você esteve aqui. Eu não estava. Precisamos conversar e sentir algumas coisas, ao vivo, antes de qualquer conclusão. Te amo muito!”.
Flora rapidamente apagou a mensagem do celular. Apertou o celular em seu peito, sentiu um frio na barriga, um coração batendo meio desesperado e subitamente sorriu.
A ambivalência do sentimento se materializou e escolheu o pólo (entre o sim e o não; o gostar e o não gostar; a alegria e a tristeza...) na mensagem que ela o enviou: “Sim. Conversaremos sim, sobretudo porque também amo você”.
O ponto (.)transformou-se em dois pontos (:) e eles ficaram pulando dentro de Flora, esperando a história que ainda está por vir, que ainda será escrita.
Acho até que ele entendeu que era isso que ela queria sentir. Entendeu também o quanto ela estava se esforçando para dizer aquilo para ele e também para ela. Porque dizer para ele era sim uma forma de convencer a si.
A carta foi e tornou a noite seguinte ainda mais nostálgica. Flora já era uma menina nostálgica. Gostava de viver das lembranças vividas e até das não vividas. Tinha coisa que, mesmo com muita conexão com o vivido, ela simplesmente criava. E o exercício de ir além, de chegar até onde o não vivido estava, era realmente o que lhe deliciava.
Menina sonhadora. Da pele clara e olhos negros. Cabelos crespos. Flora era o Brasil... nas suas misturas, na sua dimensão, em seus sonhos... e, nessa noite, em seu coração. Era o Brasil em pleno carnaval, pulsante, contagiante, feliz. Porque enviar essa carta significava bastante.
Havia um quê de libertação nisso. Flora acreditava assim ter se libertado de um sentimento que lhe aprisionava em uma posição de cega desejante. Ao sentir-se simbolicamente cega e, com isso, reduzir suas censuras e interdições, poderia até falar em liberdade. O problema era que o desejo era tamanho, que ela se sentia aprisionada a essa intensidade.
É bem verdade que ela já quis desejá-lo menos. Mas foi essa tentativa, durante muito tempo, que lhe desgastou e fez com que ela descobrisse que não era possível. Ela quis não desejá-lo. Acreditou que não havia como viver meio termos e resolveu ir de encontro a esse desejo. Deixou de ver, de falar em seu nome, de enviar cartas, de olhar as fotos. Mas, diante da possibilidade de encontro, ela nunca resistia e, mais uma vez, não conseguia conter tamanho desejo.
Foi só aí que ela resolveu que o caminho era abdicar. Abdicar feito os pais abdicam das coisas em nome dos filhos; as pessoas abdicam das tentações mundanas em nome de Deus. Ela resolveu abdicar de tanto desejo. Agora sim parece que ela havia encontrado o melhor caminho. Afinal, também como o Brasil ou grande parte dos brasileiros, Flora sempre foi forte, determinada. Certamente, ela iria conseguir. E ela estava em festa por isso.
Os dias se passaram... um, dois, três, quatro dias... até que ela recebe uma mensagem em seu celular. A 17ª do dia. Ela já nem tinha mais paciência de ler. Imaginou que fosse de Lili, sua filha, já que 10 das 17 anteriores foram. Mas não foi.
A mensagem dizia: “Não sabia que você esteve aqui. Eu não estava. Precisamos conversar e sentir algumas coisas, ao vivo, antes de qualquer conclusão. Te amo muito!”.
Flora rapidamente apagou a mensagem do celular. Apertou o celular em seu peito, sentiu um frio na barriga, um coração batendo meio desesperado e subitamente sorriu.
A ambivalência do sentimento se materializou e escolheu o pólo (entre o sim e o não; o gostar e o não gostar; a alegria e a tristeza...) na mensagem que ela o enviou: “Sim. Conversaremos sim, sobretudo porque também amo você”.
O ponto (.)transformou-se em dois pontos (:) e eles ficaram pulando dentro de Flora, esperando a história que ainda está por vir, que ainda será escrita.
segunda-feira, 7 de dezembro de 2009
Solidão
Pois é! Jamais pensei que isso pudesse acontecer. Definitivamente, sou vítima de mim. Da minha sobrecarga de trabalho, do meu pouco tempo para os amigos, sobretudo, para cultivá-los. Hoje, me sinto um tanto sozinha. Com um marido que não me acompanha, a não ser quando eu o acompanho, nas suas atividades. Talvez, ele seja também vítima de si. Se duas amigas não me atendem, não me sinto à vontade para ligar para outras pessoas. E acabo sempre preferindo a cama, um livro, adiantar um trabalho, ou fazer nada no computador. Aí fico no computador até ninguém estar mais on line. Procuro aquela menina alegre, alto astral, que vivia na farra, rodeada de amigos, com toda disposição do mundo e que tinha um marido igualmente alegre. Não acho mais.
Não é fácil escrever isso, mas sinto que escrever é também me comprometer a mudar e construir um outro modo de existência. Certamente, não aquele de anos atrás. Mas, com certeza, uma forma mais leve e feliz. É! Acho que definitivamente é chegada a hora de “abandonar as roupas usadas, que já têm a forma do nosso corpo”, mesmo que elas estejam no nosso corpo a um relativo pouco tempo... é chegada mesmo a hora de mudar, por mais doloroso que isso possa parecer.
Não é fácil escrever isso, mas sinto que escrever é também me comprometer a mudar e construir um outro modo de existência. Certamente, não aquele de anos atrás. Mas, com certeza, uma forma mais leve e feliz. É! Acho que definitivamente é chegada a hora de “abandonar as roupas usadas, que já têm a forma do nosso corpo”, mesmo que elas estejam no nosso corpo a um relativo pouco tempo... é chegada mesmo a hora de mudar, por mais doloroso que isso possa parecer.
sábado, 5 de dezembro de 2009
Desentendimentos
De repente, um “lenço” recai sobre o seu pé, mas parece que foi uma pesada pedra. Você grita ou, como no meu caso, você tenta respirar e falta ar... dói, como uma mão enorme esmagando o seu coração. E logo, diante da dor, vem um sentimento pequeno: se ele, descuidado, deixou essa pedra cair, deixarei cair uma ainda maior em seu pé. Aí você parte para o ataque! Só que, quando joga a pedra no pé dele, a pedra, de tão grande que é, também bate no seu pé. Mas o problema não é só o tamanho da pedra.
É aí que você percebe que os seus pés andam juntos, muito juntos, e, com todas as dificuldades, na maioria das vezes, andam no mesmo ritmo. Talvez por isso seja tão difícil reconhecer a falta de ritmo.
Apenas dois segundos se passaram. Ainda bem que foram só dois segundos... diante das horas vivenciadas antes e das que ainda serão depois. É aí que você deixa de olhar para o pé e olha nos olhos, escuta a voz e lembra que, se o “lenço” doeu tanto, foi porque ele é muito importante. E, no mundo em que vivemos, não dá para desistir das pessoas importantes. Elas são raras. Tão raras quanto os sentimentos importantes. Talvez esses sejam ainda mais raros!
É aí que vocês resolvem voltar a caminhar juntos e a procurar aquele mesmo ritmo. Com a certeza que irá encontrar. Afinal, o que é ritmo, quando há amor?
O pior (ou melhor) é que você se surpreende, ao descobrir que a queda daquele “lenço” não foi proposital. Ao dar uma chance e escutá-lo, ele explica que tava cansado, porque manter o ritmo com você não é a tarefa mais simples. Acabou tropeçando e, só por isso, o pesado “lenço” caiu. Ele se desculpa.
Antes de desculpá-lo, você olha para você e reconhece que, realmente, manter o ritmo com você não é uma tarefa fácil. Até porque, às vezes, nem você mesma consegue acompanhar você. Você volta a olhar para os olhos dele e, dessa vez, você pede desculpas. Desculpas por correr tanto que deixou de se preocupar com o ritmo dele. Não há como pensar em dois, se um pensa mais em um.
Você fala baixinho, com dificuldade, porque pedir desculpas não é uma coisa fácil! Principalmente, se esse pedido vem acompanhado do compromisso de fazer diferente. Ele simplesmente aceita seu pedido e segura na sua mão.
Vocês seguem no caminho de vocês, ensaiando um novo ritmo. Ritmo! Porque é certo que já não basta só o amor. E, buscando o mesmo ritmo, o amor se re-encontra com o respeito, com aquela imensa admiração, que faz você vê-lo (e ele vê-la também!) para além dos erros... vem também os sonhos compartilhados. Você olha para si e, com a mão dele em sua barriga, você descobre que vocês não são mais dois. São três... se não (ainda) concretamente, no desejo e, mais uma vez, nos sonhos. Porque é ele (apenas ele) que foi escolhido. Não em uma questão de múltipla escolha. Ele foi escolhido, quando aqueles sininhos tocaram no seu coração.
Com isso, você tem a certeza que nada mudou. Ou muda sempre, na medida em que mudam-se as cores. Cria-se um novo e belo colorido. A dor some na respiração seguinte a que veio.
É aí que você percebe que os seus pés andam juntos, muito juntos, e, com todas as dificuldades, na maioria das vezes, andam no mesmo ritmo. Talvez por isso seja tão difícil reconhecer a falta de ritmo.
Apenas dois segundos se passaram. Ainda bem que foram só dois segundos... diante das horas vivenciadas antes e das que ainda serão depois. É aí que você deixa de olhar para o pé e olha nos olhos, escuta a voz e lembra que, se o “lenço” doeu tanto, foi porque ele é muito importante. E, no mundo em que vivemos, não dá para desistir das pessoas importantes. Elas são raras. Tão raras quanto os sentimentos importantes. Talvez esses sejam ainda mais raros!
É aí que vocês resolvem voltar a caminhar juntos e a procurar aquele mesmo ritmo. Com a certeza que irá encontrar. Afinal, o que é ritmo, quando há amor?
O pior (ou melhor) é que você se surpreende, ao descobrir que a queda daquele “lenço” não foi proposital. Ao dar uma chance e escutá-lo, ele explica que tava cansado, porque manter o ritmo com você não é a tarefa mais simples. Acabou tropeçando e, só por isso, o pesado “lenço” caiu. Ele se desculpa.
Antes de desculpá-lo, você olha para você e reconhece que, realmente, manter o ritmo com você não é uma tarefa fácil. Até porque, às vezes, nem você mesma consegue acompanhar você. Você volta a olhar para os olhos dele e, dessa vez, você pede desculpas. Desculpas por correr tanto que deixou de se preocupar com o ritmo dele. Não há como pensar em dois, se um pensa mais em um.
Você fala baixinho, com dificuldade, porque pedir desculpas não é uma coisa fácil! Principalmente, se esse pedido vem acompanhado do compromisso de fazer diferente. Ele simplesmente aceita seu pedido e segura na sua mão.
Vocês seguem no caminho de vocês, ensaiando um novo ritmo. Ritmo! Porque é certo que já não basta só o amor. E, buscando o mesmo ritmo, o amor se re-encontra com o respeito, com aquela imensa admiração, que faz você vê-lo (e ele vê-la também!) para além dos erros... vem também os sonhos compartilhados. Você olha para si e, com a mão dele em sua barriga, você descobre que vocês não são mais dois. São três... se não (ainda) concretamente, no desejo e, mais uma vez, nos sonhos. Porque é ele (apenas ele) que foi escolhido. Não em uma questão de múltipla escolha. Ele foi escolhido, quando aqueles sininhos tocaram no seu coração.
Com isso, você tem a certeza que nada mudou. Ou muda sempre, na medida em que mudam-se as cores. Cria-se um novo e belo colorido. A dor some na respiração seguinte a que veio.
sexta-feira, 4 de dezembro de 2009
Capítulo 1: convite (muito) importante!*
"Convido você para fazer parte da minha vida, como parte dela. Nada de exceções. Nada de para além... convido você para conhecer a minha casa, conhecer a minha família, quem sabe até dividir um pouco do meu cotidiano.
Convido-o após reconhecer o quanto de você há em mim, seja como presença, seja como vontade de presença. Convido-o após olhar para você, para mim, para nós e perceber o quanto somos mais do que dois corpos, explodindo de desejo (mesmo reconhecendo que somos muito isso também).
Estive aí por dois dias e, hoje, voltei para casa. Dessa vez, escolhi voltar para casa, já que na última vez que estive aí, depois de ver você, quase não consegui fazer isso. Espero que compreenda. E que receba o meu amor, nas condições que posso oferecê-lo hoje. Para mim isso é muito importante. Você, junto a todos os esforços de ressignificação, continua sendo importante. E isso não tenho a menor pretensão de mudar.
Um abraço bem apertado,
Flora."
*o início da minha "novela"!
Convido-o após reconhecer o quanto de você há em mim, seja como presença, seja como vontade de presença. Convido-o após olhar para você, para mim, para nós e perceber o quanto somos mais do que dois corpos, explodindo de desejo (mesmo reconhecendo que somos muito isso também).
Estive aí por dois dias e, hoje, voltei para casa. Dessa vez, escolhi voltar para casa, já que na última vez que estive aí, depois de ver você, quase não consegui fazer isso. Espero que compreenda. E que receba o meu amor, nas condições que posso oferecê-lo hoje. Para mim isso é muito importante. Você, junto a todos os esforços de ressignificação, continua sendo importante. E isso não tenho a menor pretensão de mudar.
Um abraço bem apertado,
Flora."
*o início da minha "novela"!
quinta-feira, 3 de dezembro de 2009
Páginas...
"escritas ou em branco. para os ditos e não-ditos. são páginas. páginas viradas. uma história contada que precisa sempre ser recontada. então, comecemos..."
Essa era a definição do blog que construímos há quase três anos. Construímos após a viagem à Chapada Diamantina, divisoras de águas na nossa vida. Tratava-se de uma história que seria escrita a oito mãos. Naquele momento, não conseguimos. Fora eu, apenas Cintia escrevu. Osa deu uma modificada na parte gráfica. Liu estava correndo e não conseguiu "se apropriar do espaço". Mas foi muito bom reler hoje e perceber como muito do escrito ainda é atual e forte! E tenho que dizer que deu MUITA vontade de voltar à Chapada e, assim, vivenciar no antes e no depois aqueles (ou outros!) turbilhões de sentimentos.Registro aqui os posts, com receio que se percam no blog antigo, que nem a senha tenho mais.
29.01.07. Vamos construir uma escada para lua?
Pode ser de barro, pintada com as cores do arco-íris.
Pode ser de nuvem, de luz; pode ser de abraços, de braços.
Muitos braços, muitas mãos, mas mãos sem pressa.
Será como fazer um carinho, um cafuné, porque é uma construção
que precisa ser feita beeeem devagarinho.
É preciso ter fé! Fé em Deus, fé nos homens, nas mulheres...
no degrau que virá! Sim, porque sempre haverá um
degrau para construir; haverá mais um pouco para subir.
Subiremos cada degrau; vislumbraremos cada nova paisagem...
na certeza de que um dia vamos chegar.
Mas o caminho já é a chegada! O caminho é feito de instantes.
Instantes, instantes... instantes para serem simplesmente sentidos. Sintamos!
20.01.07. A viagem (por Cintia)
Uma Viagem! Uma viagem não, A VIAGEM! Esse é o lugar certo: a Chapada Diamantina!
O começo para nos permitirmos simplesmente sentir... Sentirmos a vida, a natureza, a amizade, o amor, a simplicidade das pessoas, sentirmos a nós mesmas.
O começo do Quarteto Fantástico! Cada uma de seu jeito, com suas forças e fraquezas, mas com a certeza de uma amor eterno, mesmo que não seja presencialmente.
Com direito até a encontro marcado para daqui a vinte anos: 23/01/2027, em frente ao Acaica, às 17h. O começo de uma ano cheio de boas expectativas; o início de mudanças em nossas vidas.
Enfim, a possibilidade que precisávamos para viver com mais levez o nosso corrido dia-a-dia e sentirmos a nossa existência com mais tranquilidade...
Sem dúvida, a melhor viagem, com as melhores pessoas!!!
15.03.07. O tempo
O tempo de tocar-se,
tocar o novo .
De sentir,
sentir o novo.
Onde o áspero faz-se liso.
Mas o liso também se faz áspero .
O tempo. Ah! O tempo! Um tempo...
que som
transforma em música;
que a inquietude
veste de tranqüilidade.
Passa,
o tempo
passa,
passa,
sempre passa .
O tempo passa;
os gemidos se esvaem nos gozos;
e os suspiros se expressam em palavras.
Em versos,
mesmo que rasteiros... mesmo que reversos!
29.03.2007. Tum... tum...
É algo que pulsa, no ritmo das batidas, das minhas batidas, que se misturam e se transformam em nossas. É uma coisa que toca, toca de leve. E, ao tocar, acaricia, sossega, protege. Tem jeito de abraço, que se dá sem pressa, mas vem no meio de um desejo apressado. É a vontade de fundir-se, de dois fazer um... um "nós". Com um nó, cuidadosamente atado, no enlaço de mãos, de pernas... laços de vozes. Simples, como o preto no branco. Leve... e eu só preciso do silêncio para escutar as batidas... tum...tum...
11.05.08. Falando sério...
Uma matéria na Revista JC, no último domingo, chamou-me muita atenção ao se referir a “madrasta do bem”. Chamou tanta atenção que eu achei importante abrir uma brecha no cotidiano acelerado e procurar dialogar com parte do conteúdo da matéria.
Primeiro, achei importantíssimo se abrir esse espaço, no contexto que estamos vivendo. Eu tenho uma enteada de três anos e venho sentindo olhares diferentes e questionadores até quando, eventualmente, sou eu que vou buscá-la na Escola. Dá para entender o porquê dos olhares, mas, ao mesmo tempo, é preciso desmistificar essa figura da madrasta como do mal. Alguns livros até sugerem a nomeação de “mulher do pai”, com intuito de se despir dos preconceitos associados à figura da “má-drasta” – a que vem substituir a mãe.
Sem descartar a contribuição da matéria e, agora, falando como psicóloga; isto é, como uma profissional que, além de vivenciar essa experiência na pele, também vivencia na prática profissional, acredito que é preciso relativizar algumas coisas. Nesse sentido, o quadro na reportagem intitulado “uma relação delicada”, que traz algumas dicas de especialistas, causou-me incômodo. E, também como especialista, acredito que há outras vozes que poderiam ter visibilidade nesse momento da reportagem.
Primeiro, é preciso relativizar duas coisas: a idade do filho em questão e a configuração do término da relação conjugal, da qual o filho é fruto. Digo isso porque a experiência que vivo hoje, enquanto “mulher do pai”, com uma menina de três anos é muitíssimo diferente daquela que vivi como filha, quando tinha 13 anos e meus pais se separaram. Uma criança de três anos está em um momento do desenvolvimento psíquico, no qual a separação dos pais tende a ser menos dolorosa, uma vez que ela passará a se constituir como pessoa dentro de outro modelo de referência. Uma adolescente de 13 anos, ao ver seus pais se separando, tem o seu modelo de referência familiar quebrado e, consequentemente, essa quebra é somada a diversas crises, típicas desse momento do desenvolvimento de sua personalidade.
Essa diferença, aqui exemplificada pelos processos vivenciados por uma menina de 13 e outra de 03 anos, repercute diretamente na forma como as mesmas poderão se relacionar com “a mulher do pai”. Então, se o foco da reportagem era essas relações, penso que é central, ao lançar o olhar sobre as mesmas, considerar essas particularidades.
E, aí, as dicas trazidas pelo referido quadro, realmente, não consideram essas particularidades e acabam soando como receitas, em um momento de tanta complexidade, onde as recitas prontas são cada vez menos eficientes. Restringir-me-ei a apenas duas dessas dicas, a titulo de exemplo:
“A mulher do pai deve intervir o mínimo possível no dia-a-dia dos enteados. Ordens e regras de comportamento precisam ser dadas com o aval do pai”
“O pai pode estimular o vínculo entre a atual esposa e a mãe, para promover a educação infantil. Mas essa ligação não deve ser intensa e sim necessária apenas para tratar de assuntos envolvidos com a criação”.
No primeiro caso, é preciso ressaltar que, embora esse cuidado com a intervenção seja pertinente, dependendo dos dois fatores que coloquei (idade da criança e configuração do término da relação conjugal) é inevitável. Ao contrário, penso que a intervenção é até recomendável, uma vez que é importante também para a relação conjugal atual (atual esposa-pai) a co-responsabnilização em tudo, sobretudo, em algo tão importante como a educação e o dia-a-dia dos filhos. Nesse sentido, por mais que a relação não deva nunca ser de substituição, é preciso (às vezes, dolorosamente) reconhecer sim que as crianças poderão construir outras referências de pai e mãe em suas vidas. O cuidado é pra que isso não seja forçado.
No segundo caso, soa-me esquisito dizer que a relação não deve ser intensa, uma vez que penso que ela, por si só, já é. É necessário estar atento para o espaço que as duas partes da relação abrem. Se há espaço, acredito que uma relação de proximidade é sim importante e, mais ainda, fundamental para o filho envolvido.
Acredito que acabei escrevendo demais. Tantas inquietações, fruto da vivência e da própria experiência profissional... talvez a maior inquietação seja a de que vivo algo bem diferente. Tenho uma enteada de três anos, com a qual convivo muito bem, em uma relação de carinho e amor recíprocos. Ao mesmo tempo, tenho uma relação tranqüila com a sua mãe, expressa em algumas parcerias, como compra de matérias escolares, organização de aniversários, divisão de sofrimento e preocupação nos momentos de doença. Os problemas que temos são àqueles comuns a todas as relações humanas.
Teria algumas outras coisas para dizer, como, por exemplo, problematizar por que para o padrasto, ou seja, para o marido da mãe, esses questionamentos não são tão freqüentes... essas “crises” não são tão intensamente vividas? Talvez seja tema para outra matéria: discutir essas diferenças, já como uma questão de gênero, em uma sociedade ainda patriarcal e machista. Mas isso fica para depois!
Edna Granja
Psicóloga, mestre em psicologia pela UFPE e “mulher do pai” de Gabi.
20.09.08. Entre dividir e guardar...
Pois é! É o dilema dos últimos dias... talvez, por a felicidade ser tão intensa, a vontade de compartilhá-la e, de alguma forma, fazer com que ela contagie outros e outras também é igualmente intensa.
É interessante porque mesmo falando de felicidade não falo de algo pleno. Quero dizer que nem acredito em felicidade plena. A felicidade que sinto, que me encanta e me alimenta, é um sentimento composto por tantos outros sentimentos, muitas vezes tão contraditórios! As conquistas se misturam com as pressões, com os aperreios, com as expectativas de futuro, que vem com sonhos e medos... enfim, são tantas coisas. Alguns me perguntam: e como, ainda assim, falar em felicidade?
Penso que felicidade é olhar para trás, olhar para o hoje e se ver diferente, se ver melhor. É ver que o que antes era apenas planos ou sonhos hoje é realidade; é vivenciado. Não há nada melhor do que isso.
Um dia sonhei em encontrar um amor. Alguém com quem eu pudesse ser quem sou e que junto comigo alimentasse o sonho do "apaixonamento e re-apaixonamento cotidiano"... isso porque cresci escutando que um dia a paixão acaba e as relações esfriam, "mantendo-se pelo respeito". Encontrei um homem que há um ano e meio divide isso tudo comigo. Um homem lindo... o pai que eu sonhei para os meus filhos. Um homem que faz eu me apaixonar e re-apaixonar todos os dias; que me surpreende sempre! Alguns dizem: "é porque é o começo". E eu respondo: que esse começo dure para sempre! E, nas palavras de Cintia, que esse para sempre dure muito!
Um dia sonhei em conseguir um emprego que, além de me dar prazer, me desse condições de viver de forma digna. Sonhei em fazer mestrado, dutorado, em dar aulas. Eu fechava os olhos e já me via em sala de aula. E hoje, fora o doutorado que já está entre os planos próximos, faço todas essas coisas e acordo muitíssimo feliz por isso, todos os dias! Ainda como mestranda, sonhei em trabalhar no Instituto PAPAI - um lugar no qual sentia que podia me encontrar profissionalmente e politicamente... um lugar que, para mim, ao longo da minha formação, se fez referência. E, hoje, também posso por isso comemorar: eu sou a mais nova assistente de projetos do Instituto PAPAI. Noooossa!
Poderia continuar uma longa lista de conquistas, de passos bem dados... passos meus e de pessoas muito próximas, que eu vejo crescendo, crescendo e conquistando tudo que sonharam. São pessoas que conquistam, perdem... e são felizes, mesmo assim... assim como eu. Aí me pergunto: não seria melhor guardar tudo isso, com o intuito de não gerar energias negativas? Ou é melhor dividir com as pessoas queridas, que gostam de mim e que, certamente, ficarão um pouco mais feliz ao me ver feliz?
Difícil escolha! Desde que Pai Bob me disse, ainda em 2007, em Salvador, que são "muitos olhos" em cima de mim, sinto que desenvolvi, nas palavras de Tiago, umas "idéias persecutórias", como se sempre tivesse alguém ocupado em me destruir. Coisa louca essa, né? Um sentimento desagradável! Mas o pior é que é um sentimento que é corroborado por algumas tentativas de me passar a perna e ainda por pessoas que resolvem dar "piti", quando percebem essa felicidade... como uma tentativa de, ao menos, borrrá-la. Como se eu, ou as pessoas que estão ao meu lado, não tivesse o direito de ser feliz.
Pois quero dizer que tenho direito e vou desfrutar disso tudo sim.... e quem quiser que venha comigo, que beba um pouco disso, que usufrua um pouco dessas boas energias. E, mesmo com essa preocupação, que vem com o questionamento de "dividir ou guardar?", quero dizer que, ao menos hoje, não vou calar o grito de felicidade, não vou reprimir o desejo de abraçar as pessoas mais queridas e fazê-las um pouco mais felizes... não vou!
Talvez o que eu vivo hoje seja a felicidade da libertação. É com nem um pouco de orgulho que aqui confesso que, durante algum tempo, vivi a "felicidade da comparação". Na verdade, acho que dessa forma não é nem possível falar em felicidade, porque você acaba saindo se comparando com um monte de gente... pega o melhor de cada pessoa e se compara com aquilo (eu queria ser divertida como fulana, inteligente como sicrana, desenrolada como beltrana...). O resultado é insatisfação, frustração.
É! Pelo menos para mim, o sentir-me feliz veio junto com a libertação de certas "referências" e aceitação do meu lugar no mundo. A aceitação de que falo, vale ressaltar, nunca é passiva, já que as referências também podem nos motivar a crescer e a buscar o que queremos. Vamos dizer que a aceitação tem um caráter menos dramático e doloroso, à medida em que você reconhece, com tranquilidade, tanto o seu lugar, quanto as suas possibilidades diante desse lugar.
Para ser feliz, penso que é preciso também escolher com cautela qual vai ser o seu alimento. Isto é, quem são as pessoas que quero por perto, em que páginas de orkut devo entrar e não entrar. Digo isso porque percebo que, de forma muito interessante, tendemos a buscar o que nos faz mal, o que coloca pulgas atrás de nossas orelhas e até o que nos faz sentir menores.
Falando dessa história de orkut... até pensei em sair! Pensei porque era só entrar na página do orkut que a minha mão era tomada por uma força que me levava por caminhos já estabelecidos.... me levava a endereços que propiciavam encontros com sensações que mais na frente vi que não constróem nada! Talvez porque intensifiquem as ditas comparações, frustrações... enfim, que coisa louca é esse orkut! Acredito que, se eu soubesse que saindo não teria mais como entrar e manter esse movimento, eu até tomava uma atitude drástica e cometeria um "orkutcídio". Mas tenho certeza que, se eu sair, vou continuar vendo pelo de Lucas ou pelo de Cintia. Acaba dando no mesmo!
Para mim, hoje, é mais interessante ensaiar formas mais saudáveis de convivência com esse tal de orkut. Formas com as quais eu cultive mais e envie mais enrgias boas do que ruins. Vamos ver... na verdade, essa tentativa está só começando. É muito provável que essa tentativa de me relacionar melhor com o orkut faça parte da retomada de um movimento de "descarrego" e busca de novas e boas energias, por mim intensamente vivenciado no final de 2006/ início de 2007.
Naqueles tempos... me juntei com Turla, Cintia e Liu, a partir da idéia de levar a vida de uma forma diferente. Talvez, a grande sacada tenha sido começarmos a ser mais rigorosas na identificação do que realmente é essencial e do que é secundário nas nossas vidas, E aí acabamos seguindo em busca do essencial... seguimos juntas!
Está aí! Conseguir diferenciar o essencial do secundário! Será esse o caminho da felcidade? Se pensarmos na quantidade de tempo e de energias que gastamos com coisas bobas, talvez seja sim...
Essa era a definição do blog que construímos há quase três anos. Construímos após a viagem à Chapada Diamantina, divisoras de águas na nossa vida. Tratava-se de uma história que seria escrita a oito mãos. Naquele momento, não conseguimos. Fora eu, apenas Cintia escrevu. Osa deu uma modificada na parte gráfica. Liu estava correndo e não conseguiu "se apropriar do espaço". Mas foi muito bom reler hoje e perceber como muito do escrito ainda é atual e forte! E tenho que dizer que deu MUITA vontade de voltar à Chapada e, assim, vivenciar no antes e no depois aqueles (ou outros!) turbilhões de sentimentos.Registro aqui os posts, com receio que se percam no blog antigo, que nem a senha tenho mais.
29.01.07. Vamos construir uma escada para lua?
Pode ser de barro, pintada com as cores do arco-íris.
Pode ser de nuvem, de luz; pode ser de abraços, de braços.
Muitos braços, muitas mãos, mas mãos sem pressa.
Será como fazer um carinho, um cafuné, porque é uma construção
que precisa ser feita beeeem devagarinho.
É preciso ter fé! Fé em Deus, fé nos homens, nas mulheres...
no degrau que virá! Sim, porque sempre haverá um
degrau para construir; haverá mais um pouco para subir.
Subiremos cada degrau; vislumbraremos cada nova paisagem...
na certeza de que um dia vamos chegar.
Mas o caminho já é a chegada! O caminho é feito de instantes.
Instantes, instantes... instantes para serem simplesmente sentidos. Sintamos!
20.01.07. A viagem (por Cintia)
Uma Viagem! Uma viagem não, A VIAGEM! Esse é o lugar certo: a Chapada Diamantina!
O começo para nos permitirmos simplesmente sentir... Sentirmos a vida, a natureza, a amizade, o amor, a simplicidade das pessoas, sentirmos a nós mesmas.
O começo do Quarteto Fantástico! Cada uma de seu jeito, com suas forças e fraquezas, mas com a certeza de uma amor eterno, mesmo que não seja presencialmente.
Com direito até a encontro marcado para daqui a vinte anos: 23/01/2027, em frente ao Acaica, às 17h. O começo de uma ano cheio de boas expectativas; o início de mudanças em nossas vidas.
Enfim, a possibilidade que precisávamos para viver com mais levez o nosso corrido dia-a-dia e sentirmos a nossa existência com mais tranquilidade...
Sem dúvida, a melhor viagem, com as melhores pessoas!!!
15.03.07. O tempo
O tempo de tocar-se,
tocar o novo .
De sentir,
sentir o novo.
Onde o áspero faz-se liso.
Mas o liso também se faz áspero .
O tempo. Ah! O tempo! Um tempo...
que som
transforma em música;
que a inquietude
veste de tranqüilidade.
Passa,
o tempo
passa,
passa,
sempre passa .
O tempo passa;
os gemidos se esvaem nos gozos;
e os suspiros se expressam em palavras.
Em versos,
mesmo que rasteiros... mesmo que reversos!
29.03.2007. Tum... tum...
É algo que pulsa, no ritmo das batidas, das minhas batidas, que se misturam e se transformam em nossas. É uma coisa que toca, toca de leve. E, ao tocar, acaricia, sossega, protege. Tem jeito de abraço, que se dá sem pressa, mas vem no meio de um desejo apressado. É a vontade de fundir-se, de dois fazer um... um "nós". Com um nó, cuidadosamente atado, no enlaço de mãos, de pernas... laços de vozes. Simples, como o preto no branco. Leve... e eu só preciso do silêncio para escutar as batidas... tum...tum...
11.05.08. Falando sério...
Uma matéria na Revista JC, no último domingo, chamou-me muita atenção ao se referir a “madrasta do bem”. Chamou tanta atenção que eu achei importante abrir uma brecha no cotidiano acelerado e procurar dialogar com parte do conteúdo da matéria.
Primeiro, achei importantíssimo se abrir esse espaço, no contexto que estamos vivendo. Eu tenho uma enteada de três anos e venho sentindo olhares diferentes e questionadores até quando, eventualmente, sou eu que vou buscá-la na Escola. Dá para entender o porquê dos olhares, mas, ao mesmo tempo, é preciso desmistificar essa figura da madrasta como do mal. Alguns livros até sugerem a nomeação de “mulher do pai”, com intuito de se despir dos preconceitos associados à figura da “má-drasta” – a que vem substituir a mãe.
Sem descartar a contribuição da matéria e, agora, falando como psicóloga; isto é, como uma profissional que, além de vivenciar essa experiência na pele, também vivencia na prática profissional, acredito que é preciso relativizar algumas coisas. Nesse sentido, o quadro na reportagem intitulado “uma relação delicada”, que traz algumas dicas de especialistas, causou-me incômodo. E, também como especialista, acredito que há outras vozes que poderiam ter visibilidade nesse momento da reportagem.
Primeiro, é preciso relativizar duas coisas: a idade do filho em questão e a configuração do término da relação conjugal, da qual o filho é fruto. Digo isso porque a experiência que vivo hoje, enquanto “mulher do pai”, com uma menina de três anos é muitíssimo diferente daquela que vivi como filha, quando tinha 13 anos e meus pais se separaram. Uma criança de três anos está em um momento do desenvolvimento psíquico, no qual a separação dos pais tende a ser menos dolorosa, uma vez que ela passará a se constituir como pessoa dentro de outro modelo de referência. Uma adolescente de 13 anos, ao ver seus pais se separando, tem o seu modelo de referência familiar quebrado e, consequentemente, essa quebra é somada a diversas crises, típicas desse momento do desenvolvimento de sua personalidade.
Essa diferença, aqui exemplificada pelos processos vivenciados por uma menina de 13 e outra de 03 anos, repercute diretamente na forma como as mesmas poderão se relacionar com “a mulher do pai”. Então, se o foco da reportagem era essas relações, penso que é central, ao lançar o olhar sobre as mesmas, considerar essas particularidades.
E, aí, as dicas trazidas pelo referido quadro, realmente, não consideram essas particularidades e acabam soando como receitas, em um momento de tanta complexidade, onde as recitas prontas são cada vez menos eficientes. Restringir-me-ei a apenas duas dessas dicas, a titulo de exemplo:
“A mulher do pai deve intervir o mínimo possível no dia-a-dia dos enteados. Ordens e regras de comportamento precisam ser dadas com o aval do pai”
“O pai pode estimular o vínculo entre a atual esposa e a mãe, para promover a educação infantil. Mas essa ligação não deve ser intensa e sim necessária apenas para tratar de assuntos envolvidos com a criação”.
No primeiro caso, é preciso ressaltar que, embora esse cuidado com a intervenção seja pertinente, dependendo dos dois fatores que coloquei (idade da criança e configuração do término da relação conjugal) é inevitável. Ao contrário, penso que a intervenção é até recomendável, uma vez que é importante também para a relação conjugal atual (atual esposa-pai) a co-responsabnilização em tudo, sobretudo, em algo tão importante como a educação e o dia-a-dia dos filhos. Nesse sentido, por mais que a relação não deva nunca ser de substituição, é preciso (às vezes, dolorosamente) reconhecer sim que as crianças poderão construir outras referências de pai e mãe em suas vidas. O cuidado é pra que isso não seja forçado.
No segundo caso, soa-me esquisito dizer que a relação não deve ser intensa, uma vez que penso que ela, por si só, já é. É necessário estar atento para o espaço que as duas partes da relação abrem. Se há espaço, acredito que uma relação de proximidade é sim importante e, mais ainda, fundamental para o filho envolvido.
Acredito que acabei escrevendo demais. Tantas inquietações, fruto da vivência e da própria experiência profissional... talvez a maior inquietação seja a de que vivo algo bem diferente. Tenho uma enteada de três anos, com a qual convivo muito bem, em uma relação de carinho e amor recíprocos. Ao mesmo tempo, tenho uma relação tranqüila com a sua mãe, expressa em algumas parcerias, como compra de matérias escolares, organização de aniversários, divisão de sofrimento e preocupação nos momentos de doença. Os problemas que temos são àqueles comuns a todas as relações humanas.
Teria algumas outras coisas para dizer, como, por exemplo, problematizar por que para o padrasto, ou seja, para o marido da mãe, esses questionamentos não são tão freqüentes... essas “crises” não são tão intensamente vividas? Talvez seja tema para outra matéria: discutir essas diferenças, já como uma questão de gênero, em uma sociedade ainda patriarcal e machista. Mas isso fica para depois!
Edna Granja
Psicóloga, mestre em psicologia pela UFPE e “mulher do pai” de Gabi.
20.09.08. Entre dividir e guardar...
Pois é! É o dilema dos últimos dias... talvez, por a felicidade ser tão intensa, a vontade de compartilhá-la e, de alguma forma, fazer com que ela contagie outros e outras também é igualmente intensa.
É interessante porque mesmo falando de felicidade não falo de algo pleno. Quero dizer que nem acredito em felicidade plena. A felicidade que sinto, que me encanta e me alimenta, é um sentimento composto por tantos outros sentimentos, muitas vezes tão contraditórios! As conquistas se misturam com as pressões, com os aperreios, com as expectativas de futuro, que vem com sonhos e medos... enfim, são tantas coisas. Alguns me perguntam: e como, ainda assim, falar em felicidade?
Penso que felicidade é olhar para trás, olhar para o hoje e se ver diferente, se ver melhor. É ver que o que antes era apenas planos ou sonhos hoje é realidade; é vivenciado. Não há nada melhor do que isso.
Um dia sonhei em encontrar um amor. Alguém com quem eu pudesse ser quem sou e que junto comigo alimentasse o sonho do "apaixonamento e re-apaixonamento cotidiano"... isso porque cresci escutando que um dia a paixão acaba e as relações esfriam, "mantendo-se pelo respeito". Encontrei um homem que há um ano e meio divide isso tudo comigo. Um homem lindo... o pai que eu sonhei para os meus filhos. Um homem que faz eu me apaixonar e re-apaixonar todos os dias; que me surpreende sempre! Alguns dizem: "é porque é o começo". E eu respondo: que esse começo dure para sempre! E, nas palavras de Cintia, que esse para sempre dure muito!
Um dia sonhei em conseguir um emprego que, além de me dar prazer, me desse condições de viver de forma digna. Sonhei em fazer mestrado, dutorado, em dar aulas. Eu fechava os olhos e já me via em sala de aula. E hoje, fora o doutorado que já está entre os planos próximos, faço todas essas coisas e acordo muitíssimo feliz por isso, todos os dias! Ainda como mestranda, sonhei em trabalhar no Instituto PAPAI - um lugar no qual sentia que podia me encontrar profissionalmente e politicamente... um lugar que, para mim, ao longo da minha formação, se fez referência. E, hoje, também posso por isso comemorar: eu sou a mais nova assistente de projetos do Instituto PAPAI. Noooossa!
Poderia continuar uma longa lista de conquistas, de passos bem dados... passos meus e de pessoas muito próximas, que eu vejo crescendo, crescendo e conquistando tudo que sonharam. São pessoas que conquistam, perdem... e são felizes, mesmo assim... assim como eu. Aí me pergunto: não seria melhor guardar tudo isso, com o intuito de não gerar energias negativas? Ou é melhor dividir com as pessoas queridas, que gostam de mim e que, certamente, ficarão um pouco mais feliz ao me ver feliz?
Difícil escolha! Desde que Pai Bob me disse, ainda em 2007, em Salvador, que são "muitos olhos" em cima de mim, sinto que desenvolvi, nas palavras de Tiago, umas "idéias persecutórias", como se sempre tivesse alguém ocupado em me destruir. Coisa louca essa, né? Um sentimento desagradável! Mas o pior é que é um sentimento que é corroborado por algumas tentativas de me passar a perna e ainda por pessoas que resolvem dar "piti", quando percebem essa felicidade... como uma tentativa de, ao menos, borrrá-la. Como se eu, ou as pessoas que estão ao meu lado, não tivesse o direito de ser feliz.
Pois quero dizer que tenho direito e vou desfrutar disso tudo sim.... e quem quiser que venha comigo, que beba um pouco disso, que usufrua um pouco dessas boas energias. E, mesmo com essa preocupação, que vem com o questionamento de "dividir ou guardar?", quero dizer que, ao menos hoje, não vou calar o grito de felicidade, não vou reprimir o desejo de abraçar as pessoas mais queridas e fazê-las um pouco mais felizes... não vou!
Talvez o que eu vivo hoje seja a felicidade da libertação. É com nem um pouco de orgulho que aqui confesso que, durante algum tempo, vivi a "felicidade da comparação". Na verdade, acho que dessa forma não é nem possível falar em felicidade, porque você acaba saindo se comparando com um monte de gente... pega o melhor de cada pessoa e se compara com aquilo (eu queria ser divertida como fulana, inteligente como sicrana, desenrolada como beltrana...). O resultado é insatisfação, frustração.
É! Pelo menos para mim, o sentir-me feliz veio junto com a libertação de certas "referências" e aceitação do meu lugar no mundo. A aceitação de que falo, vale ressaltar, nunca é passiva, já que as referências também podem nos motivar a crescer e a buscar o que queremos. Vamos dizer que a aceitação tem um caráter menos dramático e doloroso, à medida em que você reconhece, com tranquilidade, tanto o seu lugar, quanto as suas possibilidades diante desse lugar.
Para ser feliz, penso que é preciso também escolher com cautela qual vai ser o seu alimento. Isto é, quem são as pessoas que quero por perto, em que páginas de orkut devo entrar e não entrar. Digo isso porque percebo que, de forma muito interessante, tendemos a buscar o que nos faz mal, o que coloca pulgas atrás de nossas orelhas e até o que nos faz sentir menores.
Falando dessa história de orkut... até pensei em sair! Pensei porque era só entrar na página do orkut que a minha mão era tomada por uma força que me levava por caminhos já estabelecidos.... me levava a endereços que propiciavam encontros com sensações que mais na frente vi que não constróem nada! Talvez porque intensifiquem as ditas comparações, frustrações... enfim, que coisa louca é esse orkut! Acredito que, se eu soubesse que saindo não teria mais como entrar e manter esse movimento, eu até tomava uma atitude drástica e cometeria um "orkutcídio". Mas tenho certeza que, se eu sair, vou continuar vendo pelo de Lucas ou pelo de Cintia. Acaba dando no mesmo!
Para mim, hoje, é mais interessante ensaiar formas mais saudáveis de convivência com esse tal de orkut. Formas com as quais eu cultive mais e envie mais enrgias boas do que ruins. Vamos ver... na verdade, essa tentativa está só começando. É muito provável que essa tentativa de me relacionar melhor com o orkut faça parte da retomada de um movimento de "descarrego" e busca de novas e boas energias, por mim intensamente vivenciado no final de 2006/ início de 2007.
Naqueles tempos... me juntei com Turla, Cintia e Liu, a partir da idéia de levar a vida de uma forma diferente. Talvez, a grande sacada tenha sido começarmos a ser mais rigorosas na identificação do que realmente é essencial e do que é secundário nas nossas vidas, E aí acabamos seguindo em busca do essencial... seguimos juntas!
Está aí! Conseguir diferenciar o essencial do secundário! Será esse o caminho da felcidade? Se pensarmos na quantidade de tempo e de energias que gastamos com coisas bobas, talvez seja sim...
terça-feira, 1 de dezembro de 2009
Violência contra as mulheres não tem graça nenhuma
No final de novembro, vivemos o dia internacional de luta pelo fim da violência contra as mulheres. Muitos acham uma bobagem, mas não há como negar que ainda vivemos no estado onde se registra o maior número de violências contra as mulheres. O pior é pensar que esse número, que já e grande, não é verdadeiro, já que é dado com base na quantidade de denúncias. Sabemos que a quantidade de mulheres que sofre violência e não denuncia é enorme e, com certeza, faz com que os números divulgados sejam bem menores do que os reais.
Atualmente, algumas pesquisadoras desenvolvem a tese que o fenômeno da violência urbana, de forma geral, tem origem na violência doméstica, sobretudo, naquela direcionada à mulher. Ao que parece, o fato de conviver com a violência desde a mais tenra infância contribui para que essa seja naturalizada e os atos violentos são assim, muitas vezes, considerados legítimos. Pense bem... se você cresce convivendo com a violência cotidianamente, sem muitas vezes ter acesso a outras referenciais de relação, por que não repitir isso nas relações lá fora?
A violência quando a mulher trai ou quando ela não cumpre tarefas, tais como cuidar bem do lar, parecem ser mais aceitas. As novelas apresentam cotidianamente essa “autorização”. Recentemente, nA Favorita, muita gente vibrou quando Dedina, que traiu o prefeito Elias, foi arrastada e apanhou em praça pública. A cena era bem emblemática, porque mostrava pessoas na praça, assistindo a cena e seriamente balançando a cabeça, com aquele ar de “bem feito”. Mas em que medida a violência é justificável? Penso que em nenhuma.
O que mais me espanta é como essa mesma violência, que já matou 291 mulheres no estado de Pernambuco, só esse ano, ainda veste a roupa de piada. E não é por pessoas sem “esclarecimento” não! Ultimamente, assisti a um vídeo de pessoas bem legais, que se reúnem mensalmente em um bar, para se confraternizar, tocar, beber. A música tocada entusiasmadamente era “ela ficou vesga”, que conta a história de uma mulher que apanhou feio do marido. Aí me lembrei do Quanta Ladeira, um bloco de pessoas super legais, e da música “se a mulher encher, se a mulher encher, chegando em casa dou um pau, se a mulher encher”.
Fico, realmente, assustada com a habilidade de fazer piada com assuntos tão sérios. Não consigo rir e, certamente, sou chamada de chata por muitos. E sou! Sou chata e intolerante, nesse sentido. Talvez, se todos se recusassem a rir, a fazer piadas com esses assuntos tão sérios, a gente conseguiria mudar um monte de coisa, nessa sociedade ainda tão desigual. A violência contra as mulheres não tem graça nenhuma!
O problema é que são essas pessoas que continuam vendo como coisas distintas o seu “eu” e da “sociedade”. São essas mesmas pessoas que enchem a boca para fazer discursos super críticos e duros, do tipo “a sociedade faz isso; ou o governo faz aquilo”, e não se implicam jamais nos problemas sociais que atravessam o cotidiano e, por isso, também são nossos. Tão nossos que a nossa forma de se posicionar ou não nos espaços está diretamente atrelada à superação ou manutenção de tais problemas.
É! Chatice! Trincheira, como diria meu cunhado. Me rotulem do que quiserem... mas seguirei lutando e me posicionando, diante de cada ato de opressão, seja ele qual for. E seguirei perto, cada vez mais perto, das pessoas que assim se colocam no mundo... de forma responsável, crítica e comprometida com a superação de tantas desigualdades.
Atualmente, algumas pesquisadoras desenvolvem a tese que o fenômeno da violência urbana, de forma geral, tem origem na violência doméstica, sobretudo, naquela direcionada à mulher. Ao que parece, o fato de conviver com a violência desde a mais tenra infância contribui para que essa seja naturalizada e os atos violentos são assim, muitas vezes, considerados legítimos. Pense bem... se você cresce convivendo com a violência cotidianamente, sem muitas vezes ter acesso a outras referenciais de relação, por que não repitir isso nas relações lá fora?
A violência quando a mulher trai ou quando ela não cumpre tarefas, tais como cuidar bem do lar, parecem ser mais aceitas. As novelas apresentam cotidianamente essa “autorização”. Recentemente, nA Favorita, muita gente vibrou quando Dedina, que traiu o prefeito Elias, foi arrastada e apanhou em praça pública. A cena era bem emblemática, porque mostrava pessoas na praça, assistindo a cena e seriamente balançando a cabeça, com aquele ar de “bem feito”. Mas em que medida a violência é justificável? Penso que em nenhuma.
O que mais me espanta é como essa mesma violência, que já matou 291 mulheres no estado de Pernambuco, só esse ano, ainda veste a roupa de piada. E não é por pessoas sem “esclarecimento” não! Ultimamente, assisti a um vídeo de pessoas bem legais, que se reúnem mensalmente em um bar, para se confraternizar, tocar, beber. A música tocada entusiasmadamente era “ela ficou vesga”, que conta a história de uma mulher que apanhou feio do marido. Aí me lembrei do Quanta Ladeira, um bloco de pessoas super legais, e da música “se a mulher encher, se a mulher encher, chegando em casa dou um pau, se a mulher encher”.
Fico, realmente, assustada com a habilidade de fazer piada com assuntos tão sérios. Não consigo rir e, certamente, sou chamada de chata por muitos. E sou! Sou chata e intolerante, nesse sentido. Talvez, se todos se recusassem a rir, a fazer piadas com esses assuntos tão sérios, a gente conseguiria mudar um monte de coisa, nessa sociedade ainda tão desigual. A violência contra as mulheres não tem graça nenhuma!
O problema é que são essas pessoas que continuam vendo como coisas distintas o seu “eu” e da “sociedade”. São essas mesmas pessoas que enchem a boca para fazer discursos super críticos e duros, do tipo “a sociedade faz isso; ou o governo faz aquilo”, e não se implicam jamais nos problemas sociais que atravessam o cotidiano e, por isso, também são nossos. Tão nossos que a nossa forma de se posicionar ou não nos espaços está diretamente atrelada à superação ou manutenção de tais problemas.
É! Chatice! Trincheira, como diria meu cunhado. Me rotulem do que quiserem... mas seguirei lutando e me posicionando, diante de cada ato de opressão, seja ele qual for. E seguirei perto, cada vez mais perto, das pessoas que assim se colocam no mundo... de forma responsável, crítica e comprometida com a superação de tantas desigualdades.
quinta-feira, 19 de novembro de 2009
Mãe
"Tem batata com atum na geladeira e coca light! Sim tem também uma escova de dente fuleirinha. Beijos e bom trabalho! Mainha"
Ela nem deve imaginar o quanto esse bilhetinho foi importante hoje!
Ela nem deve imaginar o quanto esse bilhetinho foi importante hoje!
quarta-feira, 18 de novembro de 2009
Vontade
Vontade de morar em Salvador
De não ter raízes e ganhar o mundo
De beber sem ter ressaca
De comer sem pensar nas calorias
De dormir sem culpa
De ler sem a obrigação de ler
De dar aulas só para turmas boas
De viajar
De fazer um diário
De ficar com Cintia e Turla, comendo brigadeiro com pipoca
De ir à praia, ao menos, uma vez por semana
De escutar Lucas tocar só para mim
De ler Clarice sem pressa
De cozinhar
De ir ao cinema sozinha
De voltar a ter o corpo dos meus 18 anos
De voltar a ter a disposição militante da época do movimento estudantil
De sentir alguns abraços
De comer “pagão” feito por vovó Hosana
De jogar handebol e levar esporro de Irene
De viajar com Fafa e fazer planos
De ser chacoteada por Dudu
De ser chamada de Ednalda
De comer tripa no empório
De ver o sol nascer
De trabalhar menos e ganhar mais
De morar com meus irmãos
De ter cachorro em casa, aperriando
De ser bolsista e ganhar dinheiro pra estudar
De ir para Chapada Diamantina, ao menos uma vez por ano
De dançar e dançar e dançar
De cantar alto sem me preocupar com a letra
Tantas vontades... ou saudade?!
De não ter raízes e ganhar o mundo
De beber sem ter ressaca
De comer sem pensar nas calorias
De dormir sem culpa
De ler sem a obrigação de ler
De dar aulas só para turmas boas
De viajar
De fazer um diário
De ficar com Cintia e Turla, comendo brigadeiro com pipoca
De ir à praia, ao menos, uma vez por semana
De escutar Lucas tocar só para mim
De ler Clarice sem pressa
De cozinhar
De ir ao cinema sozinha
De voltar a ter o corpo dos meus 18 anos
De voltar a ter a disposição militante da época do movimento estudantil
De sentir alguns abraços
De comer “pagão” feito por vovó Hosana
De jogar handebol e levar esporro de Irene
De viajar com Fafa e fazer planos
De ser chacoteada por Dudu
De ser chamada de Ednalda
De comer tripa no empório
De ver o sol nascer
De trabalhar menos e ganhar mais
De morar com meus irmãos
De ter cachorro em casa, aperriando
De ser bolsista e ganhar dinheiro pra estudar
De ir para Chapada Diamantina, ao menos uma vez por ano
De dançar e dançar e dançar
De cantar alto sem me preocupar com a letra
Tantas vontades... ou saudade?!
terça-feira, 17 de novembro de 2009
Crescer
Crescer é querer fazer as coisas certas. É se preocupar com as consequências do que fazemos. É reconhecer que um pequeno arranhão pode não sarar nunca e que até o que incomoda apenas um pouco, quando é incessante, transforma-se em muito.
Crescer é introjetar a ética e cumprir certas normas, mesmo se não tiver alguém o observando. É a auto-vigilância foucaultiana, sem os efeitos desesperadores do controle, mas com a tranqulidade da garantia de uma suposta essência. Essência? Sim! Essa essência pode até ser efêmera, mas é... se é!
O mais intrigante é que crescer parece ser também aprender a curar os próprios pequenos arranhões, entendendo que quem os provocou, muitas vezes, não tem habilidade para cuidar disso. É limpar o arranhão na medida certa, porque até limpar demais pode machucar. É que tem coisas que não podem ser muito mexidas mesmo.
Crescer é também entender que o outro pode ter um tempo diferente do seu e, assim, tolerar, aprender e crescer com ele. Mas é também saber que tudo tem limite, que você tem o seu limite e que, em certos momentos, não há como ceder.
Dói. Dói demais. Não é à toa que tantos escolhem o não-crescer e outros tantos crescem, mas, uma vez por outra, encontram-se em suas infantilidades. Quase como uma oxigenação, uma re-oxigenação. Parece que é preciso perder a linha, ser inconsequente... contraditório? Sim! Parece mesmo que para crescer é preciso revisitar o não-crescer... e sempre escolher que caminho seguir. Ao menos quando essa escolha é possível.
Crescer é introjetar a ética e cumprir certas normas, mesmo se não tiver alguém o observando. É a auto-vigilância foucaultiana, sem os efeitos desesperadores do controle, mas com a tranqulidade da garantia de uma suposta essência. Essência? Sim! Essa essência pode até ser efêmera, mas é... se é!
O mais intrigante é que crescer parece ser também aprender a curar os próprios pequenos arranhões, entendendo que quem os provocou, muitas vezes, não tem habilidade para cuidar disso. É limpar o arranhão na medida certa, porque até limpar demais pode machucar. É que tem coisas que não podem ser muito mexidas mesmo.
Crescer é também entender que o outro pode ter um tempo diferente do seu e, assim, tolerar, aprender e crescer com ele. Mas é também saber que tudo tem limite, que você tem o seu limite e que, em certos momentos, não há como ceder.
Dói. Dói demais. Não é à toa que tantos escolhem o não-crescer e outros tantos crescem, mas, uma vez por outra, encontram-se em suas infantilidades. Quase como uma oxigenação, uma re-oxigenação. Parece que é preciso perder a linha, ser inconsequente... contraditório? Sim! Parece mesmo que para crescer é preciso revisitar o não-crescer... e sempre escolher que caminho seguir. Ao menos quando essa escolha é possível.
quinta-feira, 12 de novembro de 2009
Vestido amarelo: um desabafo!
Sexta-feira, 20 de maio de 2004.
Estava participando de uma passagem em sala de aula, fazendo uma breve apresentação e divulgando um seminário do grupo político do qual faço parte na UFPE. Além de mim, estava presente mais uma companheira e um companheiro desse grupo. Combinamos que eu faria a apresentação do grupo e o companheiro o convite ao Seminário.
Iniciamos por uma sala de ciências sociais e, logo em seguida, entramos em uma sala do curso de história. Ao entrar na sala, fui surpreendida por assovios intensos, logicamente direcionados a mim e a outra companheira. De cara, isso nos constrangeu, mas continuamos nos dirigindo à frente da sala, no intuito de concretizar a passagem.
Ao cumprimentar o professor que ministrava a aula (um professor MUITO conhecido na UFPE), fui mais uma vez surpreendida por uma frase do próprio professor, que dizia:
“você está deslumbrante com esse vestido amarelo”.
Um elogio à beleza feminina?
Não consigo expressar com palavras o que senti naquele momento. Era como se em uma fração de segundos eu tivesse passado de uma estudante para um corpo engarrafado em um vestido amarelo. A sala toda deu gargalhada. Na hora, o constrangimento se misturou a um sentimento de indignação, revolta.
Estava confusa! Não sabia se fazia mais sentido falar o que tinha planejado (a apresentação do grupo) ou iniciar uma discussão de gênero, falar sobre a posição da mulher na sociedade em que vivemos. Estou certa que a última alternativa era a mais oportuna, contudo confesso que não tive forças para fazer essa reflexão. Me senti pequena, senti que se eu falasse todos iriam rir da minha cara, me senti oprimida!
Quando já havia saído da sala escutei mais uma gargalhada coletiva. Certamente, o professor havia soltado mais uma piadinha. A revolta aumentou ainda mais, principalmente porque acabei sem conseguir, no momento, externar essa revolta e canalizá-la, no sentido de potencializar uma discussão mais profunda.
Veio uma série de coisas a minha cabeça: as propagandas de cerveja; a distribuição de revista pornô no CONED; meu pai me dizendo: você não pode ir ao estádio de futebol; a menina que falava no carro de som no CONUNE, enquanto as pessoas tapavam os ouvidos com as mãos, porque achavam sua voz “estridente”; minha mãe dizendo: arrume a casa e seu irmão vai pagar as contas e resolver os problemas mais sérios; as boates nas quais as mulheres entram de graça e servem de isca para atrair mais público... e minha angústia foi aumentando.
A opressão das mulheres é tão constante que já a naturalizamos; está tão próxima de nós que nem a percebemos mais. Eram mais de 40 alunos e todos riram, riram muito.
Sabemos que, historicamente a mulher foi “formada” para atuar no espaço privado, enquanto ao homem coube o espaço público. Todavia, não devemos saber também que o ser humano é contingente e hoje é impossível negar a conquista de espaço da mulher na nossa sociedade. E é importante pontuar que esse espaço não foi concedido! Foi conquistado através da organização e da luta das próprias mulheres.
O comentário do professor, relatado anteriormente, vem a evidenciar, além de uma sociedade, uma universidade extremamente conservadora, machista e completamente despreparada até para atender a demanda social ampla, que atualmente nos defrontamos. Entendo que a universidade deve ser sim um instrumento de transformação, tendo um papel tático na construção de uma sociedade mais solidária. Mas como romper com essa estrutura arcaica e cristalizada?
É preciso sim conquistar corações e mentes; é preciso sensibilizar. Precisamos unir nossas forças, juntar as nossas mãos, nos olharmos e nos reconhecermos como seres humanos e, assim, num mesmo ritmo, numa mesma dança, construiremos uma nova sociedade, uma nova concepção cidadania, onde qualquer forma de opressão não será admitida.
Edna
Estudante de Psicologia da UFPE
* Dois anos depois, entro no mestrado para discutir saúde e gênero. Mais dois anos depois, entro no Instituto PAPAI, uma ONG feminista. Trabalho com homens, masculinidades, tocando em questões delicadas como cuidado à saúde e violência. Tanta coisa construímos, mas... ainda hoje me surpreendo com esse texto, que, mesmo escrito há cinco anos atrás, ainda é tão atual. O caso da UNIBAN é só mais uma evidência disso.
Estava participando de uma passagem em sala de aula, fazendo uma breve apresentação e divulgando um seminário do grupo político do qual faço parte na UFPE. Além de mim, estava presente mais uma companheira e um companheiro desse grupo. Combinamos que eu faria a apresentação do grupo e o companheiro o convite ao Seminário.
Iniciamos por uma sala de ciências sociais e, logo em seguida, entramos em uma sala do curso de história. Ao entrar na sala, fui surpreendida por assovios intensos, logicamente direcionados a mim e a outra companheira. De cara, isso nos constrangeu, mas continuamos nos dirigindo à frente da sala, no intuito de concretizar a passagem.
Ao cumprimentar o professor que ministrava a aula (um professor MUITO conhecido na UFPE), fui mais uma vez surpreendida por uma frase do próprio professor, que dizia:
“você está deslumbrante com esse vestido amarelo”.
Um elogio à beleza feminina?
Não consigo expressar com palavras o que senti naquele momento. Era como se em uma fração de segundos eu tivesse passado de uma estudante para um corpo engarrafado em um vestido amarelo. A sala toda deu gargalhada. Na hora, o constrangimento se misturou a um sentimento de indignação, revolta.
Estava confusa! Não sabia se fazia mais sentido falar o que tinha planejado (a apresentação do grupo) ou iniciar uma discussão de gênero, falar sobre a posição da mulher na sociedade em que vivemos. Estou certa que a última alternativa era a mais oportuna, contudo confesso que não tive forças para fazer essa reflexão. Me senti pequena, senti que se eu falasse todos iriam rir da minha cara, me senti oprimida!
Quando já havia saído da sala escutei mais uma gargalhada coletiva. Certamente, o professor havia soltado mais uma piadinha. A revolta aumentou ainda mais, principalmente porque acabei sem conseguir, no momento, externar essa revolta e canalizá-la, no sentido de potencializar uma discussão mais profunda.
Veio uma série de coisas a minha cabeça: as propagandas de cerveja; a distribuição de revista pornô no CONED; meu pai me dizendo: você não pode ir ao estádio de futebol; a menina que falava no carro de som no CONUNE, enquanto as pessoas tapavam os ouvidos com as mãos, porque achavam sua voz “estridente”; minha mãe dizendo: arrume a casa e seu irmão vai pagar as contas e resolver os problemas mais sérios; as boates nas quais as mulheres entram de graça e servem de isca para atrair mais público... e minha angústia foi aumentando.
A opressão das mulheres é tão constante que já a naturalizamos; está tão próxima de nós que nem a percebemos mais. Eram mais de 40 alunos e todos riram, riram muito.
Sabemos que, historicamente a mulher foi “formada” para atuar no espaço privado, enquanto ao homem coube o espaço público. Todavia, não devemos saber também que o ser humano é contingente e hoje é impossível negar a conquista de espaço da mulher na nossa sociedade. E é importante pontuar que esse espaço não foi concedido! Foi conquistado através da organização e da luta das próprias mulheres.
O comentário do professor, relatado anteriormente, vem a evidenciar, além de uma sociedade, uma universidade extremamente conservadora, machista e completamente despreparada até para atender a demanda social ampla, que atualmente nos defrontamos. Entendo que a universidade deve ser sim um instrumento de transformação, tendo um papel tático na construção de uma sociedade mais solidária. Mas como romper com essa estrutura arcaica e cristalizada?
É preciso sim conquistar corações e mentes; é preciso sensibilizar. Precisamos unir nossas forças, juntar as nossas mãos, nos olharmos e nos reconhecermos como seres humanos e, assim, num mesmo ritmo, numa mesma dança, construiremos uma nova sociedade, uma nova concepção cidadania, onde qualquer forma de opressão não será admitida.
Edna
Estudante de Psicologia da UFPE
* Dois anos depois, entro no mestrado para discutir saúde e gênero. Mais dois anos depois, entro no Instituto PAPAI, uma ONG feminista. Trabalho com homens, masculinidades, tocando em questões delicadas como cuidado à saúde e violência. Tanta coisa construímos, mas... ainda hoje me surpreendo com esse texto, que, mesmo escrito há cinco anos atrás, ainda é tão atual. O caso da UNIBAN é só mais uma evidência disso.
quarta-feira, 11 de novembro de 2009
Minha música!
Não fui eu que fiz, mas é minha. Ele me deu. Meu amarelinho! E não poderia haver melhor presente.
"eu pensei que eu era
solto e sem destino
numa estrada escura
que não tinha fim
e nessa aventura
eu seguia em frente
entre tanta gente
sem saber de mim
feito um cão sem dono
vagando perdido
que até seu latido
o havia deixado
andou tantas léguas
mas desviou o seu caminho
encontrou na frente
criação de gado
e pensou num instante
agora tô garantido
pra tocar a vida em frente
ele então virou mugido
mas aí de repente
você veio até mim
segurou minha mão
aquecendo meu peito
e foi quando na estrada
percebi que era dia
e que minha agonia
de procurar teve fim
me levou pro céu
com esse sorriso largo
e agora eu não largo
de você nem um pouco
grito até ficar rouco
no nosso amor mais louco
e depois arrepio
cansado no fim
e ainda com o suor pingando
quase sussurrando
me diz eu te amo
e mesmo me beijando
vai me convindando
pra fazer denovo
vem morena
faz amor comigo
que no meu cinema
só teu filme é exibido
vem morena
tira meu juízo
que tu é pequena
mas é tudo que eu preciso"
"eu pensei que eu era
solto e sem destino
numa estrada escura
que não tinha fim
e nessa aventura
eu seguia em frente
entre tanta gente
sem saber de mim
feito um cão sem dono
vagando perdido
que até seu latido
o havia deixado
andou tantas léguas
mas desviou o seu caminho
encontrou na frente
criação de gado
e pensou num instante
agora tô garantido
pra tocar a vida em frente
ele então virou mugido
mas aí de repente
você veio até mim
segurou minha mão
aquecendo meu peito
e foi quando na estrada
percebi que era dia
e que minha agonia
de procurar teve fim
me levou pro céu
com esse sorriso largo
e agora eu não largo
de você nem um pouco
grito até ficar rouco
no nosso amor mais louco
e depois arrepio
cansado no fim
e ainda com o suor pingando
quase sussurrando
me diz eu te amo
e mesmo me beijando
vai me convindando
pra fazer denovo
vem morena
faz amor comigo
que no meu cinema
só teu filme é exibido
vem morena
tira meu juízo
que tu é pequena
mas é tudo que eu preciso"
sábado, 7 de novembro de 2009
Onde está a sensibilidade?
Daquele pai que vê a filha chegando, toda contente, dizendo que tirou10 naquela prova de matemática, e só diz: era pra ser 12!
Daquela pessoa amada que, após escutar tudo que você falou, com todo cuidado e dificuldade do mundo (porque tem assuntos que são difíceis mesmo) e, simplesmente, responde com o seu silêncio.
Daquela velha amiga que percebe, durante uma reunião, que a sua voz está embargada, que você não está legal, e diz: vai chorar é?
Daquela pessoa que, ao ver que você seguiu por um caminho diferente do que ela tinha indicado e se deu muito mal, bate as mãozinhas na mesa e diz: eu não disse?!
Daquela amiga que a vê nervosa, procurando algo que você não podia ter esquecido, e diz duas vezes seguidas (como se fosse resolver o problema): era de sua responsabilidade! Era de sua responsabilidade!
Daquele professor que você tanto admira e tanto se esforça para dar o seu melhor e ele não se dá o trabalho de tecer um elogio sequer, mesmo quando nitidamente aquele trabalho que você finalmente conseguiu fazer é digno de elogio.
Daquelas pessoas que insistem em trazer um velho assunto, que todo mundo sabe o quanto te faz mal.
Daquele que nunca pergunta como você está, mas, aceleradamente, conta-lhe o quanto sua vida está uma beleza.
Daquela que jamais consegue pedir desculpas e, por conseguinte, nem imagina o bem que essa palavra simples poderia fazer.
Daquela que se julga tão melhor que todo mundo, que jamais reconhece que o erro também pode ser seu.
Daqueles que não conseguem perceber que um distanciamento muitas vezes não é descaso. É também dificuldade.
Daquele que vê você se lascando todinha de trabalhar e, simplesmente, dorme.
Daquele que não entende que pode ser importante para você e despreza essa importância, convencendo-a também que você, definitivamente, não é importante.
Daqueles a-lunos que, ao invés de contribuir para a aula ser legal, continuam nas suas bolhas, falando mal do mundo, sem se sentirem parte dele.
Paro por aqui, mesmo com a certeza que poderia escrever mais tantas linhas e com a promessa de que um dia vou aprender a conviver com tanta falta de sensibilidade.
Daquela pessoa amada que, após escutar tudo que você falou, com todo cuidado e dificuldade do mundo (porque tem assuntos que são difíceis mesmo) e, simplesmente, responde com o seu silêncio.
Daquela velha amiga que percebe, durante uma reunião, que a sua voz está embargada, que você não está legal, e diz: vai chorar é?
Daquela pessoa que, ao ver que você seguiu por um caminho diferente do que ela tinha indicado e se deu muito mal, bate as mãozinhas na mesa e diz: eu não disse?!
Daquela amiga que a vê nervosa, procurando algo que você não podia ter esquecido, e diz duas vezes seguidas (como se fosse resolver o problema): era de sua responsabilidade! Era de sua responsabilidade!
Daquele professor que você tanto admira e tanto se esforça para dar o seu melhor e ele não se dá o trabalho de tecer um elogio sequer, mesmo quando nitidamente aquele trabalho que você finalmente conseguiu fazer é digno de elogio.
Daquelas pessoas que insistem em trazer um velho assunto, que todo mundo sabe o quanto te faz mal.
Daquele que nunca pergunta como você está, mas, aceleradamente, conta-lhe o quanto sua vida está uma beleza.
Daquela que jamais consegue pedir desculpas e, por conseguinte, nem imagina o bem que essa palavra simples poderia fazer.
Daquela que se julga tão melhor que todo mundo, que jamais reconhece que o erro também pode ser seu.
Daqueles que não conseguem perceber que um distanciamento muitas vezes não é descaso. É também dificuldade.
Daquele que vê você se lascando todinha de trabalhar e, simplesmente, dorme.
Daquele que não entende que pode ser importante para você e despreza essa importância, convencendo-a também que você, definitivamente, não é importante.
Daqueles a-lunos que, ao invés de contribuir para a aula ser legal, continuam nas suas bolhas, falando mal do mundo, sem se sentirem parte dele.
Paro por aqui, mesmo com a certeza que poderia escrever mais tantas linhas e com a promessa de que um dia vou aprender a conviver com tanta falta de sensibilidade.
sexta-feira, 6 de novembro de 2009
Pontos fracos.
Aquelas coisas que você tenta esconder, mas não consegue. Aqueles assuntos que você faz de tudo para não tocar. Aquelas imagens que você faz de tudo para não rever, até porque, no fundo, aquele é um filme que você não queria que tivesse acontecido. Mas, mesmo com todas as tentativas, tudo isso vem, volta... e, quase sempre, de forma avassaladora. Dói. Porque têm feridas que não tem jeito... não saram nunca.
quarta-feira, 28 de outubro de 2009
Ela jamais tinha visto
Ela jamais tinha visto. Estava ali o tempo todo. Há mais de um ano. Verde de esperança. Verde no branco, para dar cor, trazer alegria. O jamais deu espaço para o hoje e, depois de algumas noites dormindo muito pouco, o cansaço abriu uma brecha para um sorriso e um inusitado entusiasmo. Quanta coisa ainda não conseguia ver? Quantas coisas estavam do lado dela querendo serem vistas? Ela ainda tinha algumas horas de trabalho e, certamente, algumas noites mal dormidas, mas seguiu sorrindo. Lavou o rosto e se encheu de coragem para ver aquilo que até aquele momento ainda não tinha visto e ...
sexta-feira, 23 de outubro de 2009
Eu, Deus...
Vontade de compartilhar e trazer para cá um pouco de Clarice*, em um texo que me fez conversar com o último post. Sobre mim, sobre nós, sobre Deus... sobre o mundo.
"Talvez eu me ache delicada demais apenas porque não cometi os meus crimes. Só porque contive os meus crimes, eu me acho de amor inocente. Talvez eu não possa olhar o rato enquanto não olhar sem lividez esta minha alma que é apenas contida. Talvez eu tenha que chamar de "mundo" esse meu modo de ser um pouco de tudo. Como posso amar a grandeza do mundo se não posso amar o tamanho de minha natureza? Enquanto eu imaginar que "Deus" é bom só porque eu sou ruim, não estarei amando a nada: será apenas o meu modo de me acusar. Eu, que sem nem ao menos ter me percorrido toda, já escolhi amar o meu contrário, e ao meu contrário quero chamar de Deus. Eu, que jamais me habituarei a mim, estava querendo que o mundo não me escadalizasse. Porque eu, que de mim só consegui foi me submeter a mim mesma, pois sou tão mais inexorável do que eu, eu estava querendo me compensar de mim mesma com uma terra menos violenta que eu. Porque enquanto eu amar a um Deus só porque não me quero, serei um dado marcado, e o jogo de minha vida maior não se fará. Enquanto eu inventar Deus, Ele não existe."
*Do livro Felicidade Clandestina.
"Talvez eu me ache delicada demais apenas porque não cometi os meus crimes. Só porque contive os meus crimes, eu me acho de amor inocente. Talvez eu não possa olhar o rato enquanto não olhar sem lividez esta minha alma que é apenas contida. Talvez eu tenha que chamar de "mundo" esse meu modo de ser um pouco de tudo. Como posso amar a grandeza do mundo se não posso amar o tamanho de minha natureza? Enquanto eu imaginar que "Deus" é bom só porque eu sou ruim, não estarei amando a nada: será apenas o meu modo de me acusar. Eu, que sem nem ao menos ter me percorrido toda, já escolhi amar o meu contrário, e ao meu contrário quero chamar de Deus. Eu, que jamais me habituarei a mim, estava querendo que o mundo não me escadalizasse. Porque eu, que de mim só consegui foi me submeter a mim mesma, pois sou tão mais inexorável do que eu, eu estava querendo me compensar de mim mesma com uma terra menos violenta que eu. Porque enquanto eu amar a um Deus só porque não me quero, serei um dado marcado, e o jogo de minha vida maior não se fará. Enquanto eu inventar Deus, Ele não existe."
*Do livro Felicidade Clandestina.
segunda-feira, 19 de outubro de 2009
Um pouco de vida real
É! Eu gosto de vida real. Principalmente porque sempre senti de forma muito intensa a realidade. Nunca precisei ler um livro, mesmo gostando muito de fazer isso, para ter uma história engraçada ou triste para contar.
Sempre gostei de roteiros, porque me remetem a caminhos pelos quais posso/devo seguir. Biografias? Nem se fala! Não há nada melhor do que conhecer outras histórias de vida, com seus desdobramentos, para pensar na sua própria vida e descobrir os caminhos mais certeiros. Se bem que parece ser importante pegar caminhos errados, até quando já sabemos que são errados. Certo ou errado? Nesse momento, entendo certo e errado como o que traz ou não sofrimento. Penso que certa dose de sofrimento até pode ter efeito terapêutico, mas falo aqui do excesso. Do porre de sofrer.
Para além dos roteiros, ando muito encantada também com as pessoas que cruzam o meu caminho ou compõem os tantos outros roteiros, que em tantas direções configuram a peça da qual também me vejo como personagem. O que me encanta e, ao mesmo tempo, intriga/instiga são as contradições. Refiro-me às contradições que eu vejo como sendo delas e também àquelas que eu sinto no meu encontro com elas. Porque o meu sentimento também é por vezes contraditório e igualmente intenso, independente dos pólos.
Hoje, encontrei uma velha amiga, da qual não tinha notícias há anos. Ela falou tanto, tanto, tanto... me contou toda a sua vida em 10 minutos e eu fiquei deslumbrada, vendo imagens e verdadeiros filmes que passavam velozmente na minha cabeça, a cada história que ela contava. Foram só 15 minutos (o tempo de uma coca light, entre uma aula e outra), mas foi surpreendentemente intenso. Já no final, ela ousou perguntar como estava a minha vida. Olhei para o relógio e vi que tinha apenas cinco minutos para enquadrar toda a minha prolixidade. Metralhei cinco minutos de histórias que, para ela, eram sem sentido e desencontradas, mas que para mim se encontravam e se encontram em mim. Percebi a expressão das sobrancelhas e todo estranhamento em frases como: só você mesmo, Dinha!
Essa frase simples ficou o dia todo na minha cabeça e me fez pensar na singularidade de cada peça que encenamos e, ao mesmo tempo, na multiplicidade de cada um de nós. Lembrei das frases dela, que traziam aquela idéia de “eu sou assim”. Será mesmo que alguém é? Essencialmente se é? Desconfio disso. A cada dia desconfio mais dessa tal de essência. Poderia até fundamentar teoricamente tal desconfiança, com Hall ou Davis e Harré. Mas não falo da teoria. Falo de sentimento. E, realmente, não conheço ninguém que, de tão coerente que é, faça-me reconhecer a existência de uma essência.
Alguns dos meus leitores imaginários podem estar assustados sobre quão negativista são essas afirmações. Enganam-se! Se as possibilidades de estar e não ser causam angústia, por um lado, e desterritorializam, ao questionar as certezas e os nosso lugares no mundo, por outro lado, nos libertam. Afinal de contas, se não há essência que me aprisione, dizendo exatamente o que sou, posso me considerar livre para ser... livre para dar voz a tantas Ednas e, quando achar que elas já não devem falar, livre para calar tantas outras.
Deu vontade de fazer (mais) teatro, tomar cerveja... deu vontade de fazer um brinde à liberdade de ser. Liberdade? É! Talvez precisemos voltar a falar sobre isso...
Sempre gostei de roteiros, porque me remetem a caminhos pelos quais posso/devo seguir. Biografias? Nem se fala! Não há nada melhor do que conhecer outras histórias de vida, com seus desdobramentos, para pensar na sua própria vida e descobrir os caminhos mais certeiros. Se bem que parece ser importante pegar caminhos errados, até quando já sabemos que são errados. Certo ou errado? Nesse momento, entendo certo e errado como o que traz ou não sofrimento. Penso que certa dose de sofrimento até pode ter efeito terapêutico, mas falo aqui do excesso. Do porre de sofrer.
Para além dos roteiros, ando muito encantada também com as pessoas que cruzam o meu caminho ou compõem os tantos outros roteiros, que em tantas direções configuram a peça da qual também me vejo como personagem. O que me encanta e, ao mesmo tempo, intriga/instiga são as contradições. Refiro-me às contradições que eu vejo como sendo delas e também àquelas que eu sinto no meu encontro com elas. Porque o meu sentimento também é por vezes contraditório e igualmente intenso, independente dos pólos.
Hoje, encontrei uma velha amiga, da qual não tinha notícias há anos. Ela falou tanto, tanto, tanto... me contou toda a sua vida em 10 minutos e eu fiquei deslumbrada, vendo imagens e verdadeiros filmes que passavam velozmente na minha cabeça, a cada história que ela contava. Foram só 15 minutos (o tempo de uma coca light, entre uma aula e outra), mas foi surpreendentemente intenso. Já no final, ela ousou perguntar como estava a minha vida. Olhei para o relógio e vi que tinha apenas cinco minutos para enquadrar toda a minha prolixidade. Metralhei cinco minutos de histórias que, para ela, eram sem sentido e desencontradas, mas que para mim se encontravam e se encontram em mim. Percebi a expressão das sobrancelhas e todo estranhamento em frases como: só você mesmo, Dinha!
Essa frase simples ficou o dia todo na minha cabeça e me fez pensar na singularidade de cada peça que encenamos e, ao mesmo tempo, na multiplicidade de cada um de nós. Lembrei das frases dela, que traziam aquela idéia de “eu sou assim”. Será mesmo que alguém é? Essencialmente se é? Desconfio disso. A cada dia desconfio mais dessa tal de essência. Poderia até fundamentar teoricamente tal desconfiança, com Hall ou Davis e Harré. Mas não falo da teoria. Falo de sentimento. E, realmente, não conheço ninguém que, de tão coerente que é, faça-me reconhecer a existência de uma essência.
Alguns dos meus leitores imaginários podem estar assustados sobre quão negativista são essas afirmações. Enganam-se! Se as possibilidades de estar e não ser causam angústia, por um lado, e desterritorializam, ao questionar as certezas e os nosso lugares no mundo, por outro lado, nos libertam. Afinal de contas, se não há essência que me aprisione, dizendo exatamente o que sou, posso me considerar livre para ser... livre para dar voz a tantas Ednas e, quando achar que elas já não devem falar, livre para calar tantas outras.
Deu vontade de fazer (mais) teatro, tomar cerveja... deu vontade de fazer um brinde à liberdade de ser. Liberdade? É! Talvez precisemos voltar a falar sobre isso...
sexta-feira, 16 de outubro de 2009
A dor do outro
Hoje eu pude sentir. Como um punhal no meu peito, cortando-me ao meio e me mostrando o quanto sou pequena, impotente. Ele chegou me desafiando; falando alto; comendo dois pães, quando só podia um; mentindo e, a todo momento, mostrando com o olhar como era perigoso, como nós devíamos temê-lo.
Em plena tarde de sexta-feira, cheguei. Nem estava nos planos. Havia planejado ir para casa mais cedo, estudar, preparar o dia de amanhã, que promete ser tão especial. Mas algo me levou ao Albergue. Parece que era dia de me ver pequena e repensar não só meu trabalho... repensar a vida.
Ele tava com o olhar furioso. Estava diante de uma assistente social, que vinha lhe trazer um dinheiro. Na verdade, vinha pegar uma assinatura, pois o dinheiro seria entregue a seu pai. Ele não aceitou e, como estava no seu direito, após ter prometido que não iria fazer mau uso desse dinheiro, recebeu.
NOVENTA REAIS. Pouco? Não. Muito. Para ele, uma fortuna.
Ele recebeu o dinheiro, entrou no grupo, que já ia começar e, ao sair, pediu sua alta. Disse que não estava agüentando: precisava fumar crack. Incrível! Ele não brigou com ninguém, não inventou nenhum pretexto. Apenas disse: preciso fumar.
Ele fuma há três anos e jamais tentou deixar de usar. Era a primeira vez que tentava parar, começar um tratamento, mas ele não suportou. Eu vi os seus olhos arredios se encherem de água. Eu ouvi a sua voz tremendo. Pedi que sentasse, peguei uma água e tentei conversar com ele; lhe dizer que era possível resistir àquela fissura. Ofereci várias alternativas. Falei sobre suas conquistas, sobre como era importante ele falar sobre aquela vontade de fumar e como era ainda mais importante resistir a ela. Gastei todo o meu latim. Todo! No final, tentei sensibilizá-lo para retornar, sem nem saber se ele sobreviveria a essa recaída.
Ele chorou muito. Dizia que ”só com uma algema” conseguiria permanecer ali. Tentei lhe mostrar que essa algema não tínhamos, mas ele poderia construir essa algema com a sua vontade de não usar, de reconstruir a sua vida.
Quando não tinha mais jeito, quando ele já estava com a bolsa nas costas, sugeri que ele se alimentasse, que ele se cuidasse. Indiquei um ambiente protegido... não restava tanto a fazer. Desejei boa sorte e pedi que se cuidasse.
O sentimento que fica é que não consegui. Não consegui mostrar para ele o quanto sua vida poderia ser importante, o quanto ele ainda tinha a viver. Não consegui convencê-lo do quanto ele era forte e do quando essa força poderia ser convertida em um “não”.
Que poder tem esse danado de crack que faz com que as pessoas digam “eu não quero, mas vou”? Que poder temos nós de acabar com a nossa própria vida e, assim, acabar com a vida dos que estão ao nosso redor? Que poder tenho eu, coordenando aquele lugar, de ajudar essas pessoas?!
Hoje, o sentimento é a dor e a consciência é de impotência.
Em plena tarde de sexta-feira, cheguei. Nem estava nos planos. Havia planejado ir para casa mais cedo, estudar, preparar o dia de amanhã, que promete ser tão especial. Mas algo me levou ao Albergue. Parece que era dia de me ver pequena e repensar não só meu trabalho... repensar a vida.
Ele tava com o olhar furioso. Estava diante de uma assistente social, que vinha lhe trazer um dinheiro. Na verdade, vinha pegar uma assinatura, pois o dinheiro seria entregue a seu pai. Ele não aceitou e, como estava no seu direito, após ter prometido que não iria fazer mau uso desse dinheiro, recebeu.
NOVENTA REAIS. Pouco? Não. Muito. Para ele, uma fortuna.
Ele recebeu o dinheiro, entrou no grupo, que já ia começar e, ao sair, pediu sua alta. Disse que não estava agüentando: precisava fumar crack. Incrível! Ele não brigou com ninguém, não inventou nenhum pretexto. Apenas disse: preciso fumar.
Ele fuma há três anos e jamais tentou deixar de usar. Era a primeira vez que tentava parar, começar um tratamento, mas ele não suportou. Eu vi os seus olhos arredios se encherem de água. Eu ouvi a sua voz tremendo. Pedi que sentasse, peguei uma água e tentei conversar com ele; lhe dizer que era possível resistir àquela fissura. Ofereci várias alternativas. Falei sobre suas conquistas, sobre como era importante ele falar sobre aquela vontade de fumar e como era ainda mais importante resistir a ela. Gastei todo o meu latim. Todo! No final, tentei sensibilizá-lo para retornar, sem nem saber se ele sobreviveria a essa recaída.
Ele chorou muito. Dizia que ”só com uma algema” conseguiria permanecer ali. Tentei lhe mostrar que essa algema não tínhamos, mas ele poderia construir essa algema com a sua vontade de não usar, de reconstruir a sua vida.
Quando não tinha mais jeito, quando ele já estava com a bolsa nas costas, sugeri que ele se alimentasse, que ele se cuidasse. Indiquei um ambiente protegido... não restava tanto a fazer. Desejei boa sorte e pedi que se cuidasse.
O sentimento que fica é que não consegui. Não consegui mostrar para ele o quanto sua vida poderia ser importante, o quanto ele ainda tinha a viver. Não consegui convencê-lo do quanto ele era forte e do quando essa força poderia ser convertida em um “não”.
Que poder tem esse danado de crack que faz com que as pessoas digam “eu não quero, mas vou”? Que poder temos nós de acabar com a nossa própria vida e, assim, acabar com a vida dos que estão ao nosso redor? Que poder tenho eu, coordenando aquele lugar, de ajudar essas pessoas?!
Hoje, o sentimento é a dor e a consciência é de impotência.
terça-feira, 13 de outubro de 2009
Politizando a discussão...
Colocar a culpa no Lula - texto extraído do blog http://classemediawayoflife.blogspot.com/
"Culpa do Lula" é um expediente médio-classista que caracteriza qualquer coisa que possa dar errado no Brasil. É um híbrido de "transferência de responsabilidades" com "senso de posição social", dois conceitos interligados que compõem a filosofia de vida da Classe. Logo, para ingressar neste grupo especial da nossa sociedade, será necessário aprender a vincular o nome do ex-metalúrgico a qualquer evento ou constatação negativa que envolva o Brasil. Afinal, não basta ignorar o presidente. A revista, a tevê, o jornal e tudo aquilo em que você acredita urram para que você o odeie. Obedeça.
Um bom estudo de caso consiste na observação das reações e do posicionamento da Classe Média em relação à disputa para sede das Olimpíadas de 2016.Imagine voltar a alguns dias antes da escolha da cidade sede dos Jogos Olímpicos. Como bom membro da Classe Média, você primeiramente duvidaria, com todas as suas forças, da capacidade do governo brasileiro conseguir uma coisa dessas. Culpa do Lula. Um país tão bagunçado assim nunca será capaz de trazer pra cá um evento tão importante, de gente civilizada, uma coisa tão grandiosa e que nos traria tantos benefícios. Nosso presidente é despreparado e a comunidade internacional não o leva a sério. Culpa do Lula de novo.
Com o passar dos dias, a televisão (sua janela límpida e cristalina para a verdade sobre o mundo) lhe informaria que as chances são reais. E se o Rio vencer, não haverá culpa de nada para imputar no Lula. Isto seria capaz de botar em parafuso a cabeça do cidadão, tal qual um software mal programado com erro de sintaxe - um legítimo fatal error. Felizmente o cérebro humano possui mecanismos que impedem esse tipo de conflito: o médio-classista automaticamente começa a reconsiderar sua opinião sobre os Jogos Olímpicos, uma forma de desfazer esse nó nos neurônios.
O Rio está quase ganhando. A partir desse momento, o cidadão de Classe Média já conjectura se ser sede de Olimpíadas é realmente bom para o Brasil. Afinal, somos um país de terceira, violento, corrupto e pobre. Culpa do Lula. Tomara que o Rio perca. Aí, sai o anúncio: o Rio venceu. Agora, o médio-classista tem certeza de que isso é ruim. Além de ser um desrespeito com o Primeiro Mundo, um evento desse porte tem tudo para ser um fracasso em terras brasileiras. Vão desviar esse dinheiro, que deveria ser investido em educação e saúde (finja que você se importa, não interessa se você é usuário de educação e saúde privadas). E o dinheiro dos seus impostos vai pra mão dos políticos, que vão roubar quase tudo. Culpa do Lula (ignore que ele não será o Presidente em 2016).
Conclusão: para ser da Classe Média, a “Culpa do Lula” precisa ser uma entidade tão sagrada para você, que te faça torcer com ardor e sinceridade para que o Brasil perca essa ou qualquer disputa. Pois só assim você poderá pronunciar "culpa do Lula", em tom de palavras mágicas, sentando em seu sofá quentinho e macio, cercado pelas grades do condomínio, tomando seu café e vestido com seu roupão felpudo. Esta será a sua fórmula para dormir tranquilo depois do Fantástico.
"Culpa do Lula" é um expediente médio-classista que caracteriza qualquer coisa que possa dar errado no Brasil. É um híbrido de "transferência de responsabilidades" com "senso de posição social", dois conceitos interligados que compõem a filosofia de vida da Classe. Logo, para ingressar neste grupo especial da nossa sociedade, será necessário aprender a vincular o nome do ex-metalúrgico a qualquer evento ou constatação negativa que envolva o Brasil. Afinal, não basta ignorar o presidente. A revista, a tevê, o jornal e tudo aquilo em que você acredita urram para que você o odeie. Obedeça.
Um bom estudo de caso consiste na observação das reações e do posicionamento da Classe Média em relação à disputa para sede das Olimpíadas de 2016.Imagine voltar a alguns dias antes da escolha da cidade sede dos Jogos Olímpicos. Como bom membro da Classe Média, você primeiramente duvidaria, com todas as suas forças, da capacidade do governo brasileiro conseguir uma coisa dessas. Culpa do Lula. Um país tão bagunçado assim nunca será capaz de trazer pra cá um evento tão importante, de gente civilizada, uma coisa tão grandiosa e que nos traria tantos benefícios. Nosso presidente é despreparado e a comunidade internacional não o leva a sério. Culpa do Lula de novo.
Com o passar dos dias, a televisão (sua janela límpida e cristalina para a verdade sobre o mundo) lhe informaria que as chances são reais. E se o Rio vencer, não haverá culpa de nada para imputar no Lula. Isto seria capaz de botar em parafuso a cabeça do cidadão, tal qual um software mal programado com erro de sintaxe - um legítimo fatal error. Felizmente o cérebro humano possui mecanismos que impedem esse tipo de conflito: o médio-classista automaticamente começa a reconsiderar sua opinião sobre os Jogos Olímpicos, uma forma de desfazer esse nó nos neurônios.
O Rio está quase ganhando. A partir desse momento, o cidadão de Classe Média já conjectura se ser sede de Olimpíadas é realmente bom para o Brasil. Afinal, somos um país de terceira, violento, corrupto e pobre. Culpa do Lula. Tomara que o Rio perca. Aí, sai o anúncio: o Rio venceu. Agora, o médio-classista tem certeza de que isso é ruim. Além de ser um desrespeito com o Primeiro Mundo, um evento desse porte tem tudo para ser um fracasso em terras brasileiras. Vão desviar esse dinheiro, que deveria ser investido em educação e saúde (finja que você se importa, não interessa se você é usuário de educação e saúde privadas). E o dinheiro dos seus impostos vai pra mão dos políticos, que vão roubar quase tudo. Culpa do Lula (ignore que ele não será o Presidente em 2016).
Conclusão: para ser da Classe Média, a “Culpa do Lula” precisa ser uma entidade tão sagrada para você, que te faça torcer com ardor e sinceridade para que o Brasil perca essa ou qualquer disputa. Pois só assim você poderá pronunciar "culpa do Lula", em tom de palavras mágicas, sentando em seu sofá quentinho e macio, cercado pelas grades do condomínio, tomando seu café e vestido com seu roupão felpudo. Esta será a sua fórmula para dormir tranquilo depois do Fantástico.
segunda-feira, 12 de outubro de 2009
Nudez é outra coisa...
Um trecho de texto de Frei Beto, que ontem, após um final de semana leve e divertido (como há muito tempo não havia), entre as linhas de um longo e chato relatório, me fez pensar na vida... na vida e em viver!
"(...) É isso, não consigo ver o que os outros enxergam, não consigo rir do que os outros acham graça, não consigo deixar de ser eu mesmo, desconfiado, taciturno, porque são muitas as minhas cismas. Por exemplo, coleciono fechaduras e fotos de rinocerontes. Fechaduras, é obvio, servem para fechar, porque o ser humano não suporta a transparência. Precisa sempre se cobrir: de pêlo, máscaras, teto, muro, porque a nudez é uma arte que exige talento. Ainda que um homem e uma mulher estejam sem roupas, trancados num quarto, entregues às infinitas possibilidades do jogo erótico, não significa que estejam nus. Estão despidos. Nudez é outra coisa. É enfiar a faca até o cabo, arrebatar a lua com as mãos, destampar todos os recônditos da alma, os mais obscuros e ínfimos. Se nem suportamos ficar nus diante de nós mesmos, quanto mais diante dos outros! Por isso as fechaduras deveriam estar de língua recolhida, mas quase sempre elas se projetam interditando-nos.Por que fotos de rinocerontes? Faz tempo sonhei que eu era um rinoceronte, daqueles enormes que pesam toneladas. Locomovia-me com muita dificuldade, o que exigia paciência de todos à minha volta. Ao atravessar uma rua, eu me encontrava a meio caminho quando o sinal abria, irritando os motoristas; no cinema, precisava ocupar meia fila de cadeiras; no restaurante, comia metade do bufê.Gosto das esferas elegíacas. Da arte que não exprime lamento, dos primitivistas que ponteiam suas telas com o talento que supera todas as formalidades acadêmicas. Sou por eflorescências. Quase toda semana irrompem em mim vulcânicas primaveras. São flores de fogo. Procuro fixá-las em retábulos e, no exercício de iluminuras, copiá-las em pergaminhos. Porque só flores e borboletas superam as obras-primas da arte universal. Mas não sou dado a caçar borboletas.Não me agradam as idéias ajaezadas. Prefiro-as despojadas, diretas, translúcidas. Há dias em que me recolho à biblioteca do mosteiro em que vivo e passo horas contemplando iluminuras de manuscritos antigos.Eis que me apareceu em sonhos um homem cujos sapatos tinham bicos finos e longos; na cintura, profusão de laços; as mangas eram tufadas como balões e os punhos de renda. Ele estava de pé num salão fechado por cortinas de cores brilhantes, pontilhadas de estrelas de ouro entre espaços vazios cheios de sóis. Em volta, capitéis e um pesado brasonário. E ele sabia que a ataraxia é uma propriedade das mais belas esculturas.Súbito, ele começou a dançar em movimento suaves. Não havia música, apenas uma orquestra invisível de rinocerantes imensos e diminutos, gordos e delgados, altos e baixos, pesados e lépidos. Todos traziam fechaduras em suas patas arredondadas e ao abri-las e fechá-las imprimiam o ritmo que conduzia o dançarino. Acordado do outro lado do sonho, fiquei a me perguntar se tamanha ilogicidade que preside as emanações do inconsciente não seria a verdadeira lógica que a razão tanto teme e repudia (...)"
Do livro "A arte de semar estrelas".
"(...) É isso, não consigo ver o que os outros enxergam, não consigo rir do que os outros acham graça, não consigo deixar de ser eu mesmo, desconfiado, taciturno, porque são muitas as minhas cismas. Por exemplo, coleciono fechaduras e fotos de rinocerontes. Fechaduras, é obvio, servem para fechar, porque o ser humano não suporta a transparência. Precisa sempre se cobrir: de pêlo, máscaras, teto, muro, porque a nudez é uma arte que exige talento. Ainda que um homem e uma mulher estejam sem roupas, trancados num quarto, entregues às infinitas possibilidades do jogo erótico, não significa que estejam nus. Estão despidos. Nudez é outra coisa. É enfiar a faca até o cabo, arrebatar a lua com as mãos, destampar todos os recônditos da alma, os mais obscuros e ínfimos. Se nem suportamos ficar nus diante de nós mesmos, quanto mais diante dos outros! Por isso as fechaduras deveriam estar de língua recolhida, mas quase sempre elas se projetam interditando-nos.Por que fotos de rinocerontes? Faz tempo sonhei que eu era um rinoceronte, daqueles enormes que pesam toneladas. Locomovia-me com muita dificuldade, o que exigia paciência de todos à minha volta. Ao atravessar uma rua, eu me encontrava a meio caminho quando o sinal abria, irritando os motoristas; no cinema, precisava ocupar meia fila de cadeiras; no restaurante, comia metade do bufê.Gosto das esferas elegíacas. Da arte que não exprime lamento, dos primitivistas que ponteiam suas telas com o talento que supera todas as formalidades acadêmicas. Sou por eflorescências. Quase toda semana irrompem em mim vulcânicas primaveras. São flores de fogo. Procuro fixá-las em retábulos e, no exercício de iluminuras, copiá-las em pergaminhos. Porque só flores e borboletas superam as obras-primas da arte universal. Mas não sou dado a caçar borboletas.Não me agradam as idéias ajaezadas. Prefiro-as despojadas, diretas, translúcidas. Há dias em que me recolho à biblioteca do mosteiro em que vivo e passo horas contemplando iluminuras de manuscritos antigos.Eis que me apareceu em sonhos um homem cujos sapatos tinham bicos finos e longos; na cintura, profusão de laços; as mangas eram tufadas como balões e os punhos de renda. Ele estava de pé num salão fechado por cortinas de cores brilhantes, pontilhadas de estrelas de ouro entre espaços vazios cheios de sóis. Em volta, capitéis e um pesado brasonário. E ele sabia que a ataraxia é uma propriedade das mais belas esculturas.Súbito, ele começou a dançar em movimento suaves. Não havia música, apenas uma orquestra invisível de rinocerantes imensos e diminutos, gordos e delgados, altos e baixos, pesados e lépidos. Todos traziam fechaduras em suas patas arredondadas e ao abri-las e fechá-las imprimiam o ritmo que conduzia o dançarino. Acordado do outro lado do sonho, fiquei a me perguntar se tamanha ilogicidade que preside as emanações do inconsciente não seria a verdadeira lógica que a razão tanto teme e repudia (...)"
Do livro "A arte de semar estrelas".
sexta-feira, 9 de outubro de 2009
Inesquecível
Já fui para alguns shows dele, mas nenhum foi como o de ontem. Inesquecível! Teatro lotado. Ele com sua guitarra "de trailer", apresentando-nos 12 músicas novas... que agoniavam todo mundo que ousava ficar sentado. De vez em quando dois ou três levantavam e se rendiam a uma deliciosa mistura de côco, com forró... quase um frevo! Uma beleza!
Em seguida, ele pega o velho e bom violão "vazado" e nos presenteia com aqueles grandes sucessos. Maravilhoso! Aí ninguém mais ficou sentado mesmo. Até o Amarelo dançou um xote comigo (Uhuuuuu)!
Falando no Amarelo... fiquei olhando para ele, com o maior desejo de, naquele momento, conseguir olhar pelos seus olhos, escutar pelos seus ouvidos. Certamente, ele estava vendo e ouvindo um monte de coisas que, com meu pouco conhecimento musical, eu não conseguia escutar. Me deslumbrei com o seu deslumbramento.
Na volta para casa, tentamos escolher o melhor momento, sem conseguir. Entre tantos, teve a hora que ele cantou "Pensar em você"... foi lindo! Tão lindo, que ele pediu para acenderem as luzes, para assim poder ver a platéia, que cantava emocionada. E eu, cá com meus botões, me perguntava o que era mais bonito: o que eu estava ouvindo ou o momento no qual o Amarelo, no Parque da Jaqueira, lá no comecinho... pegou o violão e cantou pra mim. Difícil de escolher! Dois momentos idescritivelmente emocionantes. E o segundo momento se tornou muito mais emocionante porque houve o primeiro... sem dúvida! No Teatro, após a platéia cantar, ele puxa: "Olha aqui, preste atenção, essa é a nossa canção...". Perfeito!!!
Mas vou terminar esse post com a letra de uma outra música, que, com certeza, ele cantou pra mim... ou por mim!!! Hahahaha!!!
Lá vai... com vocês... Deus me proteja!!!
Deus me proteja de mim e da maldade de gente boa
Da bondade da pessoa ruim
Deus me governe e guarde ilumine e zele assim
Deus me proteja de mim e da maldade de gente boa
Da bondade da pessoa ruim
Deus me governe e guarde ilumine e zele assim
Caminho se conhece andando
Então vez em quando é bom se perder
Perdido fica perguntando
Vai só procurando
E acha sem saber
Perigo é se encontrar perdido
Deixar sem ter sido
Não olhar, não ver
Bom mesmo é ter sexto sentido
Sair distraído espalhar bem-querer
Em seguida, ele pega o velho e bom violão "vazado" e nos presenteia com aqueles grandes sucessos. Maravilhoso! Aí ninguém mais ficou sentado mesmo. Até o Amarelo dançou um xote comigo (Uhuuuuu)!
Falando no Amarelo... fiquei olhando para ele, com o maior desejo de, naquele momento, conseguir olhar pelos seus olhos, escutar pelos seus ouvidos. Certamente, ele estava vendo e ouvindo um monte de coisas que, com meu pouco conhecimento musical, eu não conseguia escutar. Me deslumbrei com o seu deslumbramento.
Na volta para casa, tentamos escolher o melhor momento, sem conseguir. Entre tantos, teve a hora que ele cantou "Pensar em você"... foi lindo! Tão lindo, que ele pediu para acenderem as luzes, para assim poder ver a platéia, que cantava emocionada. E eu, cá com meus botões, me perguntava o que era mais bonito: o que eu estava ouvindo ou o momento no qual o Amarelo, no Parque da Jaqueira, lá no comecinho... pegou o violão e cantou pra mim. Difícil de escolher! Dois momentos idescritivelmente emocionantes. E o segundo momento se tornou muito mais emocionante porque houve o primeiro... sem dúvida! No Teatro, após a platéia cantar, ele puxa: "Olha aqui, preste atenção, essa é a nossa canção...". Perfeito!!!
Mas vou terminar esse post com a letra de uma outra música, que, com certeza, ele cantou pra mim... ou por mim!!! Hahahaha!!!
Lá vai... com vocês... Deus me proteja!!!
Deus me proteja de mim e da maldade de gente boa
Da bondade da pessoa ruim
Deus me governe e guarde ilumine e zele assim
Deus me proteja de mim e da maldade de gente boa
Da bondade da pessoa ruim
Deus me governe e guarde ilumine e zele assim
Caminho se conhece andando
Então vez em quando é bom se perder
Perdido fica perguntando
Vai só procurando
E acha sem saber
Perigo é se encontrar perdido
Deixar sem ter sido
Não olhar, não ver
Bom mesmo é ter sexto sentido
Sair distraído espalhar bem-querer
quarta-feira, 7 de outubro de 2009
Penso que está chegando a hora de colocar alguém no mundo, de cuidar de forma mais próxima, tentar ser melhor um pouquinho para ele/ela e, ao mesmo tempo, construir um mundo um pouquinho melhor também com ele/ela. Nunca senti tanta vontade. Nunca me emocionei tanto, ao ver um filhote de cachorrinho.
segunda-feira, 5 de outubro de 2009
Imitação?
Lembro de já ter escrito ou ao menos pensado muito sobre isso. Costumo a ser muito sensitiva... energia ruim? Inveja? Sinto de longe. Tenho calafrio, arrepio... é impressionante!!! É como se houvesse uma força estranha, sugando tudo que há de bom e deixando um monte de coisa ruim. Lembrei de Pai Bob: “São os olhos... muitos olhos”. Aí escuto também a voz de Tiago Gato, dizendo que tenho delírio persecutório. É provável também. Mas, sem dúvida, algumas coisas procedem.
Uma certa vez coloquei uma definição no meu orkut. Era um texto de Clarice. Li no livro e copiei todinho. Do jeito que gosto de escrever: sem letras maiúsculas. De repente, tempos depois, encontro esse mesmo trecho no orkut de uma outra pessoa. O mesmo! E a prova que copiou e colou é que não tinha letra maiúscula nenhuma!!! Quando vi, senti algo estranho. Se tivesse um pouco mais de intimidade, havia questionado, mas não consegui fazer isso. Hoje em dia, tenho até medo de escrever certas coisas no orkut... porque até expressões que nunca vi ninguém usando, bem minhas e de Lucas, por exemplo, hoje, vejo pessoas próximas, que sei que visitam muito o nosso orkut, usando. É... talvez seja o preço de tanta exposição.
Sem contar com a forma de vestir. Gente que conheço se vestindo de uma forma bem característica e que com tempo vai incorporando coisas que eu claramente percebo que não faziam parte dela... faz parte da minha forma de me vestir. Digo isso porque nem sou muito de moda. Tenho o mesmo estilinho há um bom tempo... há uns anos.
Meu cunhado uma vez me disse que essas coisas não deviam me assustar. Disse que eu devia pensar que algumas pessoas acham massa algumas coisas e tentam fazer ou usar igual por isso. Olhando desse lado... realmente, é possível encarar como algo bom.
Eu também tenho minhas referências. Me inspiro e procuro aprender com a seriedade de Cintia, a simpatia de Fafa, a inteligência de Nara, a criticidade do meu irmão, o estilinho de Maricota... poderia falar em um monte de gente. Mas jamais poderia falar que procuro “ser como” essas pessoas. Talvez isso faça muita diferença na polaridade (positivo ou negativo) das energias enviadas. Eu não olho pra elas e digo: poxa, como fulana é assim. Eu digo: que massa que você é assim. E muitas vezes digo também: fulana, me ajuda, vai?!
Sinto que falta a algumas pessoas uma aceitação maior. Uma aceitação do que se é. Aprender a ser e me aceitar sendo talvez tenha sido o maior aprendizado que a leitura de Clarice me trouxe. Não falo da leitura virtual de Clarice... aquelas frase soltas, muitas vezes piegas... e que, muitas vezes também, não são dela (algumas eu posso até apostar que não são!). Falo de se envolver em sua obra e se perder no desafio de se encontrar.
No final de Água Viva ela diz algo do tipo: Fui ao encontro de mim. Calma, alegre, plenitude sem fulminação. Simplesmente eu sou eu. E você é você. É vasto, vai durar. É bem por aí...
Enfim, acho que já escrevi demais sobre isso. Que venham (ou fiquem!) apenas as boas energias!
Uma certa vez coloquei uma definição no meu orkut. Era um texto de Clarice. Li no livro e copiei todinho. Do jeito que gosto de escrever: sem letras maiúsculas. De repente, tempos depois, encontro esse mesmo trecho no orkut de uma outra pessoa. O mesmo! E a prova que copiou e colou é que não tinha letra maiúscula nenhuma!!! Quando vi, senti algo estranho. Se tivesse um pouco mais de intimidade, havia questionado, mas não consegui fazer isso. Hoje em dia, tenho até medo de escrever certas coisas no orkut... porque até expressões que nunca vi ninguém usando, bem minhas e de Lucas, por exemplo, hoje, vejo pessoas próximas, que sei que visitam muito o nosso orkut, usando. É... talvez seja o preço de tanta exposição.
Sem contar com a forma de vestir. Gente que conheço se vestindo de uma forma bem característica e que com tempo vai incorporando coisas que eu claramente percebo que não faziam parte dela... faz parte da minha forma de me vestir. Digo isso porque nem sou muito de moda. Tenho o mesmo estilinho há um bom tempo... há uns anos.
Meu cunhado uma vez me disse que essas coisas não deviam me assustar. Disse que eu devia pensar que algumas pessoas acham massa algumas coisas e tentam fazer ou usar igual por isso. Olhando desse lado... realmente, é possível encarar como algo bom.
Eu também tenho minhas referências. Me inspiro e procuro aprender com a seriedade de Cintia, a simpatia de Fafa, a inteligência de Nara, a criticidade do meu irmão, o estilinho de Maricota... poderia falar em um monte de gente. Mas jamais poderia falar que procuro “ser como” essas pessoas. Talvez isso faça muita diferença na polaridade (positivo ou negativo) das energias enviadas. Eu não olho pra elas e digo: poxa, como fulana é assim. Eu digo: que massa que você é assim. E muitas vezes digo também: fulana, me ajuda, vai?!
Sinto que falta a algumas pessoas uma aceitação maior. Uma aceitação do que se é. Aprender a ser e me aceitar sendo talvez tenha sido o maior aprendizado que a leitura de Clarice me trouxe. Não falo da leitura virtual de Clarice... aquelas frase soltas, muitas vezes piegas... e que, muitas vezes também, não são dela (algumas eu posso até apostar que não são!). Falo de se envolver em sua obra e se perder no desafio de se encontrar.
No final de Água Viva ela diz algo do tipo: Fui ao encontro de mim. Calma, alegre, plenitude sem fulminação. Simplesmente eu sou eu. E você é você. É vasto, vai durar. É bem por aí...
Enfim, acho que já escrevi demais sobre isso. Que venham (ou fiquem!) apenas as boas energias!
quarta-feira, 30 de setembro de 2009
Na beira do São Francisco
Momento de “desorientação” para a vida. Conversar e encontrar um caminho. Um? Alguns! Falamos sobre dores, planos, amores. Percepções do outro, sobre o outro. Esclarecimentos e possibilidades de mudanças. O gato com sua madura ingenuidade. Bene com seu ritmo docemente acelerado. Foi muito bom! E, na saída, ainda escutei uma voz que me disse que o Velho Chico estava levando tudo que havia de ruim e nos presenteando só com bons fluídos. Que venham os bons fluídos!
domingo, 27 de setembro de 2009
Aprendendo com as aprendizagens
Desistir do louco desejo de mudar o outro, de querer que o outro se torne exatamente o que você espera, parece ser um bom caminho para uma vida mais tranqüila. Passei longos oito anos identificando defeitos e sugerindo alternativas, que para mim eram claríssimas. Passei longos oito anos me frustrando, pois, por mais que houvesse mudanças, elas jamais eram suficientes.
Hoje, percebo que olhei muito para o outro, fui muito rígida com o outro e até esqueci de olhar para mim. Entre tantas coisas, criticava e me ofendia com o ciúme exagerado; me sentia desrespeitada. Porém, jamais pensei no que poderia fazer para lhe dar mais segurança. Jamais reconheci aquilo como algo que tinha a ver comigo: era do outro, um problema do outro e, portanto, cabia ao outro resolver.
Precisei de alguns dos oito anos para me convencer de que não conseguiria a mudança esperada, para colocar o meu limite e dizer: assim eu não quero! Hoje, percebo também como tudo não passava de exigências de uma menina ainda imatura e um tanto autoritária. Hoje, esforço-me para não repetir o erro.
Casei com um homem muitíssimo diferente de mim e acredito que só é possível ser feliz com ele porque não permiti que essa “Edna-autoritária” entrasse na corrida para moldá-lo. Foi/é difícil aceitar algumas coisas e não dá para dizer que aceito tudo. Vem sendo extremamente importante colocar o meu limite e aprender a negociar diante dele.
O mais interessante disso tudo é que, ao aceitá-lo como é e ao me manter como sou, no que é importante para mim, tanto eu quanto ele mudamos! Pois é... mudamos sim!!! Mas ele muda não porque eu lhe peço. Muda porque percebe algo em mim que lhe parece interessante e resolve experimentar. Exatamente o mesmo aconteceu e acontece comigo.
Hoje, vejo o quanto o admiro. Ele é dono de uma honestidade e de uma sensibilidade que eu nunca vi igual. A sensibilidade vem acompanhada de uma enorme disposição para me acolher, nos meus maiores defeitos e também nas minhas qualidades. Ele é também uma companhia maravilhosa, tanto que eu trocaria qualquer programação pela possibilidade de estar ao seu lado. Ele é divertido, leve, simples. Não precisa de muito para se sentir bem e para fazer eu me sentir assim. E ainda é capaz de me dar um prazer que jamais eu esperava sentir.
Alguém poderia pensar: é perfeito! Não é! Às vezes, é até muito difícil. Precisamos conversar muito e não apenas engolir algumas coisas. Sinto que, se reivindicasse a sua mudança, poderia até ganhar algumas coisas (embora duvide disso), mas tenho receio do que poderia perder. Prefiro fazer o esforço de significar seus “descuidos” como descuidos e não como maldade. Até porque diante de tudo que vivemos não dá para pensar diferente.
Hoje sinto esse amor mais forte, mais concreto, mais tranqüilo... o vejo como uma pessoa melhor e, ao seu lado, também me sinto melhor. Um dia desses disse para ele que não o amava incondicionalmente. O amava pelo que significava e pelo quanto me fazia bem. E deixarei de amá-lo, quando não for mais assim. Esse parece que foi o mais importante aprendizado para nós dois. Saber que o amor não é incondicional é cotidianamente construir esse amor, construir esse “para sempre”. Um “para sempre” que, se continuar assim, vai realmente durar muito!
Hoje, percebo que olhei muito para o outro, fui muito rígida com o outro e até esqueci de olhar para mim. Entre tantas coisas, criticava e me ofendia com o ciúme exagerado; me sentia desrespeitada. Porém, jamais pensei no que poderia fazer para lhe dar mais segurança. Jamais reconheci aquilo como algo que tinha a ver comigo: era do outro, um problema do outro e, portanto, cabia ao outro resolver.
Precisei de alguns dos oito anos para me convencer de que não conseguiria a mudança esperada, para colocar o meu limite e dizer: assim eu não quero! Hoje, percebo também como tudo não passava de exigências de uma menina ainda imatura e um tanto autoritária. Hoje, esforço-me para não repetir o erro.
Casei com um homem muitíssimo diferente de mim e acredito que só é possível ser feliz com ele porque não permiti que essa “Edna-autoritária” entrasse na corrida para moldá-lo. Foi/é difícil aceitar algumas coisas e não dá para dizer que aceito tudo. Vem sendo extremamente importante colocar o meu limite e aprender a negociar diante dele.
O mais interessante disso tudo é que, ao aceitá-lo como é e ao me manter como sou, no que é importante para mim, tanto eu quanto ele mudamos! Pois é... mudamos sim!!! Mas ele muda não porque eu lhe peço. Muda porque percebe algo em mim que lhe parece interessante e resolve experimentar. Exatamente o mesmo aconteceu e acontece comigo.
Hoje, vejo o quanto o admiro. Ele é dono de uma honestidade e de uma sensibilidade que eu nunca vi igual. A sensibilidade vem acompanhada de uma enorme disposição para me acolher, nos meus maiores defeitos e também nas minhas qualidades. Ele é também uma companhia maravilhosa, tanto que eu trocaria qualquer programação pela possibilidade de estar ao seu lado. Ele é divertido, leve, simples. Não precisa de muito para se sentir bem e para fazer eu me sentir assim. E ainda é capaz de me dar um prazer que jamais eu esperava sentir.
Alguém poderia pensar: é perfeito! Não é! Às vezes, é até muito difícil. Precisamos conversar muito e não apenas engolir algumas coisas. Sinto que, se reivindicasse a sua mudança, poderia até ganhar algumas coisas (embora duvide disso), mas tenho receio do que poderia perder. Prefiro fazer o esforço de significar seus “descuidos” como descuidos e não como maldade. Até porque diante de tudo que vivemos não dá para pensar diferente.
Hoje sinto esse amor mais forte, mais concreto, mais tranqüilo... o vejo como uma pessoa melhor e, ao seu lado, também me sinto melhor. Um dia desses disse para ele que não o amava incondicionalmente. O amava pelo que significava e pelo quanto me fazia bem. E deixarei de amá-lo, quando não for mais assim. Esse parece que foi o mais importante aprendizado para nós dois. Saber que o amor não é incondicional é cotidianamente construir esse amor, construir esse “para sempre”. Um “para sempre” que, se continuar assim, vai realmente durar muito!
domingo, 20 de setembro de 2009
João Henrique!
O filho de uma flor amarela é um botão de flor amarela? É uma promessa de vida que vem acompanhada do desejo de fazer tudo certo... fazer tudo dar certo. É uma luzinha que se acende, faz-nos enxergar melhor e, assim, olhar com mais cuidado para a nossa vida, para o que é realmente é importante. Seja bem vindo João Henrique!!!
terça-feira, 15 de setembro de 2009
Uma súbita vontade de viver... de voltar a viver e ser na leveza. Um furo no trabalho, uma tentativa bem sucedida de testar uma receita. Uma caminhada de mentira.... coisas tão simples, que, às vezes, vem com tantas cores. Cores! Sabores! Amores! É isso... só pode ser isso! Viva o colorido de mais um dia 15!
domingo, 13 de setembro de 2009
Ciúme
Sm! Ciúme! Não tem explicação, não cabe na nossa racionalidade... na minha, ao menos não! Mas ele vem e me toma, de forma irritantemente avassaladora. Tento engolir. Não desce. Tento pensar em outra coisa, mas o pensamento não sai da cabeça. Pensamento? Fantasias! Porque um ciúme digno precisa ser acompanhado das fantasias mais esquisitas, improváveis. Parece um sonho, ou melhor, um pesadelo. Suor, coração acelerado, choro engasgado... e o pesadelo não acaba. Tudo se passa em apenas uma noite (ou um dia!), mas parece um "sempre". De repente, um beijo, uma "impressão" de cheiro. Uma perna, uma pele deliciosa... o susto se transforma em tranquilidade. O coração desacelera, eu olho para o lado e percebo que acordei. Ufa.
terça-feira, 8 de setembro de 2009
Sei que para a maioria das pessoas isso é bobagem e é comum. O fato é que, desde que comecei a viver na correria de ter três empregos, me prometo um final de semana desses. Oito meses depois, ele acontece. Ainda estou em êxtase e me sentindo sim mais animada, fortalecida e até mais criativa! Um final de semana namorando, descansando e curtindo lindas paisagens. Dormindo as 19h, acordando no meio da noite, ganhando/ fazendo um carinho e dormindo de novo. Tudo perfeitinho e delicioso, na companhia de um homem lindo (em todos os sentidos), que vem me surpreendendo com a intensidade do seu amor e com um jeitinho muito particular de fazer eu me sentir bem, de me fazer feliz. Volto mais apaixonada, renovada e... para variar, cheia de planos!
sábado, 29 de agosto de 2009
Um fio de vó...
Depois de pelo menos cinco anos de agonia, ela se foi. No fundo, todos sabiam que ela devia ir mesmo, afinal... ela já tinha acertado todas as suas contas! Já não conseguia bater palmas no aniversário do filho, caminhar... já não conseguia quase falar.
Ontem foi a missa de sétimo dia, na Igreja de Nossa Senhora do Carmo, em pleno ato público do dia da visibilidade lésbica. O padre ficou irritado. Mas senti que a música e a animação das pessoas que se encontravam na frente da Igreja deu um ar menos fúnebre a um dia ainda triste. Porque, embora meu fio de vó não traga só boas lembranças... encontrar-se com a morte é algo sempre muito difícil.
A Igreja me chamou muita atenção. Ia dizer linda... mas prefiro dizer imponente! Tons dourados, anjos, imagens fortes. Enorme e, de certa forma, estranha.
Senti que eu tinha que estar ali pelo meu pai e porque vovó acreditava naquilo tudo. Estava ali por ele... por ela. Mas é impressionante como esse mundo não me pertence mais e como acho que isso me distancia muito mais do que me aproxima de Deus.
Ensaiei conversar com mainha sobre isso. Claro que ela ficou horrorizada.
Ontem foi a missa de sétimo dia, na Igreja de Nossa Senhora do Carmo, em pleno ato público do dia da visibilidade lésbica. O padre ficou irritado. Mas senti que a música e a animação das pessoas que se encontravam na frente da Igreja deu um ar menos fúnebre a um dia ainda triste. Porque, embora meu fio de vó não traga só boas lembranças... encontrar-se com a morte é algo sempre muito difícil.
A Igreja me chamou muita atenção. Ia dizer linda... mas prefiro dizer imponente! Tons dourados, anjos, imagens fortes. Enorme e, de certa forma, estranha.
Senti que eu tinha que estar ali pelo meu pai e porque vovó acreditava naquilo tudo. Estava ali por ele... por ela. Mas é impressionante como esse mundo não me pertence mais e como acho que isso me distancia muito mais do que me aproxima de Deus.
Ensaiei conversar com mainha sobre isso. Claro que ela ficou horrorizada.
quinta-feira, 27 de agosto de 2009
Casamento de Narinha....
* Texto lido no finalzinho da cerimônia!
Fábio e Nara. Narinha, nós que aqui estamos precisamos mesmo agradecer por poder assistir a um momento tão bonito. Tão verdadeiro. Tão de vocês. Sim! De vocês! E na condição de amiga de infância, mesmo tentando conter toda a nostalgia e as boas lembranças que esse lugar traz para muitos dos que estão aqui, coube a mim ser porta voz dessa simples mensagem. Porque hoje é mesmo o dia de lembrar do que trouxe vocês até aqui. Lembrar dos momentos e sentimentos de mais de oito anos de convivência. Foram oito anos de aprendizagem e de preparação para a vida que se inicia agora. Mais do que uma casa linda e suada em Aldeia ... os passos que serão dados a partir de hoje precisarão também de tudo que foi plantado. Precisarão da tolerância e do companheirismo de Fábio. Da responsabilidade e da disciplina de Narinha. Uma mistura de tudo que nesse tempo fizeram de vocês dois. Digo dois, porque acompanhei e sei que a maior marca dessa relação é o respeito e a forma sutil como cada um olha para o outro e aceita, acolhe as singularidades. Vocês são dois, unidos por um. Um amor. Em Um encontro. Nesse encontro.
Dizem que os verdadeiros encontros mudam a gente. Fazem de nós pessoas melhores. Que vocês sejam melhores um, a partir do outro. Um para o outro. Juntos! E Que o amor de vocês floresça, se fortaleça e continue nos presenteando com outras tantas doses de amor.
Paixão! Mais do que um apelido de início de namoro. Mais do que o encantamento diante de um encontro casual. Casual? Pode se chamar de casual um encontro entre dois corações? Parece que algo os levou aquele lugar. Algo direcionou os seus olhares. Um encontro. E que encontro! Eles estavam mesmo se preparando. Errando e acertando... até se encontrarem. Encontrarem-se e mergulharem um no outro. E de dois se fizeram um. Um amor! Amor! De repente, a vida se tornou mais leve. Tudo ganhou cores, cheiros e amores. Amor ou amores? Amores! Porque eles não vieram a esse encontro sozinhos. Trouxeram suas famílias, seus amigos, os seus.... eles nos presentearam com o amor que cada um, certamente, está sentindo nesse exato momento. Porque o amor que eles trazem em seus corações exala, transborda, contagia. Faz cada um de nós olhar para as nossas histórias, para os nossos corações e voltar a nos encantar com cada pequena e simples dose de amor.
Fábio e Nara. Narinha, nós que aqui estamos precisamos mesmo agradecer por poder assistir a um momento tão bonito. Tão verdadeiro. Tão de vocês. Sim! De vocês! E na condição de amiga de infância, mesmo tentando conter toda a nostalgia e as boas lembranças que esse lugar traz para muitos dos que estão aqui, coube a mim ser porta voz dessa simples mensagem. Porque hoje é mesmo o dia de lembrar do que trouxe vocês até aqui. Lembrar dos momentos e sentimentos de mais de oito anos de convivência. Foram oito anos de aprendizagem e de preparação para a vida que se inicia agora. Mais do que uma casa linda e suada em Aldeia ... os passos que serão dados a partir de hoje precisarão também de tudo que foi plantado. Precisarão da tolerância e do companheirismo de Fábio. Da responsabilidade e da disciplina de Narinha. Uma mistura de tudo que nesse tempo fizeram de vocês dois. Digo dois, porque acompanhei e sei que a maior marca dessa relação é o respeito e a forma sutil como cada um olha para o outro e aceita, acolhe as singularidades. Vocês são dois, unidos por um. Um amor. Em Um encontro. Nesse encontro.
Dizem que os verdadeiros encontros mudam a gente. Fazem de nós pessoas melhores. Que vocês sejam melhores um, a partir do outro. Um para o outro. Juntos! E Que o amor de vocês floresça, se fortaleça e continue nos presenteando com outras tantas doses de amor.
segunda-feira, 24 de agosto de 2009
Tempestade que não passa!
Achei que ia enlouquecer. Acidente de Lucas, necrose, cirurgia de Lucas, pós-operatório delicado, assalto, troca de carro frustrada, ccf, loja fechada, gerente do banco de merda, desistência do concurso, trabalho (muito trabalho!), carro quebrado, crise de pânico... talvez tenha sido o mês mais difícil da minha vida. Meu coração sente que tudo está se acalmando, mas ainda é cedo para dizer. Espero um arco-íris que não chega. E, enquanto não chega, consegui um defumador espiritual e um banho de 21 ervas. Espero que funcione!
quinta-feira, 30 de julho de 2009
Um pedaço de mim...
Lembrei do dedo de Turla cortado, que eu ajudei a cuidar e a acalmá-la; do pé da minha sogra cortado, que eu limpei o sangue, fiz o curativo; do meu sogro internado e eu entrando na UTI para segurar a sua mão e tranqüilizá-lo; do acidente de trânsito com Cintia, das nossas risadas e da nossa foto no safety car; do falecimento da mãe de Liu, no dia que eu cheguei para visitá-la, e de como cuidei de tudo, desde de vestí-la, até o velório e o consolo da família; lembrei dos incêndios que apago diariamente no albergue, com toda calma do mundo... e por que vem sendo tão difícil agora? Onde está a minha força? Todas essas coisas foram mais fáceis porque, embora se tratasse de pessoas muito queridas, eram coisas fora de mim. Descobri ao final disso tudo que Lucas é um pedaço de mim. Talvez, o mais importante deles. E como é difícil não conseguir proteger esse pedaço e evitar tanta dor.
sexta-feira, 24 de julho de 2009
Pernambucano em São Paulo
Só uma obervação...
Incrível como em toda esquina encontramos um pernambucano em São Paulo. Já senti isso no Rio. Isso poderia soar como algo extremamente positivo, uma vez que estamos em cidades mais desenvolvidas. Mas onde estão meus conterrâneos nesse desenvolvimento? Dirigindo um táxi, um fogão... servindo comidas num bar. Quais os custos dessa migração? Como aceitar esse lugar de subimissão em troca de tantos outros não-lugares? Difícil imaginar e me colocar no lugar dessas pessoas. Mas uma coisa é certa.... elas me dão mais certeza de que Recife é o meu lugar.
Incrível como em toda esquina encontramos um pernambucano em São Paulo. Já senti isso no Rio. Isso poderia soar como algo extremamente positivo, uma vez que estamos em cidades mais desenvolvidas. Mas onde estão meus conterrâneos nesse desenvolvimento? Dirigindo um táxi, um fogão... servindo comidas num bar. Quais os custos dessa migração? Como aceitar esse lugar de subimissão em troca de tantos outros não-lugares? Difícil imaginar e me colocar no lugar dessas pessoas. Mas uma coisa é certa.... elas me dão mais certeza de que Recife é o meu lugar.
03:07
Coração apertado, depois de receber um torpedo de insônia do meu amor e ousar falar com ele, ao telefone. Só para escutar sua voz lentificada, seus lamentos... tentar dar um conforto, a ele e ao meu coração apertado. Sozinha, num aeroporto quase vazio, mas com pessoas suficientes para olharem tronxo a cada espirro meu. Como se fosse novidade do porco Edna espirrando todos os dias (à noite e início dos dias!); ainda mais num ar condicionado gelado. Na companhia de Sara Tavares, escrevo, sem raciocinar direito; escrevo apenas para diminuir um pouco a ansiedade de colocar meus pés em Recife e meus braços no Amarelo. Mais uma vez volto de uma viagem com planos. Dessa vez, planos menos fúteis. Volto quebrando a cabeça... como construir uma vida mais autêntica? Mais bem vivida? Como conseguir fazer um bem diário a todas as pessoas que me fazem bem? Volto querendo ser um pouco melhor e fazer um pouco mais de bem a pessoas que amo tanto.
quarta-feira, 22 de julho de 2009
Medo de perder
Acordei, no frio de Santa Bárbara D’oeste, depois de uns sonhos meio tumultuados. Olhei para o celular e vi que Lucas não tinha enviado a mensagem dizendo que havia chegado em casa. Achei estranho, porque ontem de noite falei com ele e pedi para ele ser mais atencioso com as notícias, tendo em vista que estávamos longe. Ele prometeu que faria isso e, perto de 2h da madrugada, ligou dizendo que viajaria às 04h, para pegar a estrada já no claro.
Por volta de meio dia, mainha liga dizendo que Lucas sofreu um acidente. Disse que teve uns cortes na boca, mas que estava bem. O ônibus que ele vinha de Garanhuns virou. Na hora, senti um aperto que jamais senti na vida. Desabei no choro, com a certeza de que não estava nada bem.
Nesses poucos instantes, passou um filme na minha cabeça de tudo que vivemos e, sobretudo, de tudo que queremos viver. Pensei nas nossas brigas bobas, nas noites que dormimos chateados um com o outro. Veio uma culpa. Um medo de não ter mais a chance de viver tantas coisas.
Liguei para o celular dele, desesperada. Foi quando meu sogro atendeu o celular. Não acreditei em uma palavra do que ele disse, até falar com Lucas, ouvir sua voz. A voz do meu amarelinho! Como sempre, ele tentava me tranqüilizar, dizer que estava bem, que estava tranqüilo. Meu marido lindo, que cuida de mim até quando é ele que precisa ser cuidado.
Eu só queria que ele não tivesse sofrido. Fiquei imaginando o seu desespero com o sangue da boca escorrendo... froxo que nem ele é! Fiquei imaginando o susto que ele levou, o medo que ele teve. Daria qualquer coisa para que ele não sofresse. Passaria por qualquer coisa em seu lugar.
Hoje tive a exata noção que todas as dificuldades que passamos são pequenas e vi como o nosso amor é grande. Como não há nada mais importante do que a vida que estamos construindo e como minha felicidade está tão ligada a dele.
Passei parte da tarde no computador, tentando confortá-lo (e me confortar) à distância. Vendo como estava seu rostinho, escutando a sua voz... Tentando convencê-lo do quanto é importante e do quanto estaremos juntos, vendo e fazendo tudo ficar bem.
Por volta de meio dia, mainha liga dizendo que Lucas sofreu um acidente. Disse que teve uns cortes na boca, mas que estava bem. O ônibus que ele vinha de Garanhuns virou. Na hora, senti um aperto que jamais senti na vida. Desabei no choro, com a certeza de que não estava nada bem.
Nesses poucos instantes, passou um filme na minha cabeça de tudo que vivemos e, sobretudo, de tudo que queremos viver. Pensei nas nossas brigas bobas, nas noites que dormimos chateados um com o outro. Veio uma culpa. Um medo de não ter mais a chance de viver tantas coisas.
Liguei para o celular dele, desesperada. Foi quando meu sogro atendeu o celular. Não acreditei em uma palavra do que ele disse, até falar com Lucas, ouvir sua voz. A voz do meu amarelinho! Como sempre, ele tentava me tranqüilizar, dizer que estava bem, que estava tranqüilo. Meu marido lindo, que cuida de mim até quando é ele que precisa ser cuidado.
Eu só queria que ele não tivesse sofrido. Fiquei imaginando o seu desespero com o sangue da boca escorrendo... froxo que nem ele é! Fiquei imaginando o susto que ele levou, o medo que ele teve. Daria qualquer coisa para que ele não sofresse. Passaria por qualquer coisa em seu lugar.
Hoje tive a exata noção que todas as dificuldades que passamos são pequenas e vi como o nosso amor é grande. Como não há nada mais importante do que a vida que estamos construindo e como minha felicidade está tão ligada a dele.
Passei parte da tarde no computador, tentando confortá-lo (e me confortar) à distância. Vendo como estava seu rostinho, escutando a sua voz... Tentando convencê-lo do quanto é importante e do quanto estaremos juntos, vendo e fazendo tudo ficar bem.
Depois do desespero, estou é cheia de vontade de chegar em Recife, celebrar o amor e a vida.
sábado, 18 de julho de 2009
Lenine
Fico me perguntando por que gosto tanto de Lenine. Não sou uma pessoa de ídolos. Jamais colecionei recortes de cantores, artistas... para não dizer que nunca gostei muito de um, lembro de na minha adolescência chorar, ouvindo Lulu Santos.
Tinha uma fita cassete de um show do disco “O último romântico”, com Milton Guedes tocando tudo. Era mesmo de fazer chorar. Mas, depois que ouvi Lulu Santos falando do nordeste, desanimei. Achei ele um verdadeiro merda e não consegui escutar mais as músicas dele com a mesma emoção.
Nessa trajetória de poucos ídolos, lembro de algumas amigas adorando Los Hermanos e outras bandinhas nesse estilo. Jamais me encantou. Sentia que as músicas me deprimiam, me faziam lembrar do pior. Um horror! Escutar música para chorar é dose! Prefiro chorar sem trilha sonora.
O mais surpreendente é que o meu encontro com Lenine foi num momento muito propício a choros. Eu tinha terminado um namoro, longo e conturbado. Acho que era a milésima vez que terminava e não foi a última. Fui com um casal de amigos para o Palco Pernambuco. Um show histórico, que trouxe Gabriel O Pensador, Lenine e Arnaldo Antunes. Acho que foi isso. E lembro exatamente da sensação que tive ao escutar Lenine naquele dia.
Apesar da fossa, a sensação não foi de fossa! Muito pelo contrário! Lembro de fechar os olhos, dançar e me sentir bem. Cantava as músicas e voltava a me ver como uma mulher bonita, como interessante... todas as coisas que num final de namoro você não se acha.
“Hoje eu quero sair só” ... “Só você, que é todas elas juntas num só ser”....
Foi revigorante! E, desde então, Lenine está na minha vida, sempre com essa função: revigorar! E revigora! E, para ele, eu grito: liiiindo! Até porque daria muito trabalho sintetizar isso tudo que escrevi nesse post numa frase só. Agora no FIG tentei o grito “taletoooooso”. Não foi legal! Continuarei gritando “liiiindo” e esperando o dia que poderei abraçá-lo... e agradecer pela revigorante companhia.
Tinha uma fita cassete de um show do disco “O último romântico”, com Milton Guedes tocando tudo. Era mesmo de fazer chorar. Mas, depois que ouvi Lulu Santos falando do nordeste, desanimei. Achei ele um verdadeiro merda e não consegui escutar mais as músicas dele com a mesma emoção.
Nessa trajetória de poucos ídolos, lembro de algumas amigas adorando Los Hermanos e outras bandinhas nesse estilo. Jamais me encantou. Sentia que as músicas me deprimiam, me faziam lembrar do pior. Um horror! Escutar música para chorar é dose! Prefiro chorar sem trilha sonora.
O mais surpreendente é que o meu encontro com Lenine foi num momento muito propício a choros. Eu tinha terminado um namoro, longo e conturbado. Acho que era a milésima vez que terminava e não foi a última. Fui com um casal de amigos para o Palco Pernambuco. Um show histórico, que trouxe Gabriel O Pensador, Lenine e Arnaldo Antunes. Acho que foi isso. E lembro exatamente da sensação que tive ao escutar Lenine naquele dia.
Apesar da fossa, a sensação não foi de fossa! Muito pelo contrário! Lembro de fechar os olhos, dançar e me sentir bem. Cantava as músicas e voltava a me ver como uma mulher bonita, como interessante... todas as coisas que num final de namoro você não se acha.
“Hoje eu quero sair só” ... “Só você, que é todas elas juntas num só ser”....
Foi revigorante! E, desde então, Lenine está na minha vida, sempre com essa função: revigorar! E revigora! E, para ele, eu grito: liiiindo! Até porque daria muito trabalho sintetizar isso tudo que escrevi nesse post numa frase só. Agora no FIG tentei o grito “taletoooooso”. Não foi legal! Continuarei gritando “liiiindo” e esperando o dia que poderei abraçá-lo... e agradecer pela revigorante companhia.
terça-feira, 7 de julho de 2009
Receita pretexto!
Você pega duas cebolas médias, rala e coloca para dourar, num azeite bem gostoso (de preferência aquele cítrico... Andorinha Citrus). Depois você acrescenta um alho, cortado bem pequenininho. Quando estiver com aquele cheirinho delicioso, você coloca 400 gramas de camarão médio (cozido e sem casca), 300 gramas de polvo (também já cozido) e 300 gramas de salmão (cru e após ficar um tempinho no sal e limão). Deixa dourar, acrescenta ervas finas (aquelas que já vendem misturadinhas), tampa a panela (que deve ser bem grande), mexendo de vez em quando. Toda vez que estiver parecendVocê pega duas cebolas médias, rala e coloca para dourar, num azeite bem gostoso (de preferência aquele cítrico... Andorinha Citrus). Depois você acrescenta um alho, cortado bem pequenininho. Quando estiver com aquele cheirinho delicioso, você coloca 400 gramas de camarão médio (cozido e sem casca), 300 gramas de polvo (também já cozido) e 300 gramas de salmão (cru e após ficar um tempinho no sal e limão). Deixa dourar, acrescenta ervas finas (aquelas que já vendem misturadinhas), tampa a panela (que deve ser bem grande), mexendo de vez em quando. Toda vez que estiver parecendo seco, acrescenta o azeite cítrico. Pronto. É só preparar a massa... qualquer uma “grano durum”. Eu prefiro penne! Mistura tudo e coloca na mesa. Está aí a receita pretexto... pretexto para reunir pessoas queridas e cultivar as melhores energias! Rápida e gostosa! O “efeito” está nos nossos sorrisos!
quarta-feira, 1 de julho de 2009
10 de maio?
10 de maio? A ausência de escritos lembra-me a dificuldade de cumprir aqueles compromissos meus comigo mesma. Porque vontade de escrever e histórias para contar, não faltaram! Mas, como não há prazo, não há punição, não há nota... esse compromisso parece sempre ser menos importante. Mas hoje assisti um filme e senti que, sem querer, fiz um carinho em mim, lembrando com ele de tantas histórias bonitas que já pude viver: O Curioso Caso de Benjamim Button. Vale à pena. Sinto-me acarinhada... vontade de abraçar o mundo! Quis registrar um pouco desse sentimento aqui!
domingo, 10 de maio de 2009
"E tu tem filho?"
Era perto de 18h, quando recebi uma ligação de uma grande amiga. Daquelas que, mesmo distante fisicamente, faz questão de se fazer presente, nos dias e momentos mais importantes.
Ela disse que estava ligando para me dá parabéns e completou: “porque eu acho que madrasta também é um pouco mãe, né?”. Na hora, me surpreendi e, além de agradecer, disse que ela era a primeira pessoa que me falava isso hoje. Desliguei o telefone bem reflexiva... na verdade, acho mesmo que estou bem mais reflexiva que o normal e isso não é bom.
Na hora, passou um filme na minha cabeça. O quanto essa relação Edna-Gabi já foi dolorosa, para mim, e o quanto também é prazerosa. Pensei em todo investimento afetivo que fiz e também que, certamente, ela precisou fazer. Afinal de contas, precisou aceitar uma “Tia Edna” na vida dela. Pensei nos momentos mais difíceis... e foram tantos. Como foi difícil o encontro da minha história, de tudo que já vivi, com a dela... e tudo que ela ainda poderia viver. Tentei ser cuidadosa... não estar tão perto e nem tão longe. Segui procurando meio-termos e sei que não consegui encontra-los. Entre o “hora demais” e o “hora de menos”, escolhi o demais. E, sem dúvida, isso deve me ter feito atropelar algumas coisas, pessoas... acho mesmo que atropelei a mim.
Quando desliguei o telefone e depois de todo esse filme, que em segundos passou pela minha cabeça, Lucas me pergunta o que Nara queria, ao telefone. E eu apenas disse que ela ligou pra me dar os parabéns. Foi aí que me surpreendi com uma frase que mais do que uma brincadeira, em um português mal falado, foi para mim disparadora de tantas outras reflexões: “E tu tem filho?”.
Claro que a frase de Lucas me fez muito refletir... refletir sobre os lugares que me coloco, sobre as coisas que assumo... mesmo sem ninguém pedir. O mais interessante é isso! Ninguém me pede, ninguém me cobra, mas eu dou... dou porque aprendi a amá-la sim, e de forma muito intensa. Pode parecer estranho... e confesso que, às vezes, também é estranho pra mim.
Não! Realmente não tenho! E, se tem alguma coisa que a Gabi não falta é mãe. Posso até dizer que sobra! Tem a sorte de ter uma mãe que é uma referência de dedicação, abdicação, valores e bom senso (o que é muito difícil nos dias de hoje!). Também não quero ser sua mãe, substituir a sua ou ser mais uma mãe... nunca quis. Só que acho que o lugar de madrasta ou simplesmente “a mulher do pai” não me cabe. Não só.
O fato é que nunca imaginei viver o que vivo hoje. E venho sentindo que não soube e não sei lidar com isso. Por mais que esse hoje já faça mais de dois anos, ainda percebo algumas marcas e algumas feridas, que mesmo eu cuidando bem direitinho, colocando remédio, limpando... ainda não cicatrizaram. São feridas minhas, resultados de esforços meus, coisas que são tão custosas pra mim... coisas que jamais revelarei.
A frase de Lucas me fez, além de revistar essas feridas, me fez também repensar as escolhas... sobretudo, a escolha pelo “demais”. E escrever hoje, a essa hora, com tudo que tenho que fazer amanhã, é uma forma de dizer para mim mesma (com todo pleonasmo, para ser bem convincente!): eu não tenho filhos. E, a partir de amanhã, quero viver a implicação disso!
Ela disse que estava ligando para me dá parabéns e completou: “porque eu acho que madrasta também é um pouco mãe, né?”. Na hora, me surpreendi e, além de agradecer, disse que ela era a primeira pessoa que me falava isso hoje. Desliguei o telefone bem reflexiva... na verdade, acho mesmo que estou bem mais reflexiva que o normal e isso não é bom.
Na hora, passou um filme na minha cabeça. O quanto essa relação Edna-Gabi já foi dolorosa, para mim, e o quanto também é prazerosa. Pensei em todo investimento afetivo que fiz e também que, certamente, ela precisou fazer. Afinal de contas, precisou aceitar uma “Tia Edna” na vida dela. Pensei nos momentos mais difíceis... e foram tantos. Como foi difícil o encontro da minha história, de tudo que já vivi, com a dela... e tudo que ela ainda poderia viver. Tentei ser cuidadosa... não estar tão perto e nem tão longe. Segui procurando meio-termos e sei que não consegui encontra-los. Entre o “hora demais” e o “hora de menos”, escolhi o demais. E, sem dúvida, isso deve me ter feito atropelar algumas coisas, pessoas... acho mesmo que atropelei a mim.
Quando desliguei o telefone e depois de todo esse filme, que em segundos passou pela minha cabeça, Lucas me pergunta o que Nara queria, ao telefone. E eu apenas disse que ela ligou pra me dar os parabéns. Foi aí que me surpreendi com uma frase que mais do que uma brincadeira, em um português mal falado, foi para mim disparadora de tantas outras reflexões: “E tu tem filho?”.
Claro que a frase de Lucas me fez muito refletir... refletir sobre os lugares que me coloco, sobre as coisas que assumo... mesmo sem ninguém pedir. O mais interessante é isso! Ninguém me pede, ninguém me cobra, mas eu dou... dou porque aprendi a amá-la sim, e de forma muito intensa. Pode parecer estranho... e confesso que, às vezes, também é estranho pra mim.
Não! Realmente não tenho! E, se tem alguma coisa que a Gabi não falta é mãe. Posso até dizer que sobra! Tem a sorte de ter uma mãe que é uma referência de dedicação, abdicação, valores e bom senso (o que é muito difícil nos dias de hoje!). Também não quero ser sua mãe, substituir a sua ou ser mais uma mãe... nunca quis. Só que acho que o lugar de madrasta ou simplesmente “a mulher do pai” não me cabe. Não só.
O fato é que nunca imaginei viver o que vivo hoje. E venho sentindo que não soube e não sei lidar com isso. Por mais que esse hoje já faça mais de dois anos, ainda percebo algumas marcas e algumas feridas, que mesmo eu cuidando bem direitinho, colocando remédio, limpando... ainda não cicatrizaram. São feridas minhas, resultados de esforços meus, coisas que são tão custosas pra mim... coisas que jamais revelarei.
A frase de Lucas me fez, além de revistar essas feridas, me fez também repensar as escolhas... sobretudo, a escolha pelo “demais”. E escrever hoje, a essa hora, com tudo que tenho que fazer amanhã, é uma forma de dizer para mim mesma (com todo pleonasmo, para ser bem convincente!): eu não tenho filhos. E, a partir de amanhã, quero viver a implicação disso!
quarta-feira, 22 de abril de 2009
No outro...
Está no outro. É do outro. Não é meu. Foi a chuva. Foi o calor. Foi ele...
O que do outro está em mim? O que de mim está no outro?
Xiii! Momento difícil de reflexão e de reconhecimento que estou implicada em tudo e que, de certa forma, também sou responsável por tudo. Não queria ser.
O que do outro está em mim? O que de mim está no outro?
Xiii! Momento difícil de reflexão e de reconhecimento que estou implicada em tudo e que, de certa forma, também sou responsável por tudo. Não queria ser.
sexta-feira, 17 de abril de 2009
o corredor do HGV...
Hoje foi um dia excepcionalmente difícil. Comecei o dia até bem. Às 08:15, estava no Córrego do Jenipapo, em uma reunião com a equipe da Unidade de Saúde (mais uma das seis Unidades que, a partir desse mês, precisarei visitar mensalmente). Sai bem instigada! Ô povo bom!
Segui para o almoxarifado central da Prefeitura, atrás dos materiais do Albergue. Depois de algumas horas, sai de lá com o carro carregado. Pense em uma alegria. Fazia uns dias que eu me desdobrava para conseguir esses materiais.
À tarde, quando já estava em outra reunião, tive a notícia de que um hóspede do Albergue havia passado mal e foi encaminhado com suspeita de AVC para o Hospital Getúlio Vargas (HGV). Foi deixado lá sozinho, porque, além de viver em situação de rua, não tem referência familiar.
Sai da reunião direto para o HGV, onde vi cenas que não me saem da cabeça e, nesse exato momento, mesmo com todo o cansaço, me impedem de dormir. Parecia uma guerra. Um corredor, cheio de pessoas agonizando. Uma ensangüentada, um gritando de dor, outro todo defecado... não havia espaço sequer para os brutos maqueiros empurrarem suas macas.
Brutos? E como não ser bruto? Fiquei impressionada porque naqueles corredores não vi ninguém pedindo “licença” ou “por favor” ou ainda dizendo “boa noite”. Caras fechadas, ombros que se empurram, num corredor apertado. Tentei falar com alguns funcionários. Tentei conseguir um lençol, porque o meu paciente tremia de frio. Mal as pessoas conseguiam me dizer “não”.
Aí fiquei pensando nessa história... no que eu senti, quando entrei ali. Se cada profissional daquele sentisse o que eu senti, quando entrei ali, de duas uma: não teria mais ninguém disposto a trabalhar ali ou, então, todos enlouqueceriam. É! Para suportar um trabalho em condições tão precárias deve mesmo ser preciso embrutecer.
Encontrei meu paciente desorientado. Sem saber para onde ir e sem ter ninguém que o ajudasse. Tentei fazer isso e, depois de algumas horas e de alguns “não”, ele foi atendido e encaminhado para fazer uma tomografia. Quando já estávamos com o resultado na mão, soubemos que ele só seria liberado depois que falasse com um neurologista. Ou seja, só amanhã de manhã.
Eis que começamos uma nova saga: conseguir uma maca, para que ele pudesse dormir. Depois de apelar para a chefe da enfermaria, utilizar do argumento de poder, me colocando como uma colega, coordenadora de um outro serviço, consigo uma maca. Porém não há chão para colocá-la. Sim! Não tem um espaço vazio que caiba essa maca! Tive que disfarçar os olhos enxarcados, que traziam uma mistura de indignação, compaixão e desespero mesmo. Afastei umas cadeiras, falei mais alto e coloquei a danada da maca entre as cadeiras.
Depois disso, me encaminho ao serviço social do hospital, para falar sobre o caso e para solicitar que, na manhã seguinte, alguém pudesse encaminhar o paciente ao médico, uma vez que o paciente não conseguiria chegar ao médico sozinho. A assistente social me disse que era IMPOSSÍVEL FALAR EM ATENDIMENTO PARTICULARIZADO. Eu tentei falar mais sobre o caso, coloquei que ele era morador de rua, não tinha referência familiar, não tinha ninguém... e ela (também embrutecida) me disse que não poderia fazer nada. Como não? Perguntei ainda como eles lidam com moradores de rua e ela disse, simplesmente, que eles não lidam. Os moradores ficam jogados por lá até serem atendidos... quando? Não se sabe!
Aí, inicio um outra luta. Conseguir alguém que pudesse estar no HGV amanhã para dar esse suporte. Liguei para Gerente do Distrito, às 22h, e felizmente ela me atendeu. Me escutou, apoiou, autorizou que pagássemos hora extra a um redutor de danos, para que fosse feito esse acompanhamento. Uma luz no final do túnel. Alguém ainda preserva humanidade, sensibilidade... agradeci tanto que acho que ela estranhou. Afinal de contas, não estava fazendo mais do que cumprir a sua função. Mas, num serviço de saúde embrutecido, de pessoas que precisaram embrutecer... ela foi hoje um pingo de esperança. Que bom!
Cheguei em casa às 23:30... isso mesmo! De 07:30 às 23:30 na rua. Morta! Mas não consigo pensar em dormir. Muitas imagens na cabeça, muitos sentimentos misturados. Muita tristeza sim. É muito ruim pensar nas pessoas que estavam naquele corredor. Nas histórias que ouvi. Penso também em “Seu fulano” (meu paciente). Em como ele deve estar, naquela maca, entre cadeiras. Queria poder fazer mais. Queria poder ajudar mais. Como dói não poder fazer mais. O sentimento agora ainda é de tristeza... só espero conseguir transforma-lo em força e resistência. Porque é preciso sim, mesmo diante de tantas adversidades, tentar não embrutecer.
Segui para o almoxarifado central da Prefeitura, atrás dos materiais do Albergue. Depois de algumas horas, sai de lá com o carro carregado. Pense em uma alegria. Fazia uns dias que eu me desdobrava para conseguir esses materiais.
À tarde, quando já estava em outra reunião, tive a notícia de que um hóspede do Albergue havia passado mal e foi encaminhado com suspeita de AVC para o Hospital Getúlio Vargas (HGV). Foi deixado lá sozinho, porque, além de viver em situação de rua, não tem referência familiar.
Sai da reunião direto para o HGV, onde vi cenas que não me saem da cabeça e, nesse exato momento, mesmo com todo o cansaço, me impedem de dormir. Parecia uma guerra. Um corredor, cheio de pessoas agonizando. Uma ensangüentada, um gritando de dor, outro todo defecado... não havia espaço sequer para os brutos maqueiros empurrarem suas macas.
Brutos? E como não ser bruto? Fiquei impressionada porque naqueles corredores não vi ninguém pedindo “licença” ou “por favor” ou ainda dizendo “boa noite”. Caras fechadas, ombros que se empurram, num corredor apertado. Tentei falar com alguns funcionários. Tentei conseguir um lençol, porque o meu paciente tremia de frio. Mal as pessoas conseguiam me dizer “não”.
Aí fiquei pensando nessa história... no que eu senti, quando entrei ali. Se cada profissional daquele sentisse o que eu senti, quando entrei ali, de duas uma: não teria mais ninguém disposto a trabalhar ali ou, então, todos enlouqueceriam. É! Para suportar um trabalho em condições tão precárias deve mesmo ser preciso embrutecer.
Encontrei meu paciente desorientado. Sem saber para onde ir e sem ter ninguém que o ajudasse. Tentei fazer isso e, depois de algumas horas e de alguns “não”, ele foi atendido e encaminhado para fazer uma tomografia. Quando já estávamos com o resultado na mão, soubemos que ele só seria liberado depois que falasse com um neurologista. Ou seja, só amanhã de manhã.
Eis que começamos uma nova saga: conseguir uma maca, para que ele pudesse dormir. Depois de apelar para a chefe da enfermaria, utilizar do argumento de poder, me colocando como uma colega, coordenadora de um outro serviço, consigo uma maca. Porém não há chão para colocá-la. Sim! Não tem um espaço vazio que caiba essa maca! Tive que disfarçar os olhos enxarcados, que traziam uma mistura de indignação, compaixão e desespero mesmo. Afastei umas cadeiras, falei mais alto e coloquei a danada da maca entre as cadeiras.
Depois disso, me encaminho ao serviço social do hospital, para falar sobre o caso e para solicitar que, na manhã seguinte, alguém pudesse encaminhar o paciente ao médico, uma vez que o paciente não conseguiria chegar ao médico sozinho. A assistente social me disse que era IMPOSSÍVEL FALAR EM ATENDIMENTO PARTICULARIZADO. Eu tentei falar mais sobre o caso, coloquei que ele era morador de rua, não tinha referência familiar, não tinha ninguém... e ela (também embrutecida) me disse que não poderia fazer nada. Como não? Perguntei ainda como eles lidam com moradores de rua e ela disse, simplesmente, que eles não lidam. Os moradores ficam jogados por lá até serem atendidos... quando? Não se sabe!
Aí, inicio um outra luta. Conseguir alguém que pudesse estar no HGV amanhã para dar esse suporte. Liguei para Gerente do Distrito, às 22h, e felizmente ela me atendeu. Me escutou, apoiou, autorizou que pagássemos hora extra a um redutor de danos, para que fosse feito esse acompanhamento. Uma luz no final do túnel. Alguém ainda preserva humanidade, sensibilidade... agradeci tanto que acho que ela estranhou. Afinal de contas, não estava fazendo mais do que cumprir a sua função. Mas, num serviço de saúde embrutecido, de pessoas que precisaram embrutecer... ela foi hoje um pingo de esperança. Que bom!
Cheguei em casa às 23:30... isso mesmo! De 07:30 às 23:30 na rua. Morta! Mas não consigo pensar em dormir. Muitas imagens na cabeça, muitos sentimentos misturados. Muita tristeza sim. É muito ruim pensar nas pessoas que estavam naquele corredor. Nas histórias que ouvi. Penso também em “Seu fulano” (meu paciente). Em como ele deve estar, naquela maca, entre cadeiras. Queria poder fazer mais. Queria poder ajudar mais. Como dói não poder fazer mais. O sentimento agora ainda é de tristeza... só espero conseguir transforma-lo em força e resistência. Porque é preciso sim, mesmo diante de tantas adversidades, tentar não embrutecer.
Balanço...
Voltei de viagem há um pouco mais de uma semana, mas ainda me sinto aí... nessa janela; quase uma parte dessa paisagem. Como de costume, voltei do Rio cheia de desejos e promessas. As mais variadas...
Voltar a escrever – blog criado! Ainda com poucas postagens, mas está aqui!
Fazer regime – hoje faz uma semana, com uma pequeeeena folga na Páscoa!
Voltar a ter um dia para Lucas – ainda não conseguimos delimitar um dia. Mas estamos conseguindo ter momentos mais nossos.
Procurar estar mais com os amigos – até tentei, mas, como passei uma semana fora, preciso de uns dias a mais para me reorganizar. Consegui pouco.
Fazer atividade física – já agendei fazer caminhadas, em alguns dias, mas ainda não fiz nenhum. Falta disposição e companhia.
Desacelerar – ainda não sei como começar a fazer isso.
Enfim... escrever me fez ver como avancei pouco no cumprimento das minhas promessas, mas, de qualquer forma, escrever é também uma forma de reafirmar o meu compromisso comigo! Vamos ver...
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